Professora da UnB, Débora Diniz receia que seu caso se torne mais frequente, em consequência da eleição de Jair Bolsonaro.
Por Redação - de Brasília
Professora da Universidade de Brasília (UnB), a antropóloga Débora Diniz tem sido alvo de ataques e ameaças de morte por sua defesa da descriminalização do aborto até a 12º semana de gravidez. A partir desta terça-feira, ela foi incluída no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do Governo Federal e levada para fora do país. Seu destino é desconhecido, por motivo de segurança.
A antropóloga Débora Diniz foi forçada a deixar o país, diante das ameaças de morte sofridas por suas posições políticas
Diniz receia que seu caso se torne mais frequente em consequência da eleição de Jair Bolsonaro. O militar tem demonstrado, por diversas vezes, ser contrário as pautas que asseguram os direitos das mulheres, negros, gays e indígenas.
— Orientadas por uma lógica religiosa messiânica, as políticas anunciadas pelo novo governo e a futura ministra (Damares Alves) colocam em risco os direitos das mulheres — disse Débora, em entrevista ao diário conservador espanhol El País.
Antes de ter de deixar o país, Débora precisou se retirar de vários eventos no Brasil para escapar de manifestantes que a intimidavam. Pessoas do seu círculo de relacionamento também sofreram ameaças.
— Chegaram ao ponto de cogitar um massacre na universidade caso eu continuasse dando aulas. A estratégia desse terror é a covardia da dúvida. Não sabemos se são apenas bravateiros. Há o risco do efeito de contágio, de alguém de fora do circuito concretizar a ameaça, já que os agressores incitam violência e ódio contra mim a todo o momento — afirmou.
Mártir
Diniz se emociona ao falar sobre o desgaste emocional diante das ameaças; longe da universidade e do país.
— Assim como outros defensores dos direitos humanos, não posso me permitir a cruzar limites sob o risco de virar mártir — afirmou.
Às vésperas da posse do presidente eleito Jair Bolsonaro, ela teme pelo recrudescimento de ataques a militantes feministas no Brasil.
— Orientadas por uma lógica religiosa messiânica, as políticas anunciadas pelo novo governo e a futura ministra (Damares Alves) colocam em risco os direitos das mulheres. É um perigo constante defender posições no país que mais mata ativistas dos direitos humanos — acrescentou.
Princípios
A professora entende ainda que é preciso um pacto da sociedade brasileira para se opor à “crueldade das ameaças”, destacando a vulnerabilidade de políticos como os deputados do PSOL Jean Wyllys e Marcelo Freixo, ambos ameaçados de morte por causa de seus posicionamentos ideológicos ou atividade parlamentar.
— É um perigo constante defender posições no país que mais mata ativistas dos direitos humanos — disse.
Aos 48 anos, a antropóloga espera poder voltar logo a Brasília para retomar a rotina na universidade. Enquanto isso, se mantém firme na defesa de seus princípios e no desenvolvimento de pesquisas, reforçando que a mudança não significa uma renúncia às causas que defende.
— Não saí do Brasil porque fui ameaçada, mas para proteger outras pessoas. Se as ameaças fossem somente contra mim, eu jamais sairia. Mais do que nunca, mesmo à distância, eu sigo fazendo meu trabalho. Não vão me calar — relata.
Desfaçatez
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), terceiro filho do presidente Jair Bolsonaro, no entanto, tenta minimizar o risco à vida das pessoas ameaçadas. Em mensagem distribuída nas redes sociais, o parlamentar tentou amenizar o exílio do também deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ).
Radical de direita, o parlamentar cita uma ameaça ao senador Magno Malta (PR-ES) feita por um rapaz identificado como Marcelo Valle Silveira Mello, preso e condenado a 41 anos de prisão entre vários crimes. O filho do presidente Jair Bolsonaro tenta desviar atenção para o fato de que o pessolista tem sido ameaçado por milicianos ligados ao clã Bolsonaro.
Mello ameaçou Malta e Wyllys de atentados caso ambos não renunciassem.
“O mesmo homem que ameaçou Jean Wyllys também ameaçou Magno Malta, está no processo judicial. Será que @MagnoMalta também vai sair do Brasil? Outra coisa, como dizer que o Estado foi omisso se o réu foi condenado a 41 anos de prisão por terrorismo, racismo e pedofilia em 2018?!”, disse Eduardo Bolsonaro no Twitter.
A polícia do Rio, ao longo dos últimos dias, prendeu milicianos suspeitos de envolvimento com o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco (PSol). A mãe de um deles - o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega -, que está foragido, trabalhou no gabinete do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio. O parlamentar também já tinha feito homenagens ao policial.