Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

Lembrando o 7 de Outubro

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Terça, 08 de Outubro de 2024 às 19:38, por: Rui Martins

“A luta a favor do estado palestino e contra o governo fascista de Netanyahou não pode se confundir com a normalização de uma milícia fundamentalista de extrema direita a partir do pensamento binário de setores de nossa esquerda.” Texto com o qual concordo plenamente.

Por Rui Martins, editor do Direto da Redação

O Hamas, movimento islâmico fundamentalista, nada tem a ver com a esquerdaGeralmente a gente comemora os aniversários e as coisas boas.É mais raro e ao mesmo tempo é triste lembrar desgraças e infelicidades.

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O Hamas, movimento islamita fundamentalita, nada tem a ver com a esquerda

Mas ontem foi o caso – 7 de outubro, data do ataque terrorista do Hamas a diversos kibutz, a jovens alegres que ainda dormiam depois uma festa rave, todos desarmados, eram civis, ataque qualificado como um pogrom a cidadãos israelenses. Agravado com o sequestro de mais de duzentas pessoas transformadas em reféns, algumas delas já mortas.

As consequências foram enormes com a resposta israelense, o envolvimento do Irã, os ataques ao movimento Ezbollah no Líbano e o risco atual de um conflito maior no Oriente Médio.

O movimento terrorista Hamas, cujo objetivo é a destruição de Israel e não a criação de um Estado Palestino, como queria a OLP de Yasser Arafat, é acusado de ter utilizado a população de Gaza como escudo e nega, mesmo diante das evidências de vídeos postados nas redes sociais, as atrocidades cometidas há um ano contra jovens, mulheres e crianças, mesmo bebês. E essa negativa é endossada por grande parte das redes sociais de esquerda brasileiras.

De todo esse caos desencadeado pelo Hamas e pela reação bíblica de Israel de não deixar pedra sobre pedra em Gaza, ressurgiu com força na Europa e na América Latina o antissemitismo, enquanto o wokismo e o Sul Global mostrou a adesão de grande parte da esquerda e de universitários americanos e europeus a uma islamização nas teorias sociológicas anti-imperialistas e pós-colonialistas.

Isso é evidente nas redes sociais brasileiras de esquerda. Essa islamização equivale a um retrocesso social e político, pois uma boa parte dos países considerados anti-imperialistas é composta de ditaduras e teocracias, onde, como simples exemplo, as mulheres são cidadãs de segunda classe e os homossexuais e trans são perseguidos e mesmo mortos.

O jornal Le Monde de ontem publicou um importante editorial, no qual defende a criação do estado palestino junto com o de Israel, e não a criação de um estado com a destruição do outro, como a solução para a atual crise.

E cito a respeito um texto de Marcelosik, pseudônimo de um comentário publicado embaixo de um texto negacionista do Canal GGN, de autoria de Ana Gabriel Sales, no qual ele diz – “a luta a favor do estado palestino e contra o governo fascista de Netanyahou não pode se confundir com a normalização de uma milícia fundamentalista de extrema direita, a partir do pensamento binário de setores de nossa esquerda.” Texto com o qual concordo plenamente.

Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

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