A decisão do brasileiro Roberto Azevêdo de abreviar de um ano seu mandato de direitor-geral da Organização Mundial do Comércio repercutiu negativamente na imprensa internacional. O jornal parisiense Le Monde é o mais cáustico nas críticas, utilizando a imagem do comandante que salta do navio, entregue aos ventos contrários em plena tempestade, para escapar ao naufrágio.
Rui Martins,correspondente em Genebra
Como havia acentuado aqui o Correio do Brasil, o momento - embora provocado por razões familiares, no dizer de Azevêdo - é o pior possível, seja pela crise decorrente da pandemia do coronavírus Covid-19, seja pelas pressões dos EUA que ameaçam provocar o fechamento da OMC.
Na leitura das reações dos jornais de hoje, a quase totalidade repertoria a atual crise econômica entre Estados Unidos e China que afeta profundamente a Organização e traça o histórico do diplomata brasileiro, cujo mandato terá completado sete anos no final de agosto, quando Azevêdo deixará a direção da OMC. Para o jornal suíço Le Temps, a crise econômica atual só se compara com a Grande Depressão dos anos 30.
O jornal parisiense Le Monde é o mais cáustico nas críticas, utilizando a imagem do comandante que salta do navio, entregue aos ventos contrários em plena tempestade, para escapar ao naufrágio. Essa renúncia a um ano de mandato teria o objetivo de facilitar a escolha de seu sucessor, fala-se num egípcio, Hamid Mamdouh, e evitar o fim da OMC, desejado pelo presidente Donald Trump.
Para contornar a crise institucional em que vive a OMC, a Suíça esperar se agrupar com outros vinte países. Ao mesmo tempo, pretende participar ativamente da escolha do próximo diretor-geral. Os Estados Unidos teriam feito um êrro de avaliação ao apoiar a criação da OMC, esperando aumentar suas exportações. O surgimento da China, em sentido inverso, teria criado a crise atual.
Rui Martins é correspondente do Corrêio do Brasil em Genebra.