Rio de Janeiro, 30 de Outubro de 2024

Massacre de Eldorado do Carajás completa 26 anos

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Domingo, 17 de Abril de 2022 às 08:10, por: CdB

Não à toa, o vigésimo sexto aniversário do massacre chega no mesmo momento em que 8 mil indígenas foram à Brasília para o Acampamento Terra Livre, marcando a luta pela demarcação de suas terras, ameaçadas pelo avanço do agronegócio, do garimpo e da mineração.  

Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília

Neste domingo um dos mais tristes episódios relacionados à luta por terra no Brasil completa 26 anos. E mais de um quarto de século depois, muitos dos conflitos que originaram o Massacre de Eldorado do Carajás seguem tão vivos quanto a sua memória.
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Anualmente, jovens camponeses se encontram na curva do S, onde aconteceu o massacre em 1996
Não à toa, o vigésimo sexto aniversário do massacre chega no mesmo momento em que 8 mil indígenas foram à Brasília para o Acampamento Terra Livre, marcando a luta pela demarcação de suas terras, ameaçadas pelo avanço do agronegócio, do garimpo e da mineração. O histórico massacre dos camponeses do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) fez do 17 de abril o Dia Mundial de Luta Pela Terra e reverbera até os dias de hoje.

O massacre

O 17 de abril de 1996 caiu numa quarta-feira. O sol já começava a baixar no sudeste do Pará quando os cerca de 1,5 mil sem terra chegaram ao local conhecido como curva do S. Caminhavam já há uma semana, com o objetivo de ir até Belém para reivindicar um terreno ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Jamais chegaram. Cercados e atacados por 155 policiais militares, 21 sem teto foram brutalmente assassinados e 79 ficaram feridos. As imagens de terror foram televisionadas.

Reações

A repercussão e a comoção foram enormes e, num efeito colateral não previsto pelos mandantes do massacre, entre os quais o então governador paraense Almir Gabriel (PSDB), o debate sobre a reforma agrária tomou o centro da agenda política do país. Obras de Chico Buarque, Manu Chao e Sebastião Salgado ajudavam a ecoar pelo mundo a denúncia do Massacre de Eldorado do Carajás. No dia em que o episódio completou um ano, em abril de 1997, milhares de pessoas, em três marchas simultâneas do MST, que haviam saído de pontos diferentes do país havia dois meses, se encontraram em Brasília. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), então na presidência da República, se viu pressionado a criar o Ministério do Desenvolvimento Agrário, extinto em 2016 com o governo Temer. Em 1998 surge o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, o Pronera. Antes de ser desativado pelo governo Bolsonaro, 192 mil jovens camponeses se formaram por meio do programa. Dos 155 policiais que atuaram no massacre, só os dois comandantes da operação, os coronéis Mário Pantoja e José Maria Pereira Oliveira, foram condenados por homicídio doloso. Eles foram presos em 2012 e depois de quatro anos, passaram a cumprir a pena em liberdade. Pantoja morreu em Belém, em 2020.

A luta até os dias de hoje

Apesar de, ao longo desses 26 anos, não ter havido outra chacina dessa mesma dimensão, a violência e os conflitos rurais vêm numa crescente. De 2020 para 2021, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), assassinatos envolvendo conflitos no campo nos estados da Amazônia Legal escalaram 77%. A curva do S, lugar sagrado para o MST, abriga nesse mês de abril mais uma edição do Acampamento Pedagógico da Juventude Oziel Alves – nome que homenageia um dos jovens mortos no Massacre de Eldorado do Carajás. O tema do encontro deste ano, o primeiro presencial desde o início da pandemia de covid-19, é “Lutar é preciso: contra o fascismo, a esperança amazônica resiste”. Quer saber mais sobre o que foi e significa, até os tempos atuais, o Massacre de Eldorado do Carajás?
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