O governo brasileiro tem reclamado de entraves no comércio com a Argentina, que teria retomado medidas que dificultam a importação dentro do bloco. Bolsonaro disse, ainda, que as diferenças na visão econômica entre os países do bloco não impediram avanços e que os países continuarão atuando com “flexibilidade e pragmatismo”.
Por Redação - de Brasília
Em meio a outra crise em seu governo, dessa vez no Ministério das Relações Exteriores, o presidente Jair Bolsonaro usou sua fala na abertura da Cúpula do Mercosul, nesta quarta-feira, para criticar “impasses pontuais” entre os países vizinhos. Ele pediu soluções, para evitar que o bloco seja superado por outras organizações semelhantes, mesmo depois de enfraquecer a associação, em seus discursos.
— Não posso deixar de registrar preocupação com impasses pontuais entre os Estados-pares. Devemos deixar de lado essas discordâncias que pertencem a um passado que já foi superado. Precisamos trabalhar juntos para não sermos ultrapassados por outros mecanismos similares aos nossos. Queremos estar nas primeiras fileiras, não no pelotão de trás do desenvolvimento — disse.
O governo brasileiro tem reclamado de entraves no comércio com a Argentina, que teria retomado medidas que dificultam a importação dentro do bloco. Bolsonaro disse, ainda, que as diferenças na visão econômica entre os países do bloco não impediram avanços e que os países continuarão atuando com “flexibilidade e pragmatismo”, e cobrou que os quatro países — Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai — trabalhem mais “em defesa da democracia em nossa região”.
Diplomacia
Pouco antes do discurso de Bolsonaro, uma votação no Senado contrária à indicação do embaixador Fábio Marzano para ocupar o cargo de delegado permanente da missão do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU) abriu uma nova crise no governo. Diplomatas do Itamaraty avaliaram o fato como um recado direto ao chanceler Ernesto Araújo.
Na avaliação dos funcionários de carreira do Itamaraty, em conversa com o jornalista Jamil Chade, dono de um blog em um portal brasileiro, na web, é que a rejeição ao nome de Marzano amplia a pressão para que ele deixe o comando da política externa. “O embaixador é aliado do ministro, além de ser um defensor da atual política externa do governo Jair Bolsonaro”, anota Chade.
A interpretação de parte dos diplomatas ouvidos pelo jornalista é que a sessão não tratava apenas da indicação de Marzano, mas também questionava a gestão de Araújo à frente do Ministério das Relações Exteriores, além de apontar para fragmentação do apoio do governo no Senado. A votação — que registrou 37 votos contrários e apenas 9 favoráveis — foi concluída no fim da noite passada.
Ano tenso
“A derrota vem no pior momento possível. A vitória de Joe Biden nos EUA obrigará o governo a rever parte de sua estratégia internacional se não quiser ser marginalizado nos processos de decisões. Araújo ainda está enfraquecido depois de não conseguir reverter a decisão da ONU de barrar o Brasil de falar na cúpula da entidade, sobre o clima”, destaca Jamil Chade, no texto.
O jornalista ressalta, por último, que o próximo ano tende a ser tenso para o Itamaraty. Além da posse de Joe Biden na Presidência dos EUA, Chade ressalta que “2021 ainda pode ser o ano em que o Comitê de Direitos Humanos da ONU finalmente dará sua recomendação sobre a queixa dos advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro. É o Itamaraty quem conduz as respostas do Brasil aos peritos”.