A Iurd foi adversária do PT durante a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), mas passou a apoiar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, para romper novamente com a legenda em 2016, no contexto do golpe contra a presidenta deposta Dilma Rousseff (PT).
Por Redação - de São Paulo
Com a elevação da temperatura na crise entre a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) e o governo Bolsonaro, a reaproximação entre a seita e o PT parece mais próxima. A avaliação é do pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento e doutor em ciência política pela Universidade de Oxford Mathias Alencastro, em recente artigo publicado em um dos diários conservadores paulistanos.
A Iurd foi adversária do PT durante a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), mas passou a apoiar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, para romper novamente com a legenda em 2016, no contexto do golpe contra a presidenta deposta Dilma Rousseff (PT). Durante anos, as relações entre os principais líderes petistas e a cúpula da Iurd foi amigável e o ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella, sobrinho de Macedo, chegou a ocupar o Ministério da Pesca e Aquicultura no governo Dilma, entre 2012 e 2014.
Desde o rompimento, em 2016, Macedo realinhou-se politicamente à direita, apoiando o golpe, o governo Temer e, finalmente, a candidatura Bolsonaro, que teve um de seus eixos na aliança com o fundamentalismo católico e evangélico e a aliança com os líderes empresariais-midiáticos evangélicos. Macedo demonstra agora, mais uma vez, seu tino para acompanhar os governantes em seus melhores momentos, abandonando-os logo no início do declínio, conforme o caso atual.
África
A presença da Iurd, em Angola, alimenta a crise entre Macedo e Bolsonaro. “Componente essencial do projeto de poder da Igreja Universal desde os anos 1980, a expansão internacional tornara-se ainda mais importante a partir dos anos 2010. A presença na África, e especialmente em Angola e Moçambique, era o principal diferencial em relação às suas concorrentes nesse momento mais fragmentado e competitivo da comunidade evangélica no Brasil”, escreveu Alencastro.
Com apoio do governo do PT, o projeto da Iurd mudou de caráter no governo Bolsonaro, tornando-se, segundo Alencastro, “um processo de evangelização com fortes tons neocoloniais. Essa atitude caricatural rendeu o desprezo da maioria dos interlocutores africanos e um conflito aberto com as autoridades angolanas, que se recusaram a aceitar o governo brasileiro como mediador da sua relação institucional com a Igreja Universal, implantada no país há décadas.
A crise diplomática, que já dura mais de um ano, deixa claro que a boa inserção da Igreja Universal em Angola, além da tolerância aos seus métodos autoritários e centralizadores, dava-se no contexto de uma relação mais ampla e generosa com o governo brasileiro”, em relação aos governos do PT com a África em geral, e a Angola, em particular.
Comportamento
A ruptura da Iurd com o bolsonarismo, que parece inevitável, deve reaproximar uma das principais igrejas evangélicas do PT, segundo Alencastro:
“(Macedo) sabe que Lula, o único responsável político em condições de reconstruir a ponte entre Brasil e África a tempo de salvar os interesses da Igreja Universal, também é o principal rival de Bolsonaro nas eleições de 2022”.
“Não seria, portanto, uma surpresa se a crise na África marcasse o começo de uma reaproximação da Igreja Universal com o Partido dos Trabalhadores, num movimento consistente com as mudanças no comportamento do eleitorado evangélico detectadas pelo Datafolha”, resume o articulista.