As investigações da PF coloca Freire Gomes como um dos comandantes das Forças Armadas que se recusaram a assinar o decreto que instauraria o Estado de Defesa, medida aprovada pelo então presidente, Jair Bolsonaro (PL).
Por Redação – de Brasília
Militares indiciados pela Polícia Federal (PF) no inquérito sobre o golpe de Estado fracassado no 8 de Janeiro articulam uma linha de defesa que aponta o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, como responsável pelo ato golpista. A movimentação foi relatada, nesta quarta-feira, à rede norte-americana de TV CNN.
As investigações da PF coloca Freire Gomes como um dos comandantes das Forças Armadas que se recusaram a assinar o decreto que instauraria o Estado de Defesa, medida aprovada pelo então presidente, Jair Bolsonaro (PL). O general, segundo a apuração, chegou a ameaçar prender Bolsonaro caso ele insistisse na ideia. Outro militar que também teria se negado a assinar o documento foi o comandante da Aeronáutica, Baptista Júnior.
Esse grupo de militares indiciados, incluindo o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, no entanto, contesta as afirmações. Aos seus advogados, eles alegam que o episódio nunca ocorreu da forma descrita e que as próprias investigações sugerem que Freire Gomes foi omisso em momentos críticos dos acontecimentos.
Freire Gomes, segundo seus detratores, teria exercido uma “resistência passiva” durante as semanas que sucederam a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais. Segundo essas fontes, o general nunca advertiu os envolvidos para que interrompessem ações golpistas e, caso fosse contrário ao movimento, sua inércia poderia configurá-lo como prevaricador — crime que se refere ao descumprimento de deveres funcionais por parte de servidores públicos.
Protestos
A demora na desmobilização das manifestações realizadas em frente aos quartéis do Exército por apoiadores de Bolsonaro é outro ponto de atrito. Os militares afirmam que, em lugar de agir para conter os protestos, Freire Gomes teria incentivado as mobilizações. Eles citam uma nota conjunta dos comandantes das Forças Armadas, assinada em 11 de novembro, que foi interpretada como um estímulo à continuidade das manifestações.
As acusações também envolvem um episódio ocorrido em 29 de dezembro de 2022, quando o Comandante Militar do Planalto teria tentado remover manifestantes bolsonaristas acampados em frente ao Quartel-General em Brasília. Segundo os relatos, Freire Gomes impediu que a ação fosse realizada.
As investigações, que já geraram intensa repercussão política, ainda precisam esclarecer as responsabilidades de diferentes figuras públicas e militares na tentativa de golpe. Enquanto isso, a articulação dos indiciados revela o clima de tensão entre os próprios membros das Forças Armadas e reforça o impacto de decisões tomadas — ou não tomadas — durante a transição de governo.