Líderes da oposição confirmaram reunião, nesta terça, em Brasília, para discutir uma estratégia para enfrentar Bolsonaro em meio à convocação de um ato contra o Congresso.
Por Redação, com agências de notícias - de Paris
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou, nesta terça-feira, sua contrariedade com um possível pedido de impedimento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Lula disse, a jornalistas suíços, que é preciso esperar pelos quatro anos de mandato de Bolsonaro. Ao receber o prêmio de cidadão honorário de Paris, Lula conversou com a reportagem do diário suíço Le Temps.
— Eu tenho alertado o PT ter paciência, porque nós temos que esperar quatro anos", disse. "A não ser que ele (Bolsonaro) cometa um ato de insanidade, cometa um crime de responsabilidade, a gente então possa fazer o impeachment dele, mas se não fizer isso, nós não podemos achar que nós podemos derrubar um presidente porque não gostamos dele. Não podemos — declarou.
Líderes da oposição confirmaram reunião, nesta terça, em Brasília, para discutir uma estratégia para enfrentar Bolsonaro em meio à convocação de um ato contra o Congresso. Alguns parlamentares chegaram a defender, na semana passada, que se pedisse o impeachment do presidente, mas é uma posição minoritária. A maioria entende que não há apoio popular para uma medida como essa.
Sem discurso
Para Lula, a esquerda perdeu o discurso em todo o mundo.
— Nós perdemos o discurso e em alguns lugares começou a se usar a palavra ajuste fiscal e o Estado é muito pesado, é preciso abrir o Estado. E o Estado ao invés de se transformar numa coisa cada vez mais forte, pública, se transformou cada vez mais numa coisa mais fraca privada. Então eu acho que a esquerda tem que reconstruir o seu discurso, e por isso que eu estou botando a questão da desigualdade como um tema prioritário — afirmou.
O ex-presidente também falou sobre o teor do discurso que fará nesta segunda durante a homenagem que receberá em Paris.
— Eu vou falar das desigualdades e de mostrar o que acontece neste momento com a democracia brasileira. Eu vou te contar uma coisa, eu cometi um erro muito grave no Brasil, isso aos olhos da elite brasileira, que foi permitir que os pobres conquistassem um mínimo de cidadania, e por isso eles não perdoam e por isso esse processo todo de perseguição — afirmou.
Venezuela
Na entrevista, Lula saiu em defesa do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e chamou de farsante o autodeclarado presidente Juan Guaidó. Segundo o líder brasileiro, o presidente autodeclarado deveria ter sido preso.
— Eles (EUA e Europa0 não poderiam ter reconhecido um farsante que se autoproclamou presidente (Juan Guaidó). Não é correto, porque se a moda pega a democracia é jogada no lixo e qualquer picareta pode se autoproclamar presidente — afirmou.
Lula disse que poderia agora me autoproclamar presidente do Brasil, “mas e a democracia, onde vai? E a Constituição, vai para lixo?”, questiona.
— Então, veja, você percebe que quem está tomando a iniciativa de conversar é o Maduro não é o Guaidó. O Guaidó gostaria na verdade, até tentou forçar, sabe, que os americanos invadissem a Venezuela. Ele deveria ter sido preso e o Maduro foi tão democrático e não prendeu quando ele foi para a Colômbia tentar instigar a invasão da Venezuela —acrescentou.
Salgado
No giro pela Europa, Lula também se encontrou, em Paris, com o premiado fotógrafo Sebastião Salgado.
“Com o companheiro Sebastião Salgado hoje em Paris. Tivemos uma boa conversa sobre a Amazônia, desenvolvimento sustentável, a riqueza da biodiversidade brasileira e os desafios para lutar pela sua preservação”, escreveu Lula, ao compartilhar uma foto, no Twitter.