Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Sobrinho visado vai a formatura da PF e militares se calam sobre trapalhadas do presidente

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Segunda, 14 de Dezembro de 2020 às 12:50, por: CdB

Enquanto o presidente Bolsonaro discursava para uma plateia lotada de agentes federais, no Quartel General do Exército a alguns quilômetros dali o ambiente permanecia mais sombrio e silencioso.

Por Redação - de Brasília
Sobrinho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o assessor parlamentar Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio, acompanhou o tio, nesta segunda-feira, à cerimônia de encerramento dos cursos de formação de delegados e peritos da Polícia Federal (PF). O único sem o uso da máscara higiênica, em meio a uma plateia que obedecia as orientações das autoridades sanitárias e adotava em massa o equipamento de proteção individual, ele assistiu à formatura das turmas que passam a integrar a corporação.
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“Bolsonaro ‘paz e amor’, do diálogo e de um suposto governo de centro-direita é uma contrafação
Além do ex-assessor parlamentar do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), que renunciou ao cargo depois que o então vice-líder do governo foi flagrado com mais de R$ 30 mil na cueca durante uma operação da PF, no palco do evento estiveram o primo de Índio, o deputado e policial federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, que assume este mês uma cadeira no Tribunal de Contas da União (TCU), o diretor-geral da corporação, delegado Rolando Alexandre de Souza. — O Brasil reconhece o trabalho de vocês. Vocês nos dão esperanças — disse Bolsonaro, que é investigado pela PF em inquéritos instalados no Supremo Tribunal Federal (STF).

Silêncio

Enquanto Bolsonaro mantinha a estridência de seu discurso, para uma plateia lotada de agentes federais, a apenas alguns quilômetros dali, no Quartel General do Exército, o ambiente permanecia mais sombrio. Na análise do jornalista Marcelo Godoy, que mantém uma coluna especializada sobre as Forças Armadas no diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo (OESP), “há muito silêncio em Brasília”. Ainda segundo Godoy, “o governo Bolsonaro insiste em tornar as coisas difíceis - e não só para os civis”. “Passou despercebido na semana passada mais uma trapalhada do capitão: sem alarde, ele tentou mudar a forma de promoção dos coronéis do Exército e da Força Aérea e dos capitães de mar e guerra por meio do decreto 10.563, publicado no dia 7. Acabava a promoção por tempo de serviço e mantinha-se apenas aquela motivada pelo mérito, que para alguns podia significar uma forma ‘mais política’ e, talvez, subjetiva para compor os futuros quadros de acesso”, continuou. De acordo com o texto, “algo não caiu bem dentro da tropa”.

Pandemia

“Em três dias, o decreto estava cancelado por outro, o de número 10.567. (…) Ninguém pensou que o fim da promoção por antiguidade dos coronéis podia ser mal interpretado? Há sempre os que poderiam enxergar na medida uma manobra de generais comprometidos até a medula com o atual governo para aumentar seu controle sobre os oficiais superiores”, pontua. E questiona: “Se todos sabem que percepções mudam com o tempo, por que se publicou o decreto para revogá-lo dias depois? O silêncio entre os militares foi notável”. “Há muitos silêncios ultimamente. E este, talvez, nem seja o pior. Há o silêncio sobre o gênio da logística, o general Eduardo Pazuello, aquele que era para ser ministro interino, virou titular e não consegue, desde então, fazer uma licitação para comprar seringas. O intendente que abaixa a cabeça para o capitão e obedece às suas ordens quer inundar o país com cloroquina em vez de vacinas para o desespero dos brasileiros que querem se imunizar, vencer o vírus e voltar à vida anterior à pandemia. E, depois, o vai reclamar do que fala o ministro Gilmar Mendes…”, acrescenta.

‘Peito aberto’

O articulista realça que “Pazuello e seu chefe podiam ter assinado compromissos de compra com vários fabricantes de vacina há meses, mas preferiram brigar com quem achava a doença um problema sério”. “Agora os brasileiros estão condenados ao fim da fila. As mortes dos ‘maricas’ se avolumaram - e vão continuar -, sem que os dois se dessem conta de que eles eram brasileiros. Além de politizar a pandemia - ainda que governadores tenham feito o mesmo -, Bolsonaro agiu como um capitão de artilharia que resolve não disparar seus obuseiros para apoiar a infantaria porque acha que os infantes devem ser corajosos o suficiente para lidar com as metralhadoras inimigas de peito aberto. “Qualquer militar saberia qualificar esse tipo de comportamento em um campo de batalha, mas parece que, no Planalto, considera-se que civis brasileiros merecem menos proteção do que soldados em combate”, conclui.  
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