Ao negar a agenda, Kiev criticou a “escolha ruim” de Antonio Guterres de viajar a Kazan para a cúpula dos BRICS e disse que a visita “prejudica a reputação da ONU”.
Por Redação, com CartaCapital – de Kiev
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, se recusou a receber em Kiev o secretário-geral da ONU, António Guterres, após sua participação na reunião de cúpula dos Brics na Rússia, informou uma fonte da presidência da ex-república soviética.
– Depois de Kazan, (Guterres) queria visitar a Ucrânia, mas o presidente não confirmou sua visita (…) pela humilhação da razão e do direito internacional em Kazan – declarou a fonte, que pediu anonimato, à agência francesa de notícias AFP.
Kazan é a cidade russa que recebeu o encontro de cúpula dos Brics, que teve o presidente russo, Vladimir Putin, como anfitrião.
Guterres viajou na quinta-feira à Rússia para um encontro com Putin à margem da cúpula, que aconteceu de 22 a 24 de outubro.
O secretário-geral da ONU repetiu a Putin que “a invasão russa da Ucrânia” é uma “violação” do direito internacional, segundo um comunicado divulgado por seu porta-voz.
O Kremlin não fez comentários sobre as discussões entre os dois representantes.
Antes de reunião com Putin, Guterres reiterou aos participantes do encontro de cúpula por uma “paz justa” na Ucrânia, retomando as palavras de Zelensky em seu “plano para a vitória”.
Kiev criticou a “escolha ruim” de Guterres de viajar a Kazan e disse que a visita “prejudica a reputação da ONU“.
O grupo Brics foi criado em 2009 com quatro membros (Brasil, Rússia, Índia e China), mas foi ampliado no seguinte com a África do Sul. Mais recentemente, passou a contar com Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos.
Putin diz que relações EUA-Rússia dependerão de Washington após as eleições
O presidente russo, Vladimir Putin, avaliou, na quinta-feira, que a relação da Rússia com os Estados Unidos dependerá de Washington após as eleições presidenciais de novembro e elogiou a sinceridade de Donald Trump sobre seu desejo de alcançar a paz na Ucrânia.
– O desenvolvimento das relações russo-americanas depois das eleições dependerá dos Estados Unidos. Se eles estiverem abertos, nós também estaremos. E se eles não quiserem, não há problema – declarou o presidente russo em coletiva de imprensa ao fim da cúpula do Brics na cidade russa de Kazan.
Putin elogiou as “declarações sinceras” sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia feitas pelo ex-presidente e candidato republicano Donald Trump, que disputa a Casa Branca com a atual vice-presidente democrata, Kamala Harris.
Trump “falou de querer fazer tudo o que for possível para pôr fim ao conflito na Ucrânia. Me parece que são declarações sinceras. E declarações como esta, de onde quer que venham, são bem-recebidas”, disse o líder del Kremlin.
Mas alertou que um eventual acordo de paz com a Ucrânia, onde o Exército russo controla 20% do território, deveria se basear “nas realidades” do campo de batalha.
Os adversários da Rússia “não escondem o seu objetivo de proporcionar ao nosso país uma derrota estratégica”, “são cálculos ilusórios que só podem ser feitos por aqueles que não conhecem a história da Rússia”, disse Putin.
O líder russo enfrentou apelos dos seus aliados do Brics para pôr fim ao conflito na Ucrânia, onde Moscou lançou uma ofensiva em fevereiro de 2022.
O Brics, um grupo de nove países que representam cerca de metade da população mundial e um terço do PIB do planeta, podem ser “uma força estabilizadora para a paz”, disse o presidente chinês, Xi Jinping, principal aliado da Rússia.
No âmbito desta cúpula, Putin se reuniu com o secretário-geral da ONU, António Guterres, seu primeiro tête-à-tête em mais de dois anos, severamente criticado por Kiev.
Guterres disse a Putin que “a invasão russa da Ucrânia constitui uma violação” do direito internacional, assinalou um porta-voz do secretário-geral, que também defendeu uma “paz justa”.
– O secretário-geral disse que todos deveríamos viver como uma grande família, infelizmente, nas famílias há disputas, escândalos, disputas de propriedade e por vezes até brigas – respondeu Putin.
Críticas de Kiev
Guterres criticou insistentemente a campanha militar russa na Ucrânia, que descreve como um “precedente perigoso” para o mundo. Sua última reunião com Putin foi nas primeiras semanas da ofensiva, quando viajou para Moscou durante o cerco de Mariupol, no sul da Ucrânia.
Desde então, Guterres participou nos esforços de paz entre os dois lados e ajudou a negociar um acordo que permitiu à Ucrânia exportar cereais de seus portos em 2022.
Em seu encontro nesta quinta, Guterres insistiu na necessidade de estabelecer “a liberdade de navegação no Mar Negro”, essencial para a Ucrânia e para a segurança alimentar e energética do mundo.
A Ucrânia criticou duramente a decisão de Guterres de se reunir com Putin.
O porta-voz da ONU, Farhan Haq, afirmou que o secretário-geral aproveitaria a reunião com Putin para “reafirmar as suas posições conhecidas sobre a guerra na Ucrânia”.
Ele acrescentou que Guterres está pronto para oferecer sua mediação, mas esperaria o momento certo para fazê-lo.
Venezuela denuncia veto do Brasil
O grupo Brics nasceu em 2009 com quatro membros, Brasil, Rússia, Índia e China, e posteriormente expandiu-se com África do Sul, Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos.
A Venezuela vem tentando se juntar ao bloco, mas topou com o veto imposto pelo ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que foi mantido por seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
A delegação brasileira “decidiu manter o veto (…) em uma ação que constitui uma agressão à Venezuela e um gesto hostil”, denunciou o MRE venezuelano em comunicado.
Apesar disso, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, acusado de fraude em sua reeleição, participou da cúpula em busca de cooperação e investimentos.
– A Venezuela faz parte da família do Brics, agradeço o convite que me fizeram – disse Maduro, que se mostrou a favor de uma “refundação do sistema das Nações Unidas” e “da necessidade de avançar em passos mais ousados na consolidação do novo banco” do bloco.