Era a criação do esquema do orçamento secreto, um duto de recursos públicos para garantir apoio do Congresso ao Palácio do Planalto. Não por acaso, o político alagoano é chamado de primeiro-ministro pelos colegas. Antes das principais votações, Lira sempre telefona para os deputados, com o objetivo de perguntar como eles vão votar.
Por Redação - de Brasília
O poder do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), aumentou nas últimas semanas, desde quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) entregou a ele uma tarefa que deveria ser do Executivo — a de manipular o destino de R$ 11 bilhões em emendas de relator-geral —, para ampliar a sua base aliada e se salvar dos pedidos de impedimento.
Era a criação do esquema do orçamento secreto, um duto de recursos públicos para garantir apoio do Congresso ao Palácio do Planalto. Não por acaso, o político alagoano é chamado de primeiro-ministro pelos colegas. Antes das principais votações, Lira sempre telefona para os deputados, com o objetivo de perguntar como eles vão votar. Ameaças de cortes de emendas e retiradas de relatorias são comuns.
— Está comigo ou não? — confronta o líder do chamado ‘Centrão’.
Imbatível
Ao longo de seu primeiro ano à frente da Câmara, o ex-vereador de Maceió acumulou vitórias com placares folgados, a começar pela própria eleição ao posto de presidente. Como líder do Centrão, Lira já era um candidato forte para suceder a Rodrigo Maia (sem partido-RJ), mas se tornou imbatível ao se aliar a Bolsonaro e ver bilhões do orçamento secreto distribuídos a deputados dispostos a apoiá-lo.
Mesmo assim, colheu derrotas. Ficou atônito com o resultado da votação que rejeitou a proposta concebida para ampliar a influência do Congresso no Conselho Nacional do Ministério Público, batizada por opositores como “PEC da Vingança”. Antes, em fevereiro, não conseguira aprovar a “PEC da Blindagem”.
Na ocasião, tentou se valer do espírito de corpo diante da prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ). O mesmo Lira que travou processos do Conselho de Ética que poderiam levar à cassação do parlamentar criticou a dificuldade do Ministério Público em punir procuradores e promotores envolvidos em irregularidades.
Descrito até por amigos como um “trator”, com estilo vingativo e acostumado a “dar o troco”, o presidente da Câmara transitou entre contradições desse tipo no primeiro ano de mandato. Articulou acordos com governistas e com a oposição, mas “atropelou” o regimento da Casa quando foi conveniente, pulando debates em comissões especiais.