Havana, que mantém historicamente um canal de negociações com o regime de Daniel Ortega, também se situa entre os países mais próximos ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Por Redação – de Brasília
A diplomacia cubana entrou, nesta quinta-feira, de forma muito discreta, no esforço para normalizar as relações entre Brasil e Nicarágua. Os dois países estão à beira do rompimento, após a expulsão do embaixador brasileiro, Breno Souza da Costa.
Havana, que mantém historicamente um canal de negociações com o regime de Daniel Ortega, também se situa entre os países mais próximos ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O embaixador cubano, Adolfo Curbelo Castellanos, movimenta-se com desenvoltura entre as duas nações, segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil.
O embaixador Breno Costa embarcou de volta a Brasília, nesta quinta-feira, mas o Itamaraty ainda não havia divulgado uma nota oficial acerca da atitude nicaraguense, até o fim desta tarde. De pronto, no entanto, o Itamaraty convocou o representante de Manágua, em Brasília, para prestar esclarecimentos, uma vez que o país não mantém uma embaixada no no Brasil.
Sandinista
Na véspera, o governo brasileiro foi informado em um telefonema acerca da expulsão, embora a mídia do país centro-americano tenha divulgado a decisão ainda durante a tarde. A justificativa oficial para a expulsão do diplomata e economista, graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi sua ausência na cerimônia de aniversário da Revolução Sandinista, em 19 de julho.
A data, que celebra a queda da ditadura de Anastasio Somoza em 1979, liderada pelo movimento sandinista de Ortega, está entre os principais feriados nacionais do país. Mas, segundo fontes ouvidas pelo CdB no Itamaraty, a razão objetiva para uma medida tão agressiva situa-se no distanciamento entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ortega, ampliado após a recusa do mandatário nicaraguense em libertar os padres católicos detidos nas últimas semanas, apesar dos apelos de Lula e do papa Francisco.
Diante do desgaste entre Brasília e Manágua, a expulsão de Costa era uma ameaça velada por parte do governo nicaraguense, embora o Itamaraty tenha alertado para as consequências diplomáticas do ato, ainda que a expulsão do embaixador não signifique, de imediato, o rompimento total das relações diplomáticas. Ainda existe uma janela entreaberta para o diálogo, que conta com o esforço de Havana.
Relações
A ausência de Breno Costa às comemorações, no feriado sandinista, conforme apurou o CdB, foi determinada pessoalmente pelo presidente Lula. Tratou-se de um protesto do governo brasileiro pelas agressões aos religiosos, de acordo com o Itamaraty.
Lula era, até agora, um dos poucos aliados de Ortega, na América Latina. A repressão aos opositores, que contestam o radicalismo do partido no poder contam com o engajamento de setores da Igreja Católica. Bispos e padres católicos têm sido presos e expulsos do país.
Há alguns meses, no entanto, o Itamaraty acusou o governo Ortega de cometer arbitrariedades e exigiu o fim da perseguição política e policial a religiosos e opositores ao governo, geralmente ligados à direita e à ultradireita. Manágua, contudo, tem ignorado sistematicamente os apelos do Brasil. Desde o mês passado, as relações diplomáticas entre os dois países foram congeladas, por uma decisão de Brasília.