Bolsonaro afirmou, erroneamente, que medidas de confinamento deixaram um “legado de inflação”, em especial nos gêneros alimentícios, atribuindo a governadores e prefeitos a decisão de obrigar as pessoas a ficarem em casa durante e pandemia. Os dados são altamente imprecisos.
Por Redação, com BdF - de Nova York, NY-EUA
Em seu discurso na abertura da 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a recomendar o uso “tratamento precoce”, composto por medicamentos sem eficácia contra a covid-19. Também afirmou, erroneamente, que medidas de confinamento deixaram um “legado de inflação”, em especial nos gêneros alimentícios, atribuindo a governadores e prefeitos a decisão de obrigar as pessoas a ficarem em casa durante e pandemia.
— Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial — disse Bolsonaro, na fala que durou pouco mais de 10 minutos.
O presidente afirmou respeitar a relação “médico-paciente” na decisão da medicação a ser utilizada contra a covid-19, defendendo inclusive o uso fora dos termos prescritos em bula.
— Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial. A história e a ciência saberão responsabilizar a todos — diz ele.
Vírus
Diante da defesa de medicamentos sem qualquer efeito sobre a covid-19, o diário norte-americano The New York Times publicou, nesta tarde, uma crítica frontal ao mandatário neofascista.
"O presidente Jair Bolsonaro do Brasil deu início à Assembleia Geral das Nações Unidas na terça-feira, defendendo o uso de drogas ineficazes para tratar o coronavírus e resistindo às críticas ao desempenho ambiental de seu governo", afirmou o NY Times.
De acordo com a publicação, Bolsonaro "liderou uma das respostas mais criticadas do mundo à pandemia". "Bolsonaro minimizou repetidamente a ameaça que o vírus representava, criticou as medidas de quarentena e foi multado por se recusar a usar máscara na capital".
"Seu governo demorou a garantir o acesso às vacinas contra o coronavírus, mesmo com o vírus sobrecarregando hospitais em todo o país. Covid-19 já matou mais de 590.000 pessoas no Brasil", continuou.
Impeachment
Bolsonaro também mentiu ao afirmar que as manifestações de 7 de setembro, de apoio ao governo federal, foram as “maiores da história”.
Os atos em favor do presidente foram visivelmente menores do que vários outros eventos anteriores, como os protestos contra a presidente Dilma Rousseff em 2015 e 2016 e as manifestações generalizadas em 2013. Em março de 2016, o Instituto Datafolha calculou o público do ato pelo impeachment na Avenida Paulista em 500 mil pessoas, o maior ato desde o movimento Diretas Já, em 1984. No 7 de setembro, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo estimou que 125 mil pessoas participaram da manifestação pró-Bolsonaro.
Bolsonaro também disse que o governo pagou auxílio emergencial de US$ 800 para 68 milhões de pessoas em 2020. E voltou a mentir, uma vez que nem todos os brasileiros receberam o mesmo valor. Outro ponto duvidável, no discurso do mandatário, é a informação de que 83% da energia no Brasil vem de fontes renováveis.
O dado está superestimado. O Brasil tem 44,9% de fontes renováveis em sua matriz energética. As informações constam do Balanço Energético Mundial 2020, distribuído pela Agência Internacional de Energia (IEA). O país tem o maior percentual entre as nações do G20. Logo atrás estão Indonésia (25%) e Índia (22%). A taxa do Brasil também supera a média mundial, de apenas 13,8% de energia renovável.