Segunda, 01 de Novembro de 2021 às 11:45, por: CdB
A mesma imprensa que hoje repudia os ataques violentos de Bolsonaro, apoiou o então candidato neofascista e os desdobramentos ilegais da Operação Lava Jato. “Prestar solidariedade aos colegas jornalistas não se revela tão importante quanto um chamamento à reflexão", ressalta o jornalista Fábio Lau.
Por Redação - do Rio de Janeiro
Os recentes ataques perpetrados pelo mandatário neofascista Jair Bolsonaro (sem partido), em suas férias pela Itália, causou uma onda de protestos no Brasil por parte das instituições representativas dos jornalistas e dos meios de comunicação. Mas é fato também que a mídia conservadora apoiou o então candidato e os desdobramentos ilegais da Operação Lava Jato, que afastou da corrida eleitoral o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preferido então pela maioria dos eleitores segundo as pesquisa eleitorais.
Para a ABI, o comportamento avesso à democracia e ataques constantes à imprensa e ao trabalho dos jornalistas por parte de Bolsonaro acabam estimulando agressões como essas, na Itália. A OAB também frisou que o episódio reflete o seu “frequente desrespeito” ao trabalho da imprensa.
De acordo com o advogado Marcelo Uchôa, professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) e integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD-Núcleo Ceará), também frisou que os jornalistas são uma das categorias “mais violentadas” pelo atual governo.
Vergonha
Uchôa também comentou a participação apagada do Brasil na reunião de cúpula do G20, como consequência do isolamento internacional de Bolsonaro.
— Lamentavelmente, nos envergonha a forma com que o Brasil está chegando nos fóruns internacionais. Por conta de Bolsonaro, o país chega acanhado, intimidado, desmoralizado, tentando chamar a atenção através da brutalidade — disse nesta segunda-feira, em entrevista à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA).
Durante a reunião do G20, Bolsonaro manteve apenas breves contatos com os presidentes da Argentina, Alberto Fernández, e da Turquia, Recep Erdogan. Afora isso, o brasileiro foi flagrado contando piada a garçons italianos que trabalhavam no evento. Nem sequer compareceu para a foto oficial do G20, quando os líderes mundiais se reuniram em frente à Fontana di Trevi, tradicional cartão postal da capital italiana.
— Ninguém queria estar junto dele — constata o advogado.
Para qualquer líder internacional, seria como posar ao lado de 607 mil mortos vítimas da pandemia no Brasil, disse Uchôa.
— Estamos passando vergonha — ressaltou.
Desinformação
Outro exemplo do maniqueísmo jurídico em curso, o país, é o que Uchôa classifica como “completamente esdrúxula”, no caso, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que recusou o pedido de cassação da chapa Bolsonaro-Mourão. O tribunal reconheceu a existência de uma organização criminosa que atuou para disseminar desinformação durante as eleições de 2018.
Mas, de acordo com os magistrados, não havia provas de que a chapa vencedora se beneficiou dessa estratégia. Apesar de os ministros alegarem que não vão tolerar práticas desse tipo nas eleições do ano que vem, o advogado alerta para a abertura de “precedente negativo”, em função da decisão pela absolvição.
O jurista ainda apontou como “casuísmo” os rumores sobre a criação do cargo de senador vitalício para ex-presidentes. Segundo ele, trata-se de uma tentativa de “blindar” Bolsonaro, já que a função conferiria a ele imunidade parlamentar e prerrogativa de foro. “Acredito que a sociedade brasileira se colocaria em peso contrariamente a essa tentativa de escapar da Justiça. Ele não tem o menor compromisso com a democracia, sabe que cometeu crimes e precisa pagar”, declarou.
Reflexão
O jornalista Fábio Lau, editor do site de notícias Conexão Jornalismo, em editorial “há tempos disse que faltava muito pouco para jornalistas começarem a apanhar de Bolsonaro”.
“Me referia às humilhações impostas na zona do curral. Eis que as previsões se confirmaram. E nem foi em território nacional, em quadrado destinado ao gado, mas no exterior e diante de dirigentes de todo o mundo civilizado”.
“Prestar solidariedade aos colegas jornalistas não se revela tão importante quanto um chamamento à reflexão. Alguém nas redações desconhecia o quanto o atual presidente era antidemocrático? O quanto defenestrava jornalistas - especialmente mulheres? E por que, mesmo cientes deste atropelo civilizatório, a nossa imprensa preferiu Bolsonaro a Fernando Haddad - escondendo suas mazelas, as raspadinhas, suas ligações criminosas e etc?”, questiona.
“A gente pode falar muita coisa sobre Bolsonaro. Menos que ele nos surpreendeu”, concluiu.