Com maioria assegurada no colégio eleitoral, Neves, segundo interlocutores, teria levado a Leite a proposta de mantê-lo na Presidência do partido, recusada pelo tucano gaúcho. Em busca de um sucessor, Neves teria sondado o ex-senador Tasso Jereissati (CE), um nome que enfrenta resistência interna em sua própria trincheira.
Por Redação - de Brasília
Após a revoada histórica de fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o consequente esvaziamento da legenda nas urnas, desde a última derrota para a então presidenta Dilma Rousseff (PT) — deposta em manobra jurídico-parlamentar resumida no golpe de 2016 —, o hoje deputado Aécio Neves (MG) articula a tomada do poder no Diretório Nacional dos tucanos.
Um dos principais artífices da cassação de Dilma Rousseff, o ex-governador mineiro estaria prestes a retomar o controle do PSDB, no próximo dia 30 de novembro, na Convenção Nacional. Neves, que conseguiu se livrar de uma série de processos cabulosos na Justiça comum, negocia uma chapa única sob sua influência que, se eleita, encerra as pretensões do governador Eduardo Leite (RS) ao controle da agremiação de direita.
Com maioria assegurada no colégio eleitoral, Neves, segundo interlocutores, teria levado a Leite a proposta de mantê-lo na Presidência do partido, recusada pelo tucano gaúcho. Em busca de um sucessor, Neves teria sondado o ex-senador Tasso Jereissati (CE), um nome que enfrenta resistência interna em sua própria trincheira. Diante da realidade, o nome do ex-governador de Goiás Marconi Perillo ganha musculatura e tende a assumir o que restou do que um dia foi o farol para as forças conservadoras e de direita, no país.
Declínio
Em sua volta à liderança do ninho tucano, Aécio Neves promete ser ainda mais crítico ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma tarefa difícil para o governador do Rio Grande do Sul. Parte dos caciques do tucanato entendem que Leite enfrenta dificuldades para se posicionar contra a administração petista, com a qual precisa se relacionar.
Protagonista na política nacional há três décadas, o PSDB ocupou a Presidência com Fernando Henrique Cardoso entre 1995 e 2002, comandou o Estado de São Paulo por 27 anos e elegeu bancadas com quase 100 deputados, como em 1998. Neste ano, porém, o partido amargou o pior desempenho de sua história nas eleições.
Os tucanos, agora, elegeram apenas 13 deputados federais, uma queda de 55% em relação às eleições anteriores. Não garantiu uma cadeira sequer no Senado ou conquistou algum governo estadual em primeiro turno. Também perdeu a hegemonia em São Paulo, com a derrota de Rodrigo Garcia. No segundo turno, conseguiu eleger os governos do Rio Grande do Sul, com Leite, Pernambuco, com Raquel Lyra e Mato Grosso do Sul, com Eduardo Riedel.
Polarização
Cientistas políticos ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil constatam que o resultado obtido pela legenda nas urnas, em 2022, cristalizou o processo perda “inexorável de relevância nacional”, a exemplo do que ocorre em outros países do mundo diante de forças ultranacionalistas ou da extrema direita, a exemplo da recém-encerrada eleição na Argentina, com a vitória do anarcocapitalista Javier Milei.
A dificuldade de se posicionar no espectro ideológico, sobretudo frente ao cenário de polarização representado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo os especialistas, explica melhor o declínio do PSDB. Os mesmos analistas políticos também questionam a capacidade do líder tucano mineiro de reposicionar o partido à direita, uma vez que se aliou ao agora ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), durante o governo fracassado.
Quando criada, em 1988, a legenda representava uma dissidência à esquerda do PMDB (atual MDB). De 1994 a 2014, ao longo de seis eleições, polarizou com o PT na corrida presidencial. Em 2018, perdeu espaço para a onda bolsonarista, da qual se aproximou ― como na eleição de João Doria para o governo de São Paulo.