Segundo o ONS, os níveis dos reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste alcançaram o seu nível mais baixo, nesta segunda-feira, com uma redução de 26,85%. A marca equipara-se ao pior percentual de todos os tempos, observado em 31 de julho de 2001, quando o Brasil iniciava o racionamento de energia.
Por Redação - de São Paulo
Os principais analistas dos grandes fundos de investimento acordaram, nesta segunda-feira, com a crise hídrica no radar. O recente alerta do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) sobre o nível dos reservatórios brasileiros chama atenção para o risco de apagões pontuais em algumas partes do país, já a partir de novembro.
Segundo o ONS, os níveis dos reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste alcançaram o seu nível mais baixo, nesta segunda-feira, com uma redução de 26,85%. A marca equipara-se ao pior percentual de todos os tempos, observado em 31 de julho de 2001, quando o Brasil iniciava o racionamento de energia. A previsão dos analistas especializados no segmento é que esse percentual continue em queda até meados de agosto.
A mudança brusca de cenário, no entanto, não surpreendeu o doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) José Wanderley Marangon. O engenheiro integrou a diretoria das duas principais instituições do setor energético brasileiro, como assessor da diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e consultor do Ministério de Minas e Energia entre 2001 e 2003.
Modelos
Atualmente, Marangon preside uma empresa de consultoria responsável por pesquisas sobre o impacto das mudanças climáticas na matriz energética brasileira.
— Como eu acredito no estudo e acredito nos modelos globais, eu diria que já estava anunciado — afirmou, em entrevista nesta segunda-feira ao diário conservador paulistano Folha de S. Paulo (FSP).
“As consequências já são sentidas pela população há meses. Em julho, a tarifa da bandeira vermelha subiu para R$ 9,49 para cada 100 kWh — um reajuste de 52% em relação à junho. A cor indica, na conta de luz, que o país está acionando as suas usinas térmicas, mais caras, para compensar a baixa produtividade em outros tipos de geração”, acrescentou o FSP.
Marangon apoia os modelos climáticos utilizados pelos órgãos brasileiros olham para um passado que não existe mais.
— Os programas todos que os órgãos têm assumem que teremos o histórico de chuvas. E o histórico não está mais funcionando — observou.
Variáveis
Marangon considera o baixo nível dos reservatórios como o principal problema, em curso.
— O pessoal de Furnas brinca muito que antes eles faziam controles de cheia. Tinha que jogar água fora do reservatório. Hoje ninguém faz controle de cheia mais. O que é isso? O rio continua, a usina é a mesma. A gente não está tendo muita chuva. Esse é o ponto. Existe um problema contínuo de falta de chuva — acrescentou.
Pelo menos desde 2014, o engenheiro já fazia afirmações semelhantes. Naquele ano, foi publicado um estudo do qual Marangon foi um dos coordenadores, solicitado pela Aneel, sobre os impactos das mudanças climáticas na geração de energia elétrica. Mais de 70 pesquisadores se debruçaram no tema por três anos.
— Eu fazia a conversão chuva-vazão e as simulações energéticas para saber quanto isso representava em perda de geração — calculou.
Procurado pelo FSP, o ONS afirmou em nota que deve iniciar um projeto em 2022 para "identificar mudanças no regime de vazões e das principais variáveis meteorológicas de interesse para operação do SIN (Sistema Interligado Nacional) e investigar as suas causas". O SIN é o sistema de geração e transmissão de energia elétrica no Brasil, e o projeto citado será resultado de um convênio firmado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e o Banco Mundial.