"Quando a democracia falha em garantir o bem-estar dos cidadãos, prosperam figuras que vendem soluções simplistas para problemas complexos, semear a desconfiança no processo eleitoral e nas instituições políticas", escreveu.
Por Redação - de Brasília
No dia em que recebeu, no Palácio do Planalto, o premiê espanhol, Pedro Sánchez, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) publicou nesta quarta-feira um artigo no diário conservador espanhol El País em que diz ser "preocupante" o aumento da extrema direita no mundo. Lula também destacou que, nos últimos anos, "um modelo econômico excludente tem concentrado renda e ampliado as disparidades", criando "terreno fértil para o extremismo”.
"Quando a democracia falha em garantir o bem-estar dos cidadãos, prosperam figuras que vendem soluções simplistas para problemas complexos, semear a desconfiança no processo eleitoral e nas instituições políticas", escreveu.
O presidente afirmou, ainda, que "estamos vivendo profundas mudanças na ordem internacional que desafiam nosso senso de humanidade”.
"Em um mundo que gasta US$ 2,2 trilhões por ano em armamento, a paz ainda é o privilégio de alguns, enquanto as guerras causam destruição, sofrimento e a morte de inocentes. Em um mundo que produz riqueza no valor de US$ 105 trilhões por ano, mais de 735 milhões de pessoas ainda não têm o que comer”, acrescentou.
Democracia
Sobre o aumento também das "ferramentas tradicionais de desagregação social" da ultradireita, Lula citou "o autoritarismo, a violência, a precarização do trabalho, o negacionismo climático, o discurso de ódio, a xenofobia, o racismo e a misoginia". Apesar do recrudescimento da extrema direita, ponderou o presidente, "felizmente, nossas sociedades têm apostado em governos que acreditam que a chave para responder aos ataques à democracia é melhorar a vida das pessoas".
Ao final do texto, o mandatário brasileiro ainda pede união das "forças progressistas do mundo". "Raramente na história o apoio entre as forças progressistas do mundo, como a aliança que mantemos com a Espanha, foi tão necessário e urgente como agora. É nossa responsabilidade trabalhar juntos para que a indiferença não prevaleça sobre o humanismo e para que as injustiças que se espalham dentro e entre os países dêem lugar à solidariedade e à cooperação”.
Nesta manhã, Sánchez chegou ao Palácio do Planalto pouco antes das 11h e foi recebido com cerimônia oficial. Após a reunião, ambos participarão de um almoço no Palácio do Itamaraty.
Pesquisa
Tanto o artigo no El País quanto o diálogo com Sanchez, da centro-esquerda espanhola, são pontos abordados pela pesquisa Quaest, divulgada nesta quarta-feira, a qual revela que 51% dos entrevistados aprovam o trabalho do presidente Lula (PT). Mas, 46% desaprovam sua gestão, principalmente nos segmentos sociais que apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de ultradireita. Segundo o levantamento, 3% dos entrevistados não souberam ou não responderam.
Comparado à pesquisa anterior, realizada em dezembro de 2023, a aprovação de Lula sofreu uma queda de três pontos percentuais. Naquele momento, 54% dos entrevistados aprovavam seu trabalho, enquanto 43% o desaprovavam.
Entre os evangélicos, segmento na base do reacionarismo, 62% desaprovam Lula, enquanto 35% o aprovam. Esse índice de desaprovação cresceu 6 pontos percentuais desde a última pesquisa, enquanto a aprovação diminuiu na mesma magnitude.
Israel
Diretor da Quaest, Felipe Nunes aponta uma razão para o aumento da rejeição a Lula entre os evangélicos: a fala do presidente que comparou o genocídio do povo palestino promovido por Israel ao Holocausto.
— A reação às falas de Lula comparando o que acontece em Gaza com o que aconteceu na 2ª Guerra Mundial parece dar boas pistas para explicar essa queda na avaliação do governo entre os evangélicos. Como já mostrado, 60% dos brasileiros consideram que Lula exagerou na comparação. Mas entre os evangélicos a rejeição à fala de Lula foi ainda maior: 69%! Ou seja, as declarações de Lula sobre Israel parecem ter ajudado a derrubar a avaliação do governo entre evangélicos, o que parece ter levado a avaliação ao seu nível mais baixo na série histórica — resumiu Nunes, em conversa com jornalistas.