Após o atentado com 50 mortos em Christchurch, governo da primeira-ministra Jacinda Ardern prepara leis mais rígidas para a posse de armamentos. Papel das redes sociais será investigado.
Por Redação, com DW - de Christchurch
A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, afirmou nesta segunda-feira que seu governo anunciará em breve leis mais rígidas para a posse de armas, dias após um atirador abrir fogo em duas mesquitas e matar 50 pessoas na cidade de Christchurch. – Dez dias após esse terrível ato de terrorismo, já teremos anunciado reformas que vão tornar nossa comunidade mais segura – disse a primeira-ministra após seu gabinete definir os princípios da reforma da legislação. Ardern disse que os membros de seu gabinete e da coalizão de governo concordam com a necessidade de reduzir o acesso a armas de fogo como as utilizadas pelo atirador australiano Brenton Tarrant, de 28 anos, no massacre ocorrido na sexta-feira passada. "Tomamos a decisão como gabinete de governo, estamos unidos", disse, ao lado do vice-primeiro-ministro e parceiro de coalizão, Winston Peters. Peters, membro do partido Nova Zelândia em Primeiro Lugar, que inicialmente se opunha a novas regulamentações sobre os armamentos no país, disse que apoia totalmente a primeira-ministra. "A realidade é que, após as 13h de sexta-feira [horário local em que ocorreu o massacre], nosso mundo mudou para sempre, e nossas leis também mudarão", afirmou. Ardern não forneceu detalhes sobre as mudanças na lei, mas disse que apoia a proibição de armas semiautomáticas como as utilizadas pelo atirador em Christchurch. Ela encorajou os proprietários de armas que desejam entregá-las às autoridades para que o façam. – A clara lição da história em todo o mundo é que, para tornar nossa comunidade mais segura, a hora de agir é agora – disse a primeira-ministra. "Acredito fortemente que a maioria dos proprietários de armas na Nova Zelândia irá concordar com o sentimento de que uma mudança deve ocorrer." Estima-se que haja 1,5 milhão de armas de fogo no país de 5 milhões de habitantes. Apesar de um reforço nas leis nos anos 1990, a legislação sobre armamentos da Nova Zelândia é considerada relativamente permissiva. Quase todas as pessoas que solicitam licença para o porte de armas a conseguem. Uma pesquisa com base em dados oficiais, divulgada pela imprensa neo-zelandesa, afirma que 99% das pessoas que se registraram para a licença de armas em 2017 conseguiram obter o documento. A licença é obtida após uma verificação dos antecedentes criminais pela polícia. Apenas os proprietários são registrados, e não as armas, o que faz com que não exista um monitoramento sobre quantas unidades uma pessoa pode possuir. No entanto, crimes violentos são raros no país, e os policiais nem sempre andam armados. Ardern disse que haverá um inquérito sobre o papel das agências de inteligência para verificar se elas deveriam ter dado atenção maior a eventuais sinais de alerta e, possivelmente, evitado o ataque. Ela afirmou que 250 investigadores e especialistas trabalham em todo o país nas investigações. O papel das mídias sociais também será avaliado, uma vez que o atirador transmitiu ao vivo o massacre através do Facebook. Um adolescente foi levado aos tribunais nesta segunda-feira, acusado de divulgar a filmagem do atentado. Tarrant, que foi levado a um tribunal no último sábado, sob a acusação de assassinato, demitiu o advogado Richard Peters, que havia sido designado pelo Estado para defendê-lo. Peters afirmou que o atirador de 28 anos quer representar a si mesmo na corte. – O modo como ele se apresentou foi racional, como alguém que não sofre quaisquer distúrbios mentais. Ele parecia entender o que estava acontecendo – disse o advogado. Segundo as leis neo-zelandesas, se Tarrant se declarar inocente, seu caso deverá ir a julgamento, aumentando a possibilidade de ele ficar frente a frente com sobreviventes e familiares das vítimas. As vítimas do ataque eram de gerações diferentes, de idade entre 3 e 77 anos, segundo uma lista que circulou entre os parentes. Alguns eram da vizinhança e outros de países mais distantes, como o Egito. O governo da Índia afirmou que cinco pessoas do país morreram. O Paquistão confirmou que nove de seus cidadãos também estavam entre os mortos, incluindo um homem que tentou deter o atirador. Segundo as autoridades, 31 pessoas ainda estão internadas nos hospitais, nove delas em estado crítico.