A Polícia Federal (PF) apura o envolvimento de altos funcionários da Abin, designados já durante a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na obstrução de investigações sobre atividades de monitoramento ilegal conduzidas por Ramagem.
Por Redação - de Brasília
A crise aberta no setor de inteligência do país, com a investigação em curso para apurar possíveis irregularidades cometidas pelo deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), quando ainda exercia a direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), tende a levar à queda dos atuais diretores da autarquia, segundo análise de observadores próximos ao setor.
A Polícia Federal (PF) apura o envolvimento de altos funcionários da Abin, designados já durante a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na obstrução de investigações sobre atividades de monitoramento ilegal conduzidas por Ramagem. A PF alega que a Abin estaria dificultando o acesso a informações cruciais, sob o pretexto de proteger informações sigilosas.
A atitude da diretoria da agência levantou suspeitas junto à PF de que alguns diretores estariam mais preocupados com a exposição de práticas de espionagem clandestina do que com a segurança das operações secretas. As autoridades federais lançaram luz sobre a possível interferência da Abin no avanço das investigações durante a Operação Vigilância Aproximada, que investiga Ramagem, cujos detalhes foram revelados em um relatório encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Dados sensíveis
No âmbito da operação, os agentes federais descobriram que Ramagem se apossou, ilegalmente, de um telefone celular e um notebook de propriedade da agência, após se desligar do cargo. Os aparelhos estavam entre os objetos apreendidos nos endereços do suspeito de usar a agência para espionar opositores.
Em resposta aos questionamentos da mídia, a Abin alegou na véspera, em nota, que Ramagem perdeu o acesso ao sistema da agência em março de 2022, quando deixou o cargo para concorrer à Câmara e se elegeu pelo PL, mas não descartou a hipótese de acesso ilegal a dados sensíveis. Nos endereços do deputado, foram apreendidos ainda quatro computadores, seis celulares e 20 pen drives.
A PF cumpriu, nas últimas 24 horas, 21 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Brasília. Um deles, na Câmara, no gabinete do deputado. A investigação busca determinar se a Abin foi manipulada durante o governo Bolsonaro e se a direção atual, deliberadamente, agiu para dificultar o esclarecimento do caso.
Enquanto a Abin afirma colaborar com as investigações, as alegações da PF sugerem um possível envolvimento de integrantes da cúpula da agência em práticas obstrutivas.