Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

STF recebe pedido para suspensão do ‘Orçamento secreto’

No mandado de segurança, Renan Calheiros argumenta também que “os procedimentos próprios do ‘orçamento secreto’ privilegiam incontáveis candidatos a cargos eletivos, em detrimento de outros, concorrentes ou não”.

Sexta, 25 de Março de 2022 às 12:58, por: CdB

No mandado de segurança, Renan Calheiros argumenta também que “os procedimentos próprios do ‘orçamento secreto’ privilegiam incontáveis candidatos a cargos eletivos, em detrimento de outros, concorrentes ou não”.

Por Redação, com OESP - de Brasília
O Supremo Tribunal Federal (STF) consignou o recebimento de mandado de segurança, assinado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), em caráter de urgência, pela suspensão imediata da execução das emendas do chamado orçamento secreto. Segundo o parlamentar, a liberação de recursos para um grupo seleto de parlamentares pode desequilibrar a disputa eleitoral e causar interferência nas eleições deste ano.
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O senador Renan Calheiros (MDB-AL) critica a distribuição de recursos sem qualquer forma de fiscalização
Renan pediu ao presidente do Supremo, Luiz Fux, que suspenda a execução das emendas até o fim da disputa, em outubro, ou até o julgamento do mérito de seu pedido. O senador alerta que durante a corrida eleitoral o orçamento secreto será “novamente usado de forma espúria, para beneficiar candidatos ligados ou cooptados pela política do atual governo, pelo presidente da Câmara dos Deputados, pelo relator-geral do orçamento e pelos demais impetrados”. No mandado de segurança, Renan Calheiros argumenta também que “os procedimentos próprios do ‘orçamento secreto’ privilegiam incontáveis candidatos a cargos eletivos, em detrimento de outros, concorrentes ou não”. Ele ainda acrescenta que o dispositivo se enquadra nos crimes eleitorais de abuso de poder político e econômico, assim como o de intenção de desequilibrar a disputa eleitoral, de maneira irregular, oculta e dissimulada.

Recursos

O governo Jair Bolsonaro (PL) criou o orçamento secreto, um esquema paralelo bilionário em emendas, no final de 2020, para conseguir apoio do chamado ‘Centrão’ no Congresso Nacional. Uma série de reportagens no diário conservador paulistano O Estado de S.Paulo (OESP) revelou o escândalo a partir de centenas de ofícios enviados por deputados e senadores a ministérios do Executivo federal. Os documentos mostram que esse esquema atropela leis orçamentárias, já que são os ministros e não os congressistas que deveriam definir onde aplicar os recursos. Além disso, os acordos e o direcionamento do dinheiro não foram públicos, assim como a distribuição não foi igualitária entre os congressistas, evidenciando um interesse eleitoral do governo. Em seu pedido de suspensão ao STF, o senador Renan Calheiros lembra que os repasses do orçamento secreto não só sustentam o governo Bolsonaro, como representa “a distribuição desigual e pessoal de emendas e recursos e, por conseguinte, a disputa não equitativa dos cargos eletivos no próximo sufrágio”.

Esquema

“No caso em comento, verifica-se grave risco à legitimidade das eleições, influência direta do poder econômico, flagrante abuso do exercício das funções, dos cargos e dos empregos na administração direta – exatamente o caso presente e os atos coatores praticados pelas autoridades impetradas”, escreveu o senador no documento. Em 2021, a vice-presidente do STF, Rosa Weber, chegou a suspender a execução do orçamento secreto e ter a sua decisão referendada pelos demais ministros, mas recuou após sofrer pressão dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). No segundo julgamento do caso no plenário da Corte, em dezembro passado, a maioria dos ministros mudou seus votos para liberar os repasses do esquema, exigindo como contrapartida que os parlamentares dessem transparência, em até nove dias, aos responsáveis pelas indicações e ao destino do dinheiro, o que ainda não foi feito. Líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse que o esquema das emendas de relator é um “sistema de cooptação de bancadas mais escandaloso do que qualquer outro que já existiu” no Congresso.
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