Rio de Janeiro, 18 de Dezembro de 2025

Stedile aponta crise estrutural no capitalismo e declínio dos EUA

João Pedro Stedile analisa a crise estrutural do capitalismo e o papel do Brasil em um mundo em transformação, destacando a necessidade de reformas sociais e a reeleição de Lula.

Quinta, 18 de Dezembro de 2025 às 20:15, por: CdB

No Brasil, o contexto de disputa também se acirrou, com a condenação e prisão —  inéditas na história do país — de um ex-presidente e de militares de alta patente por tentativa de golpe de Estado.

Por Redação, com BdF – de São Paulo

Um dos principais coordenadores do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o economista João Pedro Stedile, avalia que a questão de fundo da conjuntura dinâmica, em curso no mundo, é uma profunda crise estrutural do sistema capitalista e a decadência do imperialismo norte-americano.

Stedile aponta crise estrutural no capitalismo e declínio dos EUA | João Pedro Stedile, dirigente do MST, avalia o cenário macroeconômico
João Pedro Stedile, dirigente do MST, avalia o cenário macroeconômico

O ano de 2025, segundo o dirigente histórico do MST, foi marcado por um conjunto de instabilidades, que vão do acirramento de conflitos bélicos — como o massacre promovido por Israel ao povo palestino na Faixa de Gaza — às tarifas abusivas impostas pelos Estados Unidos, sob comando de Donald Trump, a outros países. 

No Brasil, o contexto de disputa também se acirrou, com a condenação e prisão —  inéditas na história do país — de um ex-presidente e de militares de alta patente por tentativa de golpe de Estado. 

 

Direita

Segundo Stedile, “faliu o modelo anterior dominado pelos Estados Unidos e Europa Ocidental, e ainda não emergiu uma força multipolar”.

— Estamos em uma transição que pode demorar anos. O governo Trump está tentando se garantir controlando a América Latina, o que esperamos que os povos latino-americanos não permitam — afirmou, em entrevista ao site de notícias Brasil de Fato (BdF), nesta quinta-feira. 

O economista prevê que “a China vai desempenhar um papel muito importante, porém, eles são uma civilização de mais de 5 mil anos e são muito cautelosos”. 

— Não querem usar a força militar, que, no fundo, é o que decide a rapidez da transição. Então, a China está usando a tecnologia como maneira de se contrapor ao império — acrescentou.

 

Governo Lula

Em relação ao Brasil, Stedile é enfático ao afirmar que, ainda que a eleição do terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 tenha sido fundamental no enfrentamento à extrema direita, o país ainda não realizou as reformas estruturais necessárias para, por exemplo, superar a pobreza. 

Lula, que iniciou seu governo com baixos índices de aprovação da população e sob constante pressão da direita no Legislativo e do capital financeiro, conseguiu aprovar uma de suas agendas prioritárias  — a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil — e recuperou o fôlego, voltando a aparecer nas pesquisas como o favorito para as eleições de 2026.

— A sociedade brasileira é a mais desigual do mundo. Há uma diferença abissal entre 1% de bilionários e 88% da população que vive do trabalho e tem que ralar todo dia para comer. Essa estrutura não se alterou com o governo Lula, porque não foram feitas reformas estruturais. Embora o governo tenha recuperado políticas de assistência social como o Bolsa Família, elas não alteram as condições estruturais de vida da população — observa o dirigente do MST. 

 

Reeleição

Ainda assim, Stedile afirma que a principal tarefa do próximo ano será reeleger o petista, mas sem abrir mão de estimular, ao longo da campanha, o debate ideológico com a sociedade e o fortalecimento de um movimento de massas. 

— Só a luta de massas arranca conquistas e mudanças estruturais. O voto é importante, mas insuficiente. A campanha de reeleição deve ter duas vertentes: debater um projeto de país, discutindo reindustrialização, soberania alimentar e defesa da natureza; e dialogar com a população sobre necessidades emergenciais. Um novo governo Lula tem que se comprometer, por exemplo, com a redução da jornada de trabalho para 34 ou 36 horas — resumiu.

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