Mas, de volta à luta política, ainda nesta semana, Boulos retornará a São Paulo pronto a abrir divergência com setores que acreditam que “a esquerda tem que se travestir de centro” para vencer as próximas batalhas eleitorais.
Por Redação – de São Paulo
Em uma casa de praia, no litoral paulista, apenas alguns dias depois da derrota para o atual prefeito paulistano, Ricardo Nunes (MDB), o professor Guilherme Boulos (PSOL), 42, reconheceu que a esquerda brasileira foi massacrada, nas urnas encerradas no último domingo. Na residência da irmã, Renata, em Boiçucanga, no litoral norte de São Paulo, Boulos comentou com a jornalista Mônica Bergamo, colunista do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, que a campanha foi “duríssima, pesada”.
— A esquerda foi derrotada no país todo — reconheceu Boulos.
Mas, de volta à luta política, ainda nesta semana, Boulos retornará a São Paulo pronto a abrir divergência com setores que acreditam que “a esquerda tem que se travestir de centro” para vencer as próximas batalhas eleitorais. Segundo o deputado, determinados setores têm “um sonho de uma americanização da política brasileira, de democratas contra republicanos, do centro contra a direita. Uma utopia de sociedade sem esquerda”.
Defensiva
E setores do PT, entre outros, estão caindo “nesse canto de sereia”.
— Estão errados. Estão errados — repetiu.
Segundo o professor de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), foi a disputa de valores na sociedade por décadas que permitiu, em sua visão, que o PT consolidasse a sua posição e chegasse ao poder para “um ciclo de vitória de cinco eleições presidenciais”.
— Fomos para a defensiva, e agora a extrema está ganhando a disputa cultural por W.O. — protesta.
Na opinião de Guilherme Boulos, ele não perdeu a eleição para o prefeito Ricardo Nunes.
— Eu perdi a eleição para um consórcio em torno do projeto (da candidatura presidencial de) Tarcísio (de Freitas, em) 2026. Eu pude sentir na pele o peso da aliança de setores econômicos, políticos e midiáticos que sonham com essa ideia de um bolsonarismo moderado, capaz de derrotar o Lula e a esquerda. E que viam a eleição de São Paulo como uma prévia para viabilizar esse projeto. Sofri ataques e mentiras de uma virulência sem precedentes — avalia.
Ex-coach
Para Boulos, os ataques da extrema direita foram abaixo da linha da cintura.
— Eu nunca vi, a 48 horas da eleição, (a divulgação de) um laudo falso dizendo que um candidato foi internado por uso de drogas (referindo-se a documento forjado divulgado por Pablo Marçal). Aliás, para mim, quem decidiu essa eleição foi o Pablo Marçal. (A atuação do ex-coach) Era uma coisa tão bizarra, tão ofensiva, que ele normalizou o Ricardo Nunes, que parecia bonzinho perto dele — analisa.
Parte dos colunistas e grupos de mídia, de acordo com o candidato do PSOL, disseram que ele estava normalizando o Marçal, por ter participado de uma transmissão ao vivo, pela internet, com o ex-adversário.
— Espera um pouquinho! Foi isso o que a imprensa fez durante o primeiro turno inteiro — espantou-se.