Enquanto o casal Bolsonaro se calava, porém, na família Cid tanto o pai quanto o filho resolveram falar. Ambos abriram mão do direito a permanecer em silêncio e o testemunho do general durou cerca de duas horas.
Por Redação - de Brasília e São Paulo
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a mulher dele, Michelle, calaram-se perante os escrivães da Polícia Federal (PF), naquele que seria um depoimento coordenado entre os vários suspeitos de integrar uma quadrilha internacional, formada para a venda de joias furtadas do Erário. Eles compareceram à sede da Polícia Federal, às das 11h, simultaneamente aos outros seis investigados: o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid; o pai de Cid, o general da reserva Mauro Lourena Cid, ex-colega do ex-presidente na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman); o advogado da família Frederick Wassef; o ex-chefe de comunicação do governo Bolsonaro, Fabio Wajngarten e os ex-assessores Marcelo Câmara e Osmar Crivellati.
Enquanto o casal Bolsonaro se calava, porém, na família Cid tanto o pai quanto o filho resolveram falar. Ambos abriram mão do direito a permanecer em silêncio e o testemunho do general durou cerca de duas horas. Todos os depoentes são citados na investigação que apura a suspeita de desvios de “presentes de alto valor recebidos em razão do cargo pelo ex-presidente da República e/ou por comitivas do governo brasileiro, que estavam atuando em seu nome, em viagens internacionais, entregues por autoridades estrangeiras, para posteriormente serem vendidos no exterior”, segundo informe da PF.
As joias e os presentes pertencem, sem sombra de dúvida, ao Estado brasileiro. Não poderiam, portanto, ter sido incorporadas ao patrimônio pessoal de ocupantes do governo. A investigação aponta, no entanto, que o dinheiro da venda desses bens era repassado a Bolsonaro em espécie. O ex-presidente é o principal alvo da apuração de desvio de dinheiro público. As oitivas simultâneas, inclusive, fazem parte de uma estratégia chamada de “dilema do prisioneiro”. O objetivo é dificultar a combinação de versões e estimular a entrega de informações úteis para a investigação.
Mauro Cid
Os investigadores já têm certeza que uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) foi usada para levar as joias e os presentes, entre eles os relógios milionários, aos Estados Unidos. A PF também obteve mensagens que indicam que o dinheiro oriundo dessas vendas foi incorporado ao patrimônio pessoal do ex-mandatário neofascista. As conversas foram extraídas no celular de Mauro Cid, que se encontra preso desde maio em uma unidade militar por fraudes em cartões de vacinação.
O tenente-coronel aparece em todos os momentos do inquérito, desde a saída dos presentes do Brasil, a chegada nos EUA, o translado para lojas e a operação para resgatá-los. Cid também resolveu testemunhar, nesta quinta-feira, mas o teor de seu depoimento não foi divulgado, ainda. Ele é suspeito de ter vendido e recuperado os presentes a pedido do ex-chefe. A confissão também foi confirmada por seu advogado, Cezar Bitencourt.
Em respeito ao silêncio do casal Bolsonaro, a PF não o questionou se partiu dele a ordem para que Cid vendesse no exterior o relógio Rolex Date. Segundo as investigações, em 13 de junho do ano passado, Mauro Cid viajou para a cidade de Willow Grove (EUA), onde vendeu um Rolex pelo valor de US$ 68 mil. Esse dinheiro foi depositado na conta do pai de Cid. A operação envolve também o advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef. Cerca de nove meses depois, ele recuperou o relógio e o entregou novamente a Cid (filho), que retornou a Brasília e o transferiu para o então assessor Osmar Crivelatti.