Rio de Janeiro, 12 de Novembro de 2024

Surge um fio de esperança nas eleições locais francesas

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Segunda, 29 de Junho de 2020 às 16:23, por: CdB

Apesar do “desconfinamento” e a segurança sanitária, o traumatismo da pandemia permanece e o descrédito político também. Talvez, esta grande abstenção, seja uma forma de protesto ao governo Macron por ter mantido o primeiro turno das eleições municipais em pleno pico do coronavírus.

Por Marilza de Melo-Foucher - de Paris
Os franceses transformaram as eleições municipais locais em um plebiscito contra o “macroinismo”. Seu partido foi duramente derrotado. Entretanto, a maioria decidiu não exercer sua cidadania política neste segundo turno das eleições municipais. Houve uma abstenção de 60%! É certo que essa abstenção histórica faz parte do contexto excepcional de uma crise sanitária sem precedentes, que prejudicou os eleitores, apesar das medidas cautelares reforçadas.
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Na eleição francesa, os candidatos de esquerda venceram nos maiores colégios eleitorais
Apesar do “desconfinamento” e a segurança sanitária, o traumatismo da pandemia permanece e o descrédito político também. Talvez, esta grande abstenção, seja uma forma de protesto ao governo Macron por ter mantido o primeiro turno das eleições municipais em pleno pico do coronavírus. Este fato exige ser analisado posteriormente. Apesar da pandemia e desta fragilidade da política local, um fio de esperança renasce nestas eleições municipais. Neste domingo, 28 de junho, as eleições municipais viram o avanço da representação feminina de esquerda e ecologista na vida política. Em várias grandes cidades francesas, os cidadãos optaram por votar não em um homem, mas em uma mulher. Uma novidade na história da Quinta República.

Extrema direita

Outra boa novidade nessas eleições municipais foi a força da união das esquerdas com ecologistas. Graças a esta união, grandes cidades detidas pela direita há décadas, como Marseille, Bordeaux , Strasbourg, Nancy, Chamberry, Tours passarão a ser governadas pela esquerda ecologista. Outras municipalidades já governadas pela esquerda (PS) foram preservadas como Paris, Lille, Rennes, Nantes, Montpellier, Avignon, Annecy,  Rouen, Poitiers, Dijon, Villeurbanne, Le Mans, Bourges. Os ecologistas, em aliança com a esquerda, puderam também preservar a cidade de Grenoble; além de ganhar em Lyon e Besançon, O partido tradicional de direita ganhou nas médias cidades. A extrema direita que pretendia expandir sua implantação local não venceu o páreo, ganhou apenas uma cidade importante que é Perpignan (120.000 habitantes.) detida pela direita republicana. Os dirigentes do  partido Europa Ecologia - Os Verdes (EEV) - não podem aclamar  uma vitória do partido nas eleições municipais na França, eles sabem que a conquista de algumas cidades importantes foi graças a ajuda dos socialistas já bem implantados localmente e ao apoio do Partido Comunista e do partido de Melenchon - France Insoumise.

Verdes

Hoje existe uma recomposição política de forças de esquerda na França que incorporaram a ecologia como uma temática transversal em seus programas. A emergência de uma consciência ambiental exige nova visão do desenvolvimento territorial e a preocupação com o meio ambiente sai do discurso para a experimentação local. Embora ainda incipiente, a questão do desenvolvimento territorial inclusivo e com sustentabilidade ambiental vai sendo implantado em algumas municipalidades de esquerda e ganha a adesão dos cidadãos cada vez mais conscientes da necessidade de investir localmente para melhorar as condições ambientais nas cidades. Hoje os “verdes”  são forçados a reconhecer a conversão ecológica de vários prefeitos socialistas e comunistas no território francês. Os ecologistas aprenderam que, sem alianças com a esquerda, eles não teriam conquistado tantas municipalidades. O primeiro secretário do EEV lançou na noite de domingo passado: "Teremos que colocar nossa bandeira e nossa mente partidária no bolso, porque a bandeira comum é mais forte do que outras. "E para citar a máxima do time de futebol francês na Copa do Mundo de 2006", caminhamos juntos, morremos juntos ", ao qual ele acrescenta: "Vencemos juntos." Marilza de Melo-Foucher é economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil, em Paris.
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