Devido à crise hídrica, as hidrelétricas perderam o espaço e o governo precisou acionar as térmicas, fonte mais cara, com o custo todo repassado para o consumir, o que irá elevar a conta de luz. A tarifa média, atualmente, sem impostos nem bandeira é de R$ 532 por MWh. Com a bandeira vermelha 2 a R$ 94,92, o valor passa para R$ 627.
Por Redação - de Brasília e São Paulo
Os consumidores brasileiros devem preparar o bolso para a conta de luz, que vai ficar ainda mais cara em setembro com a adoção da bandeira vermelha nível 2 – a mais cara na escala de preços. O repasse integral do custo da energia elétrica tende a elevar a conta em 15%. A estimativa é dos representantes das distribuidoras, associações de consumidores e analista de mercado ouvidos pela mídia conservadora.
Devido à crise hídrica, as hidrelétricas perderam o espaço e o governo precisou acionar as térmicas, fonte mais cara, com o custo todo repassado para o consumir, o que irá elevar a conta de luz. A tarifa média, atualmente, sem impostos nem bandeira é de R$ 532 por MWh. Com a bandeira vermelha 2 a R$ 94,92, o valor passa para R$ 627. Com a bandeira a R$ 190, a tarifa final saltará para R$ 722. A projeção foi feita pelo diretor de regulação da TR Soluções, Hélder Sousa.
‘No osso’
A bandeira é um sistema que reflete o aumento de custo variável da energia sempre que há fenômenos adversos. O repasse integral dos custos para o sistema de bandeiras é defendida pela Aneel desde o final de junho.
Para analistas do segmento, a crise energética no Brasil ainda não chegou ao pico mas chega, rapidamente, ao ponto de causar o aumentos nas tarifas, com o consequente racionamento e, mais adiante, os apagões. De acordo com o colunista Vinícius Torres Freire, do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo e especialista no setor, “uma nova providência de racionamento menos duro deve ser adotada no começo de setembro, se Jair Bolsonaro (sem partido) deixar".
De acordo com estas previsões, até o fim de setembro é possível que o governo inicie o racionamento, com objetivo de “administrar o sistema 'no osso' até novembro”. Segundo Freire, "é preciso desde já insistir em reduções de consumo, voluntárias ou incentivadas”. Ele observa, ainda, que "o governo não pode politizar o assunto e tem de mostrar mais rapidez na ação”.
Sem redução
Ainda nesta sexta-feira, o Ministério de Minas e Energia (MME) divulgou novas medidas para conter a crise de energia decorrente da forte estiagem. Entre elas, a proposta da redução no valor da conta para consumidores residenciais e de grande porte que reduzirem o gasto. Além disso, existem sinalizações para que a tarifa da bandeira vermelha dobre ainda este ano.
— Está ocorrendo aí um déficit — observou ao Jornal da Universidade de São Paulo (USP) o professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP.
Segundo o catedrático, o declínio no sistema elétrico brasileiro ocorre “não só por conta do uso das termelétricas”.
— Também não ocorreu uma redução tão significativa no consumo como era esperado — acrescenta. Segundo ele, desde que a crise hídrica foi reconhecida, o governo vinha sinalizando com a redução da cobrança de energia elétrica para consumidores que conseguissem reduzir o consumo de energia.
Racionamento
De acordo com Côrtes, o governo está apelando para a redução do consumo pelo setor público de forma incomum, para tentar remediar a situação de gastos e custos envolvendo a estiagem e o uso de termelétricas.
— O importante é que essa conta feche no final de cada mês ou de cada ano, não carregando déficits para anos posteriores — destaca o professor.
Ele explica, ainda, que a ocorrência de déficits pode levar a um tarifaço sobre a conta de luz.
— Se o governo não equacionar adequadamente esses custos, esses aumentos, nós podemos ter que pagar essa conta de uma vez só em 2023. O racionamento não está no vocabulário do governo, mas a ocorrência de apagões é infelizmente possível — resumiu o especialista.