Questionado se CPMF “de jeito nenhum”, Bolsonaro disse que o tributo não pode ser uma proposta do governo.
Por Redação, com Reuters e Agências de Notícias- de Brasília
O presidente Jair Bolsonaro reafirmou na segunda-feira que o governo não vai insistir em um imposto nos moldes da antiga CPMF agora, mas afirmou que tanto o povo como o Parlamento podem discutir o tema.
- Eu decidi que não se toca mais nesse assunto, até porque é um imposto contaminado - disse Bolsonaro em entrevista ao Jornal da Record.
Questionado se CPMF “de jeito nenhum”, Bolsonaro disse que o tributo não pode ser uma proposta do governo.
- Você pode até falar da CPMF, deixar o povo discutir, deixar o Parlamento discutir, agora não pode ser uma proposta do governo, porque para você desfazer tudo que aconteceu no tocante à CPMF é quase impossível - disse.
- Nós não vamos insistir nesse imposto agora - completou.
Bolsonaro repetiu que a demissão de Marcos Cintra da Secretaria da Receita Federal se deveu à discussão pública sobre a CPMF, mas salientou que a exoneração foi feita pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
- A única interferência minha agora na Receita é que eu quero alguém da Receita para estar à frente da Receita - disse.
Na entrevista, o presidente disse também que irá usar o discurso na Assembleia Geral da ONU na próxima semana para reforçar a soberania do Brasil, assim como o potencial que o país tem e o que representa para o mundo.
Ao ser questionado sobre recente declaração de seu filho Carlos, que disse que por vias democráticas as transformações não ocorrerão na velocidade desejada, o presidente disse que ele falou o óbvio, porque a democracia é naturalmente mais lenta.
- Uma opinião dele, ele tem razão. Se fosse em Cuba ou na Coreia do Norte já não teria aprovado tudo quanto é reforma, né, sem Parlamento? Demora porque tem a discussão, isso é natural - disse.
- Muita gente nos pressiona como se tivesse o poder de influenciar o Parlamento brasileiro, não tenho esse poder e nem quero ter esse poder em nome da democracia - acrescentou o presidente.
Imposto e demissão de Cintra
Na última semana, o presidente em exercício, Hamilton Mourão, disse que foi do presidente Jair Bolsonaro a decisão de demitir o secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, por não ter gostado da discussão sobre a eventual criação de um imposto sobre movimentação financeira, espécie de nova CPMF, sem que tenha havido uma decisão do governo.
– É a questão do imposto de transação financeira que o presidente Bolsonaro não tem uma decisão a este respeito e ele acha que a discussão se tornou pública demais antes de passar por ele – disse Mourão, em entrevista na vice-presidência.
– Esse troço transbordou, já estava sendo discutido em rede social, essas coisas todas, e o presidente não gostou – completou.
Questionado se a queixa do presidente era sobre o fato de a discussão do novo imposto ocorrer sem decisão tomada ou do mérito em si, Mourão afirmou que “talvez o mérito também”.
– O presidente não é fã desse imposto – respondeu, em linha com o que, mais cedo, o próprio Bolsonaro disse em rede social ser contra uma nova CPMF.
Ao ser perguntado se Bolsonaro ainda tem de ser convencido sobre a necessidade do imposto, o presidente em exercício disse que o assunto tem de ser discutido, mas fez uma ponderação. Ele disse que, mesmo na hipótese de o governo se colocar a favor desse imposto, a definição dele ficará a cargo do Legislativo.
– Quem é que vai definir isso? É o Congresso, então acho que todo desgaste prematuro em torno disso aí não leva a nada porque tudo vai ser decidido pelo Congresso – destacou.
Mourão disse ter almoçado nesta quarta com o ministro da Economia, Paulo Guedes, a quem Cintra era subordinado. Disse ter conversado no encontro sobre a situação de Cintra, embora ainda não houvesse uma decisão sobre a saída do secretário.
– Ele (Guedes) compartilhou essa angústia com essa situação, mas disse: ‘vamos aguardar a decisão do presidente.’ Aí veio da decisão do presidente – afirmou.
O presidente em exercício relatou nunca ter conversado com Bolsonaro sobre uma eventual satisfação dele com Cintra.
– Eu considero o professor Marcos Cintra uma pessoa extremamente comprometida, competente. Ele tem as ideias dele e, óbvio, cada um nós que tem suas ideias que tem que defender até a decisão do decisor. Pode parecer até um pleonasmo isso aqui, mas é dessa forma que vejo as coisas – disse.