Marcelo Itagiba, que também ocupou o cargo de superintendente da Polícia Federal no RJ, falou com o jornal no início da tarde, quando as estatísticas atualizadas da megaoperação apontavam mais de 110 mortos.
Por Redação – do Rio de Janeiro
“A situação é de guerrilha urbana com territórios ocupados por inimigos que impõem terror à população, o que exige enfrentamento contínuo e permanente para libertá-la dos criminosos.” A afirmação foi feita ao Correio do Brasil pelo delegado aposentado da Polícia Federal (PF) Marcelo Itagiba, ex-secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira, um dia após a megaoperação nos Complexos do Alemão e da Penha, na zona norte da cidade, que envolveu mais de 2,5 mil policiais civis e militares.

Marcelo Itagiba, que também ocupou o cargo de superintendente da Polícia Federal no RJ, falou com o jornal no início da tarde, quando as estatísticas atualizadas da megaoperação apontavam mais de 110 mortos, entre os quais quatro policiais – dois civis e dois militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) –, 81 presos e 98 fuzis apreendidos.
— Na ação em que os criminosos estavam armados com quase 100 fuzis, os que se renderam foram presos; enquanto os que enfrentaram as forças de segurança do Estado morreram e mataram quatro bravos policiais que, para tristeza inconsolável de suas famílias, perderam a vida defendendo a sociedade do Rio de Janeiro — afirmou o delegado federal.
Bolhas
O ex-secretário de Segurança Pública rebateu as críticas feitas à megaoperação. “Estou cansado de especialistas que só sabem criticar e reclamar da letalidade das ações policiais, como se fosse possível recuperar os territórios ocupados sem enfrentar os guerrilheiros fortemente armados que se colocam contra a lei e a ordem”, disse.
Segundo Marcelo Itagiba, “a grande maioria desses comentaristas vive em suas bolhas e só enxerga o mundo ideal, enquanto a realidade é violenta, injusta e oprime as pessoas mais humildes, que são humilhadas e exploradas economicamente”.
Desde que ocupou a Superintendência da PF e a Secretaria Segurança Pública do Rio, Itagiba sempre defendeu a formação de uma força-tarefa integrada pelas polícias estaduais, a PF e as Forças Armadas para o enfrentamento permanente ao crime organizado. No ano de 2004, ele, inclusive, foi a Brasília e entregou um plano de ações conjuntas ao governo federal, que, por razões políticas, não abraçou a iniciativa.
— Somente com essa engrenagem nacional de segurança pública o Brasil irá ter o controle da entrada de armas, munições e drogas por suas fronteiras, reduzir o poder bélico dos criminosos e retirá-los de circulação — acrescentou.
Crime organizado
Segundo o delegado, é desnecessária a implementação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica fortaleçam suas ações nas fronteiras terrestres, marítimas e aéreas e, assim, participem conjuntamente com as polícias do combate ao crime organizado.
Itagiba disse ainda que, para se alcançar a libertação definitiva das comunidades que vivem em territórios ocupados pelo crime organizado, não bastam as ações policiais contínuas e permanentes. De acordo com o delegado, é fundamental a presença efetiva do Estado em diversas áreas.
— Além de escolas, creches, água, luz e sistema de escoamento de esgoto, é preciso levar o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública para as comunidades, instalando juizados especiais cíveis e criminais e varas comunitárias especializadas em regularização fundiária, para consolidar os moradores como os verdadeiros donos das comunidades — concluiu Itagiba.