Em carta ao presidente, representantes de 14 Estados pedem que governo federal tome providências imediatas para adquirir imunizantes contra covid-19 e sugerem que OMS seja acionada. "Cada minuto é decisivo", argumentam.
Por Redação, com DW - de Brasília
Em meio ao pior momento da epidemia de covid-19 no Brasil, os governadores de 14 estados brasileiros enviaram na quinta-feira uma carta ao presidente Jair Bolsonaro pedindo um maior esforço para a compra de mais doses de vacinas contra a doença.
Para ajudar a conter o aumento exponencial de casos e mortes pelo coronavírus, os governadores pedem ao presidente a "imediata adoção das providências necessárias junto a entidades estrangeiras e organismos internacionais" para adquirir mais imunizantes.
Na quinta-feira, o país superou a marca de 260 mil mortes por covid-19, após registrar mais 1.699 óbitos em 24 horas, o terceiro dia consecutivo em que a marca ficou acima de 1,5 mil. Também foram identificados 75.102 novos casos da doença, a segunda pior marca registrada desde o início da pandemia.
Na carta, os governadores argumentam estarem "no limite de suas forças e possibilidades" e que "nas próximas semanas, talvez meses, a pandemia seguirá ceifando vidas, ameaçando, desafiando e entristecendo todos nós".
"Nesse contexto, a vacinação em massa, com a maior brevidade possível, é a alternativa que se afigura como a mais recomendável, e, provavelmente, a única capaz de deter a pandemia", afirmam.
Os 14 governadores reconhecem haver uma "extraordinária procura" por vacinas mundo afora, mas pedem que o governo federal agilize mecanismos de compra, explore e concretize todos os meios de aquisição disponíveis. Os representantes dos Estados se colocam à disposição para colaborar com as medidas.
"Caso seja possível, sugerimos também o requerimento de apoio e intermediação da Organização Mundial da Saúde", escrevem.
No ritmo atual de vacinação contra a covid-19 no Brasil, "atravessaremos o ano lamentando a irreparável perda de vidas", afirmam. "Se não tivermos pressa, o futuro não nos julgará com benevolência (...) Cada minuto, cada hora e cada dia são preciosos e decisivos e constituem a triste diferença entre viver ou morrer."
Os governadores argumentam ainda que conter a disseminação da variante P1 do coronavírus, originária do Amazonas e mais contagiosa, é uma questão de interesse internacional. "O mundo acompanha com preocupação o rápido avanço do contágio por essa variante no Brasil, o que torna o bloqueio da disseminação desse tipo de vírus matéria de interesse de diversas nações."
A carta é assinada pelos seguintes governadores: Renan Filho, do Alagoas; Waldez Goés, do Amapá; Rui Costa, da Bahia; Camilo Santana, do Ceará; Renato Casagrande, do Espírito Santo; Flávio Dino, do Maranhão; Mauro Mendes, de Mato Grosso; Helder Barbalho, do Pará; João Azêvedo, da Paraíba; Paulo Câmara, de Pernambuco; Wellington Dias, do Piauí; Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte; Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul; e Belivaldo Chagas, do Sergipe.
Bolsonaro: "Chega de mimimi" e "idiotas" da vacina
Na quinta-feira, Bolsonaro afirmou que é preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando?". O presidente ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.
– Tem idiota que a gente vê nas redes sociais, na imprensa, (dizendo) 'vai comprar vacina'. Só se for na casa da tua mãe. Não tem (vacina) para vender no mundo – disse o presidente. No entanto, seu próprio governo já admitiu que rejeitou ao longo do ano passado propostas de laboratórios para a compra de vacinas.
O governo apostou inicialmente todas as suas fichas na vacina da AstraZeneca, que vem sendo marcada por atrasos, e inicialmente esnobou e criticou a vacina chinesa Coronavac, promovida pelo governo de São Paulo, e que no momento é o único imunizante disponível em larga escala no país.
O presidente voltou a reclamar na quinta de medidas de isolamento que vêm sendo impostas por prefeituras e governos estaduais para tentar frear o avanço da pandemia e diminuir a pressão sobre o sistema de saúde, que está à beira do colapso em várias regiões do país.
Bolsonaro também mencionou seu veto a uma medida que permitia que estados comprassem vacinas em caso de omissão do governo federal e posteriormente fossem reembolsados pela União. "Alguns governadores queriam direito a comprar vacina e quem iria pagar? Eu! Onde tiver vacina para comprar, nós vamos comprar", disse Bolsonaro.