Houve 19 operações imobiliárias do parlamentar na Zona Sul do Rio de Janeiro e na Barra da Tijuca, segundo levantamento do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), vazado para a mídia conservadora.
Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro
Em vídeo divulgado na internet, nesta segunda-feira, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) chora e enxuga as lágrimas com a bandeira nacional, sem uma palavra sequer sobre o motivo da reação extremada. Nos últimos dias, o primogênito do presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem sido alvo de uma série de denúncias quanto aos seus negócios milionários.
“Flávio Bolsonaro entrou definitivamente na alça de mira da cobertura midiática relevante com as trapalhadas que cercaram o caso do motorista Queiroz”, comentou o jornalista Luís Nassif, em sua página na internet. “Não bastou a falta de explicações. Teve que agravar o quadro fugindo dos depoimentos ao Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro (MPE-RJ), internando Queiroz no mais caro hospital do país, e, finalmente, recorrendo ao Supremo Tribunal Federal (STF) para trancar a Operação Furna da Onça, que investiga a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Ainda segundo Nassif, “nas próximas semanas haverá uma caçada implacável aos negócios dos Bolsonaro. A revelação, pelo Jornal Nacional, de uma operação de R$ 1 milhão – ainda sem se saber quem é o beneficiário – muda drasticamente a escala das suspeitas”.
Apartamentos
Houve 19 operações imobiliárias do parlamentar na Zona Sul do Rio de Janeiro e na Barra da Tijuca, segundo levantamento do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), vazado para a mídia conservadora.
Em novembro de 2010, a MCA Participações, que tem entre os sócios uma firma do Panamá, adquiriu 7 de 12 salas e um prédio comercial, que Flávio havia adquirido apenas 45 dias antes. Obteve, com isso, um lucro de R$ 300 mil.
Em 2012, no mesmo dia, Flávio comprou dois apartamentos. Menos de um ano depois, revendeu lucrando R$ 813 mil apenas com a valorização. Em 2014 declarou à Justiça Eleitoral um apartamento de R$ 566 mil. Em 2016 o preço foi reavaliado para R$ 846 mil. No fim do ano, a compra foi registrado por R$ 1,7 milhão. Um ano depois, revendeu por R$ 2,4 milhões.
“Ou seja, não se trata apenas de pedágio pago pelos assessores políticos, dentro da lógica do baixo clero. As investigações irão dar inexoravelmente nas ligações dos Bolsonaro, particularmente Flávio, com negócios obscuros por trás dos quais há grande probabilidade de estarem as milícias do Rio de Janeiro”, avalia Nassif.
Milícia
O envolvimento do senador Bolsonaro em questões polêmicas, no entanto, não se restringe à questão dos depósitos irregulares de Queiroz, na Operação Furna da Onça. O parlamentar é suspeito, ainda, segundo a Operação Quarto Elemento, também do MPE-RJ, que investiga a maior milícia do Estado, em atuação na Zona Oeste do Rio.
Ao todo, foram presas 43 pessoas. O maior negócio da quadrilha era a extorsão. A ala Administração atuava na 34ª DP (Bangu), 36ª DP (Bangu) e na Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA) de Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Identificavam pessoas que seriam alvos de operações e iam na frente, para extorqui-las.
Foram detidos 23 policiais civis, cinco policiais militares, dois bombeiros e um agente penitenciário.
Marielle
O líder da organização é Wellington da Silva Braga, o Ecko, que assumiu o comando depois da morte de seu irmão Carlinhos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes. Outros irmãos participavam da quadrilha, incluindo Luiz Antônio Braga, Zinho, dono de uma empresa, a Macla Extração e Comércio de Saibro.
"O mapa ao lado é incipiente", sublinha. "Foi montado exclusivamente com informações divulgadas pela imprensa do Rio, especialmente jornais O Dia, Extra e G1 e mostra a abrangência de atuação da milícia".
Carlinhos Três Pontes era o cappo da milícia. Morto, foi substituído pelo irmão Wellington da Silva Braga, secundado pelos também irmãos Wallace e Luiz Antônio, conhecido como Zinho.
Vamos ao jogo de relacionamentos:
Zinho é o principal suspeito de ter contratado o assassino da vereadora Marielle Franco. Na campanha, o ato de maior impacto foi o do futuro governador do Rio, Wilson Witzel, comemorando dois brutamontes arrebentando a placa com o nome de Marielle.
Na operação foram presos os irmãos gêmeos, PMs Alan e Alex Rodrigues de Oliveira, que atuavam como seguranças de Flávio Bolsonaro na campanha de 2018. Flávio defendeu-se tratando-os apenas como voluntários sem maiores ligações. Fotos no Twitter desmentiam, mostrando intimidade ampla dos Bolsonaro – pai e filho – com os irmãos.
Três PMs membros da organização, e detidos pela operação – Leonardo Ferreira de Andrade, Carlos Menezes de Lima, Bruno Duarte Pinho – , foram alvos de moções de louvor e congratulações de Flávio, quando deputado estadual. Dizia a moção:
Líder do PT na Câmara, o deputado federal Paulo Pimenta (RS) quer a quebra do sigilo bancário do senador eleito Flávio Bolsonaro, do seu ex-motorista e assessor Fabrício Queiroz e dos seus familiares. Ele diz que as transações financeiras atípicas apontadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) podem ir além das suspeitas de apropriação de parte dos salários dos assessores e revelar relações da família Bolsonaro com negócios de milicianos no Rio de Janeiro.
— Não estamos aqui falando sobre o depósito de dinheiro de servidores na conta de colega. Não estamos falando de venda de carros. Estamos falando de algo muito maior, que pode ter conexões com o crime organizado. Quando forem abertas essas contas e pudermos conhecer a movimentação delas nos últimos dez anos, nós vamos encontrar coisas que ninguém imagina: o subterrâneo do financiamento desse esquema que envolve uma relação íntima entre o crime no Rio de Janeiro e essa família — diz Pimenta, em vídeo publicado nas redes sociais.
‘Arapuca’
Em entrevista à TV Record, na noite passada, Flávio Bolsonaro voltou a negar que tenha praticado algum crime, mas as respostas seguiram um roteiro insólito. Quanto à ausência no depoimento agendado pelo Ministério Público do Rio, limitou-se a dizer que não foi porque temia uma “arapuca".
O senador Bolsonaro afirmou aos jornalistas que o título de cerca de R$ 1 milhão pago à Caixa Econômica Federal deve-se ao financiamento deste imóvel (imóvel que alega ter financiado pela Caixa). Segundo afirmou, teria recebido a quantia em dinheiro devido à venda deste imóvel e que depositou o valor na própria conta. Segundo ele, foram depósitos de R$ 2 mil por esse ser o limite no caixa eletrônico.
O senador eleito alegou, ainda, que as provas foram produzidas ilegalmente, pois ele teria foro especial perante o Supremo e que o Ministério Público do Rio produziu provas ilegalmente. O relator do caso, ministro Marco Aurélio Mello, decidirá sobre a competência da corte com o fim do recesso, que se encerra no dia 31 de janeiro.
Sobre o depoimento em que o senador se ausentou, a matéria ainda informa que "Flávio Bolsonaro disse que não sabia, caso prestasse depoimento ao órgão, se estaria indo para uma "arapuca" ou para conversar com pessoas que avaliariam o caso com isenção."
Sem resposta
Para o líder do grupo de extrema-direita Movimento Brasil Livre (MBL), que apoiou a eleição do atual presidente, o deputado federal Kim Kataguiri afirmou, em mensagem na internet, que a situação do senador Flávio Bolsonaro é “indefensável".
— Não tem como defender. Não existe resposta plausível para que isso esteja dentro da legalidade. Isso atrapalha o governo Bolsonaro, atrapalhada todo esse processo de renovação e esperança que a gente vinha tendo das eleições do ano passado. É uma extrema decepção — disse.
Ainda segundo o deputado neofascista, ”muitas vezes a gente tem criticado duramente a imprensa, que muitas vezes divulga notícias falsas”.
— Mas agora é um relatório do Coaf, que existe, não foi criado pela imprensa, não foi criado pela Globo, não foi criado pelo Jornal Nacional — acrescentou.
‘Canalha’
A resposta a Kataguiri foi quase imediata. De acordo com o segundo filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), em mensagem no Twitter, “Quando falo do ‘isentão’, são os que mentem para você diariamente em benefício próprio para obter alguma vantagem! Como já fizeram no passado ao venerarem Dória, Rocha, Alckmin…
“Esse tipo só quer que inocente pague sua palestra! São (x)s “prostitutas de qualquer sistema! Fazer política é uma coisa, ser canalha e oportunista abusando da inocência de muitos é outra bem diferente!”, acrescentou.
Em uma outra mensagem, na mesma rede social, no entanto, o general Paulo Chagas, que disputou o governo do Distrito Federal, começou a vocalizar a crescente insatisfação dos militares com a conduta dos filhos do presidente Jair Bolsonaro.
Filhos
"O Brasil não é uma Monarquia e a Família Bolsonaro não é a Família Imperial. Os filhos do Presidente não são Príncipes Herdeiros. Temos que separar as coisas. Filhos são filhos, políticos são políticos. Não são herdeiros da "Cadeira Presidencial", nem membros do governo", disparou.
Para outro general, dessa vez o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, a insatisfação da caserna não deve chegar ao governo. “Isso não é um problema meu. Eu não vou me meter nisso, não falo sobre isso. Não vou me meter nesse negócio”, afirmou, em conversa com jornalistas.
De uma forma ou de outra, assim que assumir o mandato, no próximo dia 1º, o deputado federal reeleita Ivan Valente (PSol-SP) cobrará a cassação do mandato do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), deputado estadual no Rio de Janeiro.
"Flávio Bolsonaro só dá entrevista para emissora amiga. Record. Contou q pagou um apto de 1 milhão, depois vendeu e depositou na AL em 48 envelopes de R$ 2 mil. Queiróz faz rolo c/carro e ele c/Apt. Ele acha q o povo é trouxa. É caso de cassação de mandato no Senado. Conselho de Ética Já!", afirmou o pessolista no Twitter.