Domingo, 27 de Setembro de 2020 às 10:55, por: CdB
O conflito teria sido iniciado após rebeldes separatistas de Nagorno-Karabakh, apoiados pelo governo armênio, terem atacado forças do Azerbaijão que, por sua vez, responderam a ação com bombardeios.
Por Redação, com agências internacionais - de Yerevan e Baku
A Armênia decretou a lei marcial e mobilização geral na região autônoma de Nagorno-Karabakh neste domingo após bombardeios serem realizados na área por uma resposta militar do Azerbaijão. A região, que vive sob constante tensão desde o fim da década de 1980, registrou incidentes e ataques dos dois lados desde a noite passada.
O conflito teria sido iniciado após rebeldes separatistas de Nagorno-Karabakh, apoiados pelo governo armênio, terem atacado forças do Azerbaijão que, por sua vez, responderam a ação com bombardeios.
O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev, afirmou que seu país irá lançar ainda mais "golpes devastadores" contra os separatistas e que sairá "vencedor" da disputa. Já o premier armênio, Nicol Pashinyan, pediu para que todos "estejam preparados para defender a pátria porque nós vamos vencer”.
Sem paz
A região autônoma de Nagorno-Karabach fica no território do Azerbaijão, mas tem a maioria da sua população de origem armênia - além de contar com o apoio do governo de Erevã. Entre o fim da década de 1980 e o início da 1990, um conflito armado separatista terminou com mais de 25 mil mortos e uma indefinição política que dura até hoje.
As negociações de paz estão paradas há anos e não há previsão de uma solução pacífica para a área. A escalada da tensão no fim de semana colocou em alerta diversos governos internacionais, que estão dos dois lados do conflito. A Rússia pediu um "cessar-fogo imediato" entre os dois lados.
“Fazemos um apelo para que as partes façam um cessar-fogo imediato e que sentem à mesa para estabilizar a situação. (…) Bombardeios intensos estão ocorrendo ao longo da linha de contato", disse em comunicado oficial o Ministério das Relações Exteriores russo.
Mártires
Aliados históricos do Azerbaijão, os turcos também se manifestaram, mas atiçando ainda mais o conflito.
Segundo uma nota divulgada pelo governo de Recep Tayyip Erdogan e publicada pela agência turca de notícias Anadolu, a Turquia "condena com força o ataque armênio contra o Azerbaijão, que provocou vítimas civis" e que é "uma clara violação das leis internacionais". "O Azerbaijão defende a sua terra porque Karabakh lhe pertence", diz a nota em que "promete vingar o sangue dos mártires".
Já a União Europeia adotou uma linha de maior cautela e pediu o fim dos conflitos.
"As notícias sobre as hostilidades na zona de conflito de Nagorno-Karabakh nos causam grave preocupação. A ação militar deve cessar, com urgência, para evitar uma escalada do conflito. Um retorno imediato às negociações, sem pré-condições, é a única via a ser seguida", escreveu o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, em seu Twitter.
Papa Francisco
O Ministério das Relações Exteriores da Itália também se manifestou oficialmente e disse ter "preocupação com os graves combates na linha de contato entre as forças" dos dois países.
"A Itália pede às partes que cessem imediatamente a violência e iniciem todo o esforço, em particular sob o desejo da OSCE, para prevenir os riscos de uma escalada da violência", diz o comunicado.
Em Roma, o papa Francisco se reuniu com o patriarca Karekin II, chefe da Igreja Apostólica Armênia, no Vaticano neste domingo. O encontro ocorreu no dia em que a tensão entre separatistas armênios e o Azerbaijão aumentou consideravelmente por conta de bombardeios de ambos os lados na região de Nagorno-Karabakh.
Momento crítico
A imprensa vaticana não divulgou detalhes da reunião. No entanto, durante a cerimônia do Angelus, o Pontífice fez uma oração especial para a região.
— Chegaram preocupantes notícias de conflitos na área do Cáucaso. Rezo pela paz no Cáucaso e peço às partes do conflito que façam gestos concretos de boa vontade e de fraternidade que possam levar à resolução dos problemas não com uso da força e das armas, mas por meio do diálogo e da negociação — afirmou o papa.
Segundo a mídia armênia, o encontro deste domingo entre os dois líderes religiosos foi antecipado a pedido de Karekin II porque ele queria "voltar à pátria" para ficar próximo ao povo nesse momento crítico. Por conta do conflito, o Patriarca ainda interrompeu sua agenda que previa diversos compromissos tanto no Vaticano como na Itália.