Rio de Janeiro, 13 de Abril de 2025

Após Wyllys, ameaça de morte a desafetos de Bolsonaro leva professora ao exílio

Professora da UnB, Débora Diniz receia que seu caso se torne mais frequente, em consequência da eleição de Jair Bolsonaro.

Terça, 29 de Janeiro de 2019 às 12:18, por: CdB

Professora da UnB, Débora Diniz receia que seu caso se torne mais frequente, em consequência da eleição de Jair Bolsonaro.

 
Por Redação - de Brasília
  Professora da Universidade de Brasília (UnB), a antropóloga Débora Diniz tem sido alvo de ataques e ameaças de morte por sua defesa da descriminalização do aborto até a 12º semana de gravidez. A partir desta terça-feira, ela foi incluída no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do Governo Federal e levada para fora do país. Seu destino é desconhecido, por motivo de segurança.
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A antropóloga Débora Diniz foi forçada a deixar o país, diante das ameaças de morte sofridas por suas posições políticas
Diniz receia que seu caso se torne mais frequente em consequência da eleição de Jair Bolsonaro. O militar tem demonstrado, por diversas vezes, ser contrário as pautas que asseguram os direitos das mulheres, negros, gays e indígenas. — Orientadas por uma lógica religiosa messiânica, as políticas anunciadas pelo novo governo e a futura ministra (Damares Alves) colocam em risco os direitos das mulheres — disse Débora, em entrevista ao diário conservador espanhol El País. Antes de ter de deixar o país, Débora precisou se retirar de vários eventos no Brasil para escapar de manifestantes que a intimidavam.  Pessoas do seu círculo de relacionamento também sofreram ameaças. — Chegaram ao ponto de cogitar um massacre na universidade caso eu continuasse dando aulas. A estratégia desse terror é a covardia da dúvida. Não sabemos se são apenas bravateiros. Há o risco do efeito de contágio, de alguém de fora do circuito concretizar a ameaça, já que os agressores incitam violência e ódio contra mim a todo o momento — afirmou.

Mártir

Diniz se emociona ao falar sobre o desgaste emocional diante das ameaças; longe da universidade e do país. — Assim como outros defensores dos direitos humanos, não posso me permitir a cruzar limites sob o risco de virar mártir — afirmou. Às vésperas da posse do presidente eleito Jair Bolsonaro, ela teme pelo recrudescimento de ataques a militantes feministas no Brasil. — Orientadas por uma lógica religiosa messiânica, as políticas anunciadas pelo novo governo e a futura ministra (Damares Alves) colocam em risco os direitos das mulheres. É um perigo constante defender posições no país que mais mata ativistas dos direitos humanos — acrescentou.

Princípios

A professora entende ainda que é preciso um pacto da sociedade brasileira para se opor à “crueldade das ameaças”, destacando a vulnerabilidade de políticos como os deputados do PSOL Jean Wyllys e Marcelo Freixo, ambos ameaçados de morte por causa de seus posicionamentos ideológicos ou atividade parlamentar. — É um perigo constante defender posições no país que mais mata ativistas dos direitos humanos — disse. Aos 48 anos, a antropóloga espera poder voltar logo a Brasília para retomar a rotina na universidade. Enquanto isso, se mantém firme na defesa de seus princípios e no desenvolvimento de pesquisas, reforçando que a mudança não significa uma renúncia às causas que defende. — Não saí do Brasil porque fui ameaçada, mas para proteger outras pessoas. Se as ameaças fossem somente contra mim, eu jamais sairia. Mais do que nunca, mesmo à distância, eu sigo fazendo meu trabalho. Não vão me calar — relata.

Desfaçatez

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), terceiro filho do presidente Jair Bolsonaro, no entanto, tenta minimizar o risco à vida das pessoas ameaçadas. Em mensagem distribuída nas redes sociais, o parlamentar tentou amenizar o exílio do também deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ). Radical de direita, o parlamentar cita uma ameaça ao senador Magno Malta (PR-ES) feita por um rapaz identificado como Marcelo Valle Silveira Mello, preso e condenado a 41 anos de prisão entre vários crimes. O filho do presidente Jair Bolsonaro tenta desviar atenção para o fato de que o pessolista tem sido ameaçado por milicianos ligados ao clã Bolsonaro. Mello ameaçou Malta e Wyllys de atentados caso ambos não renunciassem. “O mesmo homem que ameaçou Jean Wyllys também ameaçou Magno Malta, está no processo judicial. Será que @MagnoMalta também vai sair do Brasil? Outra coisa, como dizer que o Estado foi omisso se o réu foi condenado a 41 anos de prisão por terrorismo, racismo e pedofilia em 2018?!”, disse Eduardo Bolsonaro no Twitter. A polícia do Rio, ao longo dos últimos dias, prendeu milicianos suspeitos de envolvimento com o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco (PSol). A mãe de um deles - o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega -, que está foragido, trabalhou no gabinete do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio. O parlamentar também já tinha feito homenagens ao policial.
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