Desde o domingo, quando em um arroubo contra a prisão do recém-aliado Roberto Jefferson, presidente do PTB, levou o mandatário a aventar um ataque à Suprema Corte, ministros mais próximos de Bolsonaro tentam demovê-lo da ideia de representar contra os ministros do STF.
Por Redação - de Brasília
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afinou o tom, nesta terça-feira, do discurso contra o Poder Judiciário. Ele alega reconhecer a independência do Legislativo e que não busca cooptar senadores para o apoio ao pedido de impedimento aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso e Alexandre de Morares. O pedido deveria chegar ao Senado ainda nesta semana, mas há muita pressão para que não cruze a rua entre o Parlamento e o Palácio do Planalto.
Desde o domingo, quando em um arroubo contra a prisão do recém-aliado Roberto Jefferson, presidente do PTB, levou o mandatário a aventar um ataque à Suprema Corte, ministros mais próximos de Bolsonaro tentam demovê-lo da ideia de representar contra os ministros do STF. Entre eles, o chefe da Casa Civil e líder do chamado ‘Centrão’, o senador licenciado Ciro Nogueira (PP-PI), e Flávia Arruda, ministra da Secretaria de Governo.
Ambos integram a ala política do governo e argumentam, internamente, que o gesto de levar ao Senado pedidos de afastamento contra os ministros, além de ser “inútil” do ponto de vista prático, tende a piorar a crise entre os Poderes. Nesta terça, no entanto, em entrevista a uma rádio de Cuiabá, Bolsonaro ainda repetia a intenção de levar adiante a denúncia contra os ministros do STF. Em um ponto de inflexão, porém, já sinaliza que não pretende atuar na tentativa de buscar apoio à intenção.
— Está com o senado agora. Independência. Não vou agora tentar cooptar senadores, de uma forma ou de outra, oferecendo alguma coisa pra eles, etc, para eles votarem o impeachment deles (ministros do STF). Não vou fazer como o ministro Barroso fez, do TSE, que foi para dentro do Parlamento, reunir com lideranças partidárias e após a reunião, no dia seguinte, a maioria das lideranças resolveu trocar os integrantes da comissão por parlamentares que votaram contrário à PEC do voto impresso — atiçou.
‘Chiqueirinho’
Bolsonaro também não percebeu, plenamente, que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso foi integralmente derrotada, no Congresso, tanto na comissão especial da Câmara e depois, numa manobra do presidente da Câmara e aliado de Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL), em plenário. Na última instância, obteve apenas 229 votos favoráveis, quando eram necessários 308 para sua aprovação.
No dia seguinte à derrota, no Plenário da Câmara, Bolsonaro disse aos seguidores reunidos no ‘chiqueirinho’, como é conhecido o espaço destinado aos seus pronunciamentos matinais e noturnos, à porta do Palácio da Alvorada, que não desistiu da ideia e iria buscar soluções, dentro e fora da Constituição Federal, para que o país tivesse “eleições justas” no ano que vem.
Bolsonaro, assim, tem mantido o discurso dúbio quanto às suas intenções. Enquanto acenava com uma bandeira branca para o Congresso, elevou nesta manhã as críticas aos ministros do Supremo. Disse que Alexandre de Moraes, do STF, estaria atuando fora da Constituição, e agora aponta sua bateria contra o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Luís Felipe Salomão.
Mentiras
Em decisão na segunda-feira, atendendo a um pedido da PF, Salomão determinou às empresas que administram redes sociais que suspendam os repasses de dinheiro a páginas bolsonaristas investigadas por disseminar fake news.
— Ele (Moraes) está fazendo barbaridade, agora juntamente com o ministro do Tribunal Superior Eleitoral, o Sr. Salomão, que resolveu, numa canetada, desmonetizar certas páginas de pessoas que têm criticado a falta de mais transparência por ocasião do voto — revoltou-se.
Incluído por Moraes no inquérito aberto para investigar o ataque às urnas eletrônicas, Bolsonaro foi citado pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso na notícia-crime contra o mandatário por conta de mentiras ditas sobre o sistema de votação eletrônico, em uma transmissão ao vivo pela internet.
Fundo eleitoral
Nesta manhã, o presidente disse ainda que tem de agir “dentro das quatro linhas (da Constituição), apesar de alguns, como o senhor Alexandre de Morares, como o senhor Salomão do TSE, estão fora das quatro linhas”.
E Bolsonaro voltou a falar em ruptura, embora diga que “ninguém quer isso”. Uma ruptura, afirmou, traria problemas internos e externos, como barreiras comerciais, criando "caos" no país. Mas continuou com o questionamento: “Agora, onde é o limite disso?”
— Eu sou leal ao povo brasileiro. O povo que tem que nos dar o norte do que devemos fazer — disse, citando as manifestações de apoiadores marcadas para o dia 7 de setembro.
Questionado pelo apresentador do programa de rádio a respeito do fundo público eleitoral para financiamento das campanhas, o presidente indicou que deve vetar integralmente a proposta, se não for possível vetá-la parcialmente para chegar a um valor menor.