Os ânimos já estavam conflagrados desde o pedido de impeachment dirigido ao vice-presidente da República, general Hamilton Mourão (PRTB).
Por Redação - de Brasília
O feriado de Páscoa, encerrado na véspera, ficou longe de significar uma trégua entre as facções políticas que se digladiam no intestino do governo de Jair Bolsonaro (PSL). A publicação de um vídeo do astrólogo Olavo de Carvalho na página do presidente da República, em uma rede social, foi o suficiente para levantar poeira no ambiente.
Os ânimos já estavam conflagrados desde o pedido de impeachment dirigido ao vice-presidente da República, general Hamilton Mourão (PRTB).
Palavrões
O conteúdo, veiculado no canal oficial do presidente no YouTube, ficou menos de 20 horas no ar, até ser retirado, às pressas. Mas ficou tempo suficiente para causar a indignação de parcela dos militares e de integrantes do PSL, o partido atualmente no governo. Nas imagens, com mais de 100 mil visualizações, o Olavo de Carvalho diz considerar Bolsonaro um “mártir”.
— Só de aguentar esses filhos da p… que têm em volta dele. Não dá, não — afirma Carvalho em determinada parte do vídeo. O crítico do comunismo, do qual fez parte até a década de 80, hoje residente no Estado da Virgínia, nos EUA, critica os novos políticos. São pessoas que, segundo afirmou, decidiram se aproveitar do sucesso momentâneo de Bolsonaro para ganhar espaço na esfera política.
— Dentro do governo é isso que vocês estão encontrando. É só intriga, é só sacanagem, egoísmo, vaidade, é só isso que tem. Tem que levantar a cultura e esperar que um dia talvez surja uma classe política melhor, educada por nós — afirma Olavo.
Ultradireita
Em seguida, criticou fortemente as Forças Armadas.
— Os milicos têm que começar por confessar os seus erros antes de querer corrigir os erros dos outros. Essa é a lei de Cristo. Primeiro os teus pecados, depois os do vizinho. Mas no Brasil não, todo mundo é assim: ´somos os patriotas, os heróis, salvamos o Brasil do comunismo, nós isso, aquilo´. Tudo conversa mole. Quem salvou o Brasil do comunismo foram as lideranças civis em 1964 — afirma o simpatizante da ultradireita, que ainda liga o surgimento do PT aos militares.
A paciência dos militares, no entanto, parece que está se esgotando. Um general teria afirmado a jornalistas, em condição de anonimato, que “com sua mente brilhante e festejada, ele (Olavo) nunca fez nada além de proselitismo. Continuamos aguardando o que ele vai produzir de concreto pelo Brasil”.
Enquadrado
Filho número 2 do presidente, Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro pelo PSL, teria sido advertido para o cuidado necessário ao publicar nas páginas do pai, nas redes sociais, segundo disseram fontes a colunistas da mídia conservadora.
Seu acesso às redes tende a ser limitado após a publicação do vídeo polêmico; o que o fez protestar logo após a exclusão do filme. No Twitter, o Número 2 disse que, a partir de agora, inicia-se uma nova fase, “longe de todos que de perto nada fazem a não ser para si mesmos”.
Assista ao vídeo:
Base aliada
Os protestos contra o ataque aos militares chegou à liderança do do PSL na Câmara. O deputado Delegado Waldir (GO) saiu em defesa da caserna, duramente atacada por Carvalho no vídeo publicado por durante a Páscoa.
— O mais absurdo é um 'guru' que vive nos EUA atacar o governo e os militares. O presidente (Bolsonaro) não pode ficar à mercê dessas pessoas e pegar a opinião do 'louco do dia’ — disparou o parlamentar, em entrevista a jornalistas.
Sem articulação
Segundo afirmou, o presidente Jair Bolsonaro precisa "dar um basta nesse astrólogo, que comanda dois ministérios (em referência aos ministros da Educação e das Relações Exteriores que foram indicados por Olavo de Carvalho), pois as pessoas querem Educação, Saúde e Segurança".
— Basta de discutir ideologia. Todo mundo espera isso do Brasil. Temos de dar um passo à frente, gerar emprego. Sou Bolsonaro de carteirinha, mas é preciso o governo parar de discutir o 'sexo dos anjos' com um futurólogo que mora nos EUA. É um trem muito absurdo isso — acrescentou.
Na entrevista, Waldir também criticou a articulação política do governo, conduzida pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
— O PSL tem feito sua parte, mas não tem culpa se o Onyx não criou a base. Venho falando há tempos que o governo não tem base no Congresso — resumiu o deputado.