Bebianno levanta suspeitas quanto à participação do ’02’ no episódio da facada
Embora não tenha afirmado, diretamente, Bebianno também deixou nas entrelinhas que Bolsonaro, de alguma maneira, já teria conhecimento de que um ato de violência o marcaria na campanha.
Embora não tenha afirmado, diretamente, Bebianno também deixou nas entrelinhas que Bolsonaro, de alguma maneira, já teria conhecimento de que um ato de violência o marcaria na campanha.
Por Redação - de São Paulo
Ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, o advogado Gustavo Bebianno sugeriu queo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o filho ’02’ do presidente da República, interveio na segurança do então candidato, no dia da suposta facada contra o pai, em Juiz de Fora (MG).
— A única viagem que o Carlos fez conosco foi essa de Juiz de Fora e ainda deu azar. Ele atrapalhou o esquema de segurança, o que resultou no não uso do colete (à prova de balas) e naquela tragédia da facada — disse Bebianno, em entrevista aos jornalistas, no programa Roda Viva, noite passada.
Bebianno disse que Bolsonaro esperava que um ato de violência marcasse a campanha presidencial
Embora não tenha afirmado, diretamente, Bebianno também deixou nas entrelinhas que Bolsonaro, de alguma maneira, já teria conhecimento de que um ato de violência o marcaria na campanha. No dia do suposto atentado, segundo o ex-ministro, ’02’ se comportou de maneira infantil e irresponsável.
— Ele foi dentro do carro com um drone. Parecia uma criança. Nem eu, nem o capitão Cordeiro e nem o Max, do BOPE, pudemos ir no carro. O resultado? Ele (Bolsonaro) desembarcou sem o colete. O colete não teria evitado 100% o ferimento, mas teria limitado a penetração da faca — afirmou.
Santos Cruz
Ainda segundo Bebianno, o ’02’ tentou montar uma Agência Brasileira de Inteligência (Abin) paralela, logo que o pai tomou posse, no Palácio do Planalto. Questionado se o delegado seria o atual diretor da Abin, Alexandre Ramagem, Bebianno preferiu não responder.
— Eu lembro o nome do delegado. Mas não vou revelar por uma questão institucional e pessoal — emendou o ex-ministro.
O advogado lembrou que Carlos Bolsonaro sugeriu os nomes de um delegado federal e de três agentes para a suposta Abin paralela. Segundo Bebianno, ele e o então ex-ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido meses depois, desaconselharam o presidente, sob o argumento de que a medida poderia motivar impeachment.
Na entrevista, Bebianno também acusou Carlos Bolsonaro de comandar o conhecido "gabinete de ódio”, no Planalto, onde seriam forjadas as notícias falsas disseminadas nas redes sociais, em favor do pai.
— Eu disse ao presidente que as notícias falsas não podiam estar dentro do Planalto porque poderiam dar em impeachment. Mas a pressão que o Carlos faz é tão grande que o pai não consegue se contrapor ao filho. É como aquela criança que quer um presente no shopping, esperneia e o pai não tem pulso para dizer não — denunciou Bebianno.
Processo
Na entrevista, Bebianno disse também que a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) acompanhou todos os movimentos relativos à propagação das notícias falsas. A parlamentar paulista confirmou à reportagem do Correio do Brasil a existência do “gabinete do ódio”. Ela ingressou, na véspera, com uma ação contra a colega de partido Carla Zambelli (SP), no Conselho de Ética da Câmara.
Zambelli deverá tomar conhecimento, nas próximas horas, dos parlamentares sorteados para o julgamento de crime de que é acusada, o de atentar contra a honra da companheira de legenda.
— A Joice se sentiu ofendida e precisou mobilizar um partido para atuar contra mim. Quer me calar e, a partir disso, mostra que não tem capacidade de aguentar o que a incomoda — disse Zambelli.
A parlamentar, que compactua com as manifestações contra o Congresso disse ainda, nas redes sociais, o ataque que vitimou a deputada Gleisi Hoffmann durante encontro do PT em um hotel no Rio. Ela disse que era efeito de uma suposta "lei do retorno".
A parlamentar, aliada incondicional de Jair Bolsonaro, já foi condenada a indenizar em R$ 40 mil o ex-deputado Jean Wyllys a quem acusou de pedofilia. Eleita com pouco mais de 76 mil votos, a deputada surgiu politicamente nas manifestações iniciadas em 2013 que culminaram com o golpe político contra Dilma Rousseff.
Outro processo
O Conselho de Ética também examinará o pedido em que o Partido dos Trabalhadores (PT) defende a cassação do mandato do deputado Filipe Barros do (PSL-PR). O PT acusa Barros de ter quebrado decoro durante a reunião da CPMI das Fake News ao associar o partido a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), e de ter ofendido o senador Humberto Costa (PT-PE), líder do partido no Senado.
Para este caso, a lista tríplice é composta pelos deputados: Márcio Marinho (Republicanos-BA), Igor Timo (Pode-MG) e Guilherme Derrite (PP-SP). A definição dos nomes que vão assumir a relatoria dos casos está prevista ainda para esta semana. Uma condenação pelo Conselho de Ética pode levar o parlamentar a receber advertência pública até a cassação do mandato.