Bolsonaro, segundo as gravações, declarou guerra a Mourão. Bolsonaro apoia, na conversa com interlocutores, os ataques ao general.
Por Redação - de Brasília
Um almoço de Páscoa entre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o seu vice, o general Hamilton Mourão (PRTB), seria uma cena impensável diante do ambiente conflagrado, no núcleo do comando nacional. Áudios vazados a um dos diários conservadores cariocas, neste domingo, revelam que a tentativa de impedimento do segundo homem na fila da sucessão presidencial vai muito além de um rompante do pastor e deputado Marco Feliciano (Podemos-SP).
Lealdade
Bolsonaro, segundo as gravações, declarou guerra a Mourão. Bolsonaro apoia, na conversa com interlocutores, os ataques ao general, como parte de uma “estratégia para fazer frente aos movimentos de Hamilton Mourão, sem criar mais ebulição num governo que parece navegar em permanente efervescência: trata-se, na prática, de terceirizar ataques”, indica o jornalista Lauro Jardim, do diário conservador carioca O Globo.
“Bolsonaro tem estimulado alguns de seus líderes a descerem a borduna no vice”, acrescenta.
Jardim teve acesso “a um áudio de WhatsApp em que Bolsonaro lança algumas de suas marcas registradas verbais ("valeu aí" e "é isso aí") para agradecer e, mais grave, incentivar um aliado que lhe informara que vinha criticando Mourão nas redes sociais”.
“Em outro diálogo, com uma frase, Bolsonaro prevê que a batalha doméstica contra o companheiro de caserna vai perdurar pelos próximos três anos anos. Mais: dá a entender que pensa mesmo em disputar a reeleição. "Em 2022, ele vai ter uma surpresinha”, acrescenta.
‘Traição’
O deputado Marco Feliciano, no jogo de dama entre Bolsonaro e Mourão, age com desenvoltura, na Vice-liderança do Governo no Congresso, após ingressar com o pedido de impeachment do vice-presidente. Sob ordens veladas do comandante-em-chefe, os ataques de Feliciano foram disparados na véspera, em pleno Sábado de Aleluia, dia em que se costuma 'malhar o Judas’.
Feliciano insistiu, em entrevista à mídia conservadora, que vai insistir no impeachment de Mourão por "traição" a Bolsonaro.
— Não é possível que o vice-presidente da República contradite diariamente o presidente em público — justifica-se Feliciano.
Na outra ponta, no entanto, Mourão assegura seu compromisso com o governo e a lealdade ao presidente da República. Em recente palestra, em uma universidade norte-americana, Mourão assegurou à plateia que Bolsonaro seria “um democrata” e que trabalha para o seu sucesso.
Economia
Não é essa, porém, a visão de um correligionário do pastor Feliciano. Senador do Paraná, o ex-governador Álvaro Dias (Podemos-SP) já não esconde mais sua intenção de apear do governo ninguém menos do que o próprio Jair Bolsonaro.
Ele tem levantado, abertamente, na possibilidade do presidente ser alvo de um processo de impeachment por não conseguir equilibrar as contas públicas e tentar burlar a chamada regra de ouro, que impede que o governo faça dívidas para cobrir despesas correntes como salários.
— O governo inclusive corre o risco de sequer cumprir a lei da regra de ouro, dispositivo legal que impõe o impeachment do presidente. Provavelmente não vai cumprir a regra e buscará driblá-la para evitar o impeachment. Da forma como está se conduzindo na área econômica não vejo como superar essa dificuldade a médio prazo. Em 2019 e 2020, o governo certamente enfrentará dificuldades — disse o parlamentar, a jornalistas.
Militares
O senador também acredita que a influência do astrólogo Olavo de Carvalho, guru do presidente, deva ser reduzida, drasticamente.
— Ele (Carvalho) deveria influir mais nos Estados Unidos e deixar o Brasil de lado. Essa influência é negativa, uma influência que puxa para baixo, não acrescenta absolutamente nada e tumultua muito. Se ele se ausentasse, a ausência dele preencheria uma grande lacuna no governo — afirmou.
Dias, porém, não prega no deserto. Ao seu lado, militares da direita à extrema-direita têm conversado, segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil junto a fontes militares, sob condição de anonimato, no sentido de organizar um bloqueio à série de erros que identificam na gestão de Bolsonaro. E têm no senador paranaense, uma linha de comando no campo político.