Rio de Janeiro, 25 de Novembro de 2024

Governos de extrema direita tendem a promover aumento da violência

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Quarta, 06 de Fevereiro de 2019 às 13:05, por: CdB

A morte de Marielle, a saída de Jean Wyllys do país e as ameaças a Dani Monteiro e ao deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), entre outras pessoas, “são sinais de barbárie da sociedade brasileira, de precariedade democrática, clima do vale tudo e truculência”, afirma Chico Alencar.

 
Por Redação - do Rio de Janeiro
  A chegada ao poder das forças de ultradireita, para o historiador Chico Alencar, ex-deputado federal pelo Psol do Rio de Janeiro, representa “uma escalada da violência política no Brasil, e os vitoriosos na eleição de 2018 simbolizam quase um aval para que essa violência cresça ainda mais”.
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O historiador Chico Alencar prevê um grave aumento na violência pelas ruas do país
Após quatro mandatos como deputado federal, Alencar optou, em 2018, por se candidatar a uma vaga no Senado, onde seu partido não tem nenhum representante. Embora tenha obtido 1.281.373 votos, não foi eleito, devido ao “tsunami da extrema-direita”, como disse na ocasião. Os eleitos no Rio foram Flávio Bolsonaro (PSL) e Arolde de Oliveira (PSD).

Milícia

A morte de Marielle, a saída de Jean Wyllys do país e as ameaças a Dani Monteiro e ao deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), entre outras pessoas, “são sinais de barbárie da sociedade brasileira, de precariedade democrática, clima do vale tudo e truculência”, diz Alencar à jornalistas da Rede Brasil Atual (RBA), nesta quarta-feira. — Isso aconteceu muito, guardadas diferenças de época e conjunturas, em países que transitaram para o fascismo e o nazismo — lembra o professor de História. Após a saída de Jean Wyllys do país, a agora deputada estadual Dani Monteiro (PSOL-RJ) foi ameaçada. Alencar lembra que, “na época da ditadura, do AI-5, o vice-presidente, que era um civil, Pedro Aleixo, falou que estava mais preocupado não com os generais governantes, mas com o guarda da esquina”. — A leitura que os grupos truculentos, paramilitares, fazem, é a da liberdade não só para quebrar a placa de Marielle em ato público, com aplauso daquele que veio a ser governador do Rio, Wilson Witzel (PSL), ou essa tentativa de intimidação da Dani. Tudo isso faz parte desse clima. E o próprio Bolsonaro não saiu do discurso de campanha. Faz questão de reafirmar as posições sectárias. Estimula, mesmo, gente que não tem argumento, não tem conteúdo, mas tem truculência. Está autorizado, digamos assim, como licença para matar — afirmou Alencar.

Punitivismo

Quanto ao projeto apresentado por Sérgio Moro, atual ministro da Justiça, Alencar se diz “muito preocupado”. — (O projeto) vai na linha punitivista, como se a questão da violência e da corrupção se resolvesse com o agravamento de penas, quando na verdade é com a eficiência da Justiça e, no caso da violência, com a justiça social. Mas temos um arcabouço jurídico em vigor, que dá muito peso para a punição de corrupção. Quanta gente já foi ou está presa? — questiona. Para Chico Alencar, “não é a questão punitiva, é mais controle social, mais transparência, no caso da corrupção. E no caso do crime organizado, é desorganizá-lo e tirá-lo do aparato de Estado. Mas com um presidente que tem relações amistosas com milicianos, fica difícil. Acho que o Moro não viu isso ainda”.

Democracia plena

Embora analistas afirmem que as instituições estão em pleno funcionamento, país, há controvérsia nesse sentido. Chico Alencar acredita que tal afirmação “virou um lugar-comum enganoso. A democracia pode ser um regime formal e banal, com eleições bienais que não representam autenticamente a vontade do povo. Veja só, agora quem preside a Câmara e o Senado são dois membros do DEM”. — Na verdade, o que está funcionando é o arranjo de uma República pouco republicana, de grupos econômicos que acabam controlando a política e até as vistorias em barragens, vide a desgraça que aconteceu em Brumadinho — afirmou. A Justiça, segundo o ex-parlamentar, “não faz plena Justiça, mas está funcionando”. — Os partidos políticos existem, mas são sopa de letrinhas para brigar por interesses inconfessáveis, muitas vezes. Mas tem pluripartidarismo. O Congresso está aberto, os executivos estão aí, iniciando novos governos eleitos. Mas isso não quer dizer que estamos em uma democracia plena, de jeito nenhum — concluiu.
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