Segundo o advogado Cristiano Zanin, as novas informações divulgadas evidenciam "uma responsabilidade direta dos EUA pelo fato de Lula ter sido condenado injustamente, ilegalmente e ter sido colocado por 580 dias na prisão”.
Por Redação - de São Paulo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “foi vítima de uma perseguição”, afirmou nesta quinta-feira o advogado Cristiano Zanin, que exerce a defesa do líder petista desde o início de seu julgamento, há mais de três anos. Segundo Zanin, as provas apresentadas se somam às revelações divulgadas pela agência norte-americana de notícias Intercept Brasil e demonstram, claramente, a interferência dos EUA na Operação Lava Jato., fato suficiente para anular todo o processo contra Lula.
Segundo o advogado, as novas informações divulgadas evidenciam "uma responsabilidade direta dos EUA pelo fato de Lula ter sido condenado injustamente, ilegalmente e ter sido colocado por 580 dias na prisão”. Zanin disse ainda, a jornalistas, que chegou a pedir ao ministério da Justiça informações a respeito dos diálogos entre os EUA e a Lava Jato, mas até o momento, "todas as informações foram negadas”.
Arma poderosa
A Agência Pública e a Intercept Brasil publicaram, nas últimas horas, novos diálogos vazados que mostram a intimidade entre a Polícia Federal (PF) e sua equivalente norte-americana (Federal Bureau of Investigation - FBI, na sigla em inglês) durante as investigações da operação coordenada por Deltan Dallagnol. A reportagem também divulgou os nomes de 13 agentes do FBI que atuaram na operação que abalou a soberania nacional. Confira os nomes aqui.
Zanin explicou como ocorreram as relações ilegais entre a PF e os agentes da justiça norte-americana. Segundo ele, a atuação sigilosa ocorreu através do “Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) (Lei de Práticas de Corrupção no Exterior, em tradução livre), uma lei anti-suborno criada em 1977, nos EUA”.
“Em princípio, era uma lei destinada a punir empresas (norte-)americanas que praticassem suborno no exterior. No entanto, esta lei se tornou uma poderosa arma para os EUA ampliarem sua jurisdição para outros países”, expôs Zanin.
Cooperação
Atualmente, “o FCPA é usado, por exemplo, para punir empresas brasileiras, mesmo aquelas que não tenham relação direta com os EUA. Basta um email com um servidor norte-americano, ou uma reunião em solo norte-americano para se criar essa conexão, para se expandir a jurisdição americana para o território estrangeiro”, acrescentou.
O advogado explicou que “tal tática foi largamente utilizada pela Lava Jato” e que a “operação indicava empresas aos EUA que poderiam ser alcançadas pelo FCPA”.
— Houve uma cooperação intensa com as autoridades norte-americanas. Essa cooperação foi informal, à margem da lei, fora dos canais oficiais — denuncia.
Vingança
Ao longo da Lava Jato, grandes empresas brasileiras, como Odebrecht e JBS, foram alvos e tiveram perdas de R$ 6,2 bilhões e R$ 3,5 bilhões, respectivamente.
“Hoje nós sabemos que, seja pelas provas que nós apresentamos, seja pelas revelações da Vaza Jato, nunca existiu teoria da conspiração”, concluiu Zanin, referindo-se ao argumento utilizado várias vezes pelo ex-juiz da operação, Sergio Moro, quando questionado sobre a interferência dos EUA nos rumos da operação.
O ex-presidente Lula, nas redes sociais na manhã desta quinta-feira, comentou o envolvimento do Departamento de Justiça dos EUA com a Lava jato, e disse que não quer vingança.
“Quero Justiça”, afirmou.
Força tarefa
Lula espera que “em algum momento”, a Justiça leia os autos de seu processo “para esclarecer a farsa que promoveram para me tirar do processo eleitoral de 2018”.
Os diálogos obtidos pelas agências revelam, ainda, como Deltan Dallagnol escondeu da Procuradoria-Geral da República (PGR) a ação conjunta da força tarefa brasileira com o FBI, numa ação clandestina e ilegal.
“A gente vem denunciando há anos o envolvimento do Departamento de Justiça dos EUA na Lava Jato. Apontamos fatos concretos, que eles chamavam de teoria da conspiração. Agora isso está vindo à tona”, afirmou o ex-presidente Lula, acrescentando que “Dallagnol montou uma quadrilha com a Força Tarefa da Lava Jato e isso está ficando claro. Espero que em algum momento a Justiça leia os autos do meu processo para esclarecer a farsa que promoveram para me tirar do processo eleitoral de 2018”.
— Entramos com um pedido de anulação do processo do Moro na Suprema Corte — concluiu Lula.