Ainda segundo o senador Renan Calheiros (MDB-AL), "esse governo, mais que qualquer outro, tem sobejamente demonstrado que não quer ser investigado, não gosta de ser investigado, e reage toda vez da mesma maneira, com críticas, agressões, pedidos de fechamentos de poderes".
Por Redação - de Brasília
Ex-presidente do Congresso, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou, nesta segunda-feira, que tanto o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) quanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) podem ser responsabilizados pela conversa sobre o trabalho da CPI da Covid. No diálogo, Bolsonaro revelou a intenção de interferir na Comissão Parlamentar de Inquérito, no sentido de perseguir ministros do Supremo Tribunal Federal, governadores e prefeitos.
— Há crimes de lado a lado. Tanto do senador, que tentou pedir clemência a Bolsonaro, que não o nivelasse com ninguém da Casa, quanto do presidente da República ao estimular a ampliação do escopo da CPI e na tentativa de intimidação ao Supremo Tribunal Federal. Ninguém dispõe sobre o limite do escopo (da investigação) de uma CPI. Uma conversa cheia de ameaças, insinuação... — afirmou o parlamentar, a jornalistas.
Doença
Ainda segundo o senador do MDB, "esse governo, mais que qualquer outro, tem sobejamente demonstrado que não quer ser investigado, não gosta de ser investigado, e reage toda vez da mesma maneira, com críticas, agressões, pedidos de fechamentos de poderes".
O senador ressaltou, ainda, as condutas polêmicas de Bolsonaro durante esta pandemia.
— Minimização da doença, recusa para fazer pré-contratos para a compra de vacinas, estímulos seguidos a aglomerações, compra de oxigênio, que poderiam ser montados usinas para não permitir a escassez. Passar a limpo essa distribuição de cloroquina...Essas respostas terão que ser dadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito — acrescentou.
Amplitude
Enquanto o Brasil registrava o pior domingo desde o início da pandemia, Bolsonaro pensava em fazer “do limão uma limonada”. Em conversa com o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), divulgada pelo próprio parlamentar, Bolsonaro foi flagrado pressionando pela abertura de processos de impedimento contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Trata-se de uma retaliação à decisão do ministro Luís Roberto Barroso, que obrigou o Senado a instalar a CPI.
Para tentar desviar o foco da sua gestão diante da pandemia, Bolsonaro e senadores aliados também tramam ampliar o escopo da comissão, investigando também os governos estaduais e municipais.
— Se não mudar a amplitude, a CPI vai simplesmente ouvir o Pazuello, ouvir gente nossa, para fazer um relatório sacana. Por enquanto, é um limão que tá aí. Dá para ser uma limonada. Você tem de fazer do limão uma limonada. Tem de peticionar o Supremo para colocar em pauta o impeachment (de ministros) também — disse Bolsonaro, pressionando Kajuru a “espremer” os ministros da Suprema Corte.
Impedimento
Kajuru responde que já entrou com pedido de afastamento do ministro Alexandre de Morais. Também disse que ele e outros senadores pretendem investigar prefeitos e governadores. Avisado pelo senador que a conversa seria divulgada, Bolsonaro consentiu:
— Tudo bem, tudo o que falei está falado.
Na manhã desta segunda-feira, “Kajuru” e CPI da Covid” apareciam entre os termos mais citados do Twitter, somando juntas mais de 100 mil menções.
A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidenta da legenda, reforçou os argumentos de Calheiros ao classificar a conversa entre Bolsonaro e Kajuru como “escandalosa”. Para ela, a ofensiva contra governadores e prefeitos e os ataques ao STF servem para tentar “salvar a pele” do governo Bolsonaro.
— Temos de denunciar essa manobra — resumiu a parlamentar.