A primeira reação de Bolsonaro – em plena crise, no início da tarde passada – foi dizer que repudiava a ação do aliado. Ao mesmo tempo em que tentava manifestar “repúdio” a Jefferson, verbalizou no mesmo post sua campanha contra os tribunais superiores para agradar seus seguidores mais fiéis.
Por Redação, com RBA - de São Paulo
Diante do ato criminoso praticado, na véspera, por um de seus aliados mais próximos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não conseguiu esconder o impacto causado pela tentativa de assassinato cometida por Roberto Jefferson (PTB) contra policiais federais que tentavam cumprir um mandado de prisão. A reação inicial, desconexa e errática, de Bolsonaro e seus aliados diante do episódio violento, no pequeno município fluminense de Levy Gasparian, ilustra o impacto negativo causado pelo aliado em sua campanha.
— Uma das características do bolsonarismo nas redes é ‘parecer maior do que é’ a partir da produção de conexões. A ausência desse poder no atentado do aliado de Bolsonaro, Roberto Jefferson, reforça a hipótese de que o bolsonarismonão está sabendo lidar com o episódio — observou o analista de rede Pedro Barciela.
A primeira reação de Bolsonaro – em plena crise, no início da tarde passada – foi dizer que repudiava a ação do aliado. Ao mesmo tempo em que tentava manifestar “repúdio” a Jefferson, verbalizou no mesmo post sua campanha contra os tribunais superiores para agradar seus seguidores mais fiéis.
Atitude
“Repudio as falas do Sr. Roberto Jefferson contra a Ministra Carmen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP “, escreveu o mandatário. O resultado foi claramente contraditório.
O filósofo Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação, observou a contradição.
— É até difícil de acreditar que Roberto Jefferson tenha atirado em policiais que foram prendê-lo – e que o presidente, ao criticar sua atitude, tenha colocado no mesmo plano ele e os ministros do Supremo que ele ofendeu gravemente — disse Ribeiro, a jornalistas.
Um dia antes, Jefferson havia se dirigido à ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia com expressões impublicáveis e abjetas.
‘Padre’ Kelmon
Ainda de acordo com Pedro Barciela, os aliados do candidato à reeleição reagiram “cada um utilizando uma abordagem: “rifam Jefferson, defendem Jefferson, ignoram Jefferson, atacam o TSE”. O próprio Bolsonaro tentou negar o inegável. “Não tem uma foto dele comigo”, disse. Porém, imagens com os dois passaram a circular fartamente. A afirmação soou como uma mentira grosseria que não resistiu “a um Google”, como disse Barciela.
A participação do ministro da Justiça, Anderson Torres, nas negociações para a rendição de Jefferson e a presença do falso “padre” Kelmon na cena só confirmaram o vínculo com Jefferson. Diante do óbvio desgaste que aumentou durante o dia, Bolsonaro voltou às redes sociais com um post em que classificou o aliado de “criminoso”.
Em vídeo, disse que o ex-deputado teve “tratamento” de “bandido” após atirar em agentes da Polícia Federal.
— Como determinei ao ministro da Justiça, Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso. O tratamento dispensado a quem atira em policial é o de bandido — admitiu o mandatário, em pronunciamento pelas redes sociais.
Oportunidade
A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por sua vez, não perdeu tempo e capitalizou o desgaste do adversário. Já na noite passada, o comitê lulista começou a veicular um vídeo nas redes sociais com a exortação “chega de violência, chega de Bolsonaro”, para entrar como inserção na TV.
Entre os aliados bolsonaristas, porém, a confusão se ampliava nesta manhã. Ex-deputada federal e filha de Jefferson, Cristiane Brasil desabafou, junto a interlocutores, que teria “chumbo grosso” contra o presidente, a ser disparado após as declarações que visavam se afastar do então aliado.
Atual presidente do PTB, Marcus Vinícius Neskau já confrontou a afirmação de Bolsonaro, de que não é uma pessoa próxima ao criminoso.
— Os dois caras que mais defenderam o presidente nos últimos tempos foram o Daniel (Silveira) e o Roberto (Jefferson). Mas são coisas completamente diferentes. O Daniel tem condenação, Roberto não, ele está em PPP, "prisão preventiva perpétua" — resumiu Neskau, em recente entrevista à mídia conservadora.