Entre crises e resistências, a política do presidente estadunidense expõe um mundo cada vez menos dependente da hegemonia norte-americana.
Por Luciano Siqueira – de Brasília
Para além do grotesco espetáculo de arrogância e inconsequência encetado por Donald Trump neste início do seu novo governo, há muito mais do que se imagina. Nos planos interno e externo.

O mundo estremece pelo movimento de placas tectônicas que alteram o desenho geopolítico tendendo a uma explícita multipolaridade. Um ambiente em que cada vez menos é possível aos Estados Unidos imporem seus desígnios.
O subcontinente sul-americano, embora marcado por pesados desencontros, já não pode ser tratado como “quintal”.
A Europa, enredada em suas próprias contradições internas e sob condições econômicas adversas, vê-se desafiada a reagir.
O chamado sul global, impulsionado pelo BRICS mediante crescentes trocas comerciais e investimentos em infraestrutura, financiamentos a taxas vantajosas, estímulo à formação de blocos regionais, faz-se contraponto crescentemente eficaz às imposições norte-americanas.
A guerra Russia-Ucrania e os graves conflitos no Oriente Médio e região parecem atrair Trump para arroubos aventureiros.
Historicamente, vários presidentes norte-americanos governaram em situações conturbadas, de Franklin D. Roosevelt, às voltas com a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial a Barack Obama, em plena crise financeira global. Donald Trump, idem, com a particularidade de apostar no caos como meio tresloucado de enfrentar a decadência da ex-superpotência unipotente.
Taxação de produtos importados
Internamente, multiplica-se a resistência à taxação de produtos importados em razão das imediatas consequências, tanto no sentido do aumento do custo de vida e da inflação, atingindo duramente a chamada classe média e pequenos e médios empresários, como geradora de desemprego.
O influente Washington Post, em matérias contundentes, denuncia a aventura trumpista como fator de enfraquecimento da influência externa norte-americana.
Mesmo o ultraconservador Wall Street Journal se pronuncia na mesma direção criticando o que chama de “a guerra comercial mais idiota da história”.
Cá em terras tupiniquins, embora os Estados Unidos já não sejam nossos principais parceiros comerciais há mais de 10 anos, mas em 2024 as transações entre os dois países chegaram a US$ 30 bilhões, quem sabe, nesse cenário, tenhamos uma nova janela de oportunidades. Por hora, vale espreitar.
Luciano Siqueira, é médico, membro do Comitê Central do PCdoB e secretário nacional de Relações Institucionais, Gestão e Políticas Públicas do partido, foi deputado estadual em Pernambuco e vice-prefeito do Recife.
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