A Rússia nos é “vendida”, pelos grandes meios de comunicação, como um país tirânico, cruel, matador de crianças, com dirigentes truculentos, verdadeiras bestas ferozes e desumanizadas.
Por Wellington Duarte– de Brasília
A Federação Russa é o maior país do mundo, com 17,1 milhões de Km², duas vezes o tamanho do BraZil, embora em termos de população (146 milhões de habitantes), seja apena o nono maior do mundo, ficando atrás do nosso país. Com relação à sua riqueza medida em Produto Interno Bruto (em valores correntes e em dólar), está em décimo primeiro lugar. Detalhe: A Federação Russa não é a União Soviética. Parece ridículo ter de escrever isso, mas muitos ainda acham que a Rússia é um “país comunista”. A Federação Russa, que aos olhos de muita gente é um corpo homogêneo (todo mundo fala russo e é russo) é um mosaico em que, dentro dela, estão nada menos que 22 repúblicas, autônomas, ou seja, que tem suas próprias leis, mas que aceitaram estar sob o “guarda-chuva” da “mãe Rússia”. Nesse imenso país vivem os russos propriamente ditos, que são, de fato, o maior grupo étnico representando quase 80% da população, mas lá encontram-se também minorias importantes que representam quase 20% da população da Federação (povos turcos, povos do Cáucaso, finlandeses, ucranianos e outros), um país em que se registram mais de 100 línguas minoritárias. Esse é o grande problema da Rússia. Ser a Rússia. Como nós, brasileiros, recebemos uma educação secundária cuja história é centrada nos feitos da Europa Ocidental, isso quando é feito de forma correta, desconhecemos basicamente o resto da história do mundo e, fruto dessa deficiência, quando nos deparamos com o que está acontecendo na Europa, a tendência quase natural é que nos somemos a essa visão eurocêntrica ocidental e a Rússia nos é “vendida”, pelos grandes meios de comunicação, como um país tirânico, cruel, matador de crianças, com dirigentes truculentos, verdadeiras bestas ferozes e desumanizadas, que fecharam a boca de mais 140 milhões de russos e conduzem uma “guerra do mal”. O cercamento militar, econômico, político e cultural da Rússia, um movimento truculento dos países europeus (da União Europeia), quase todos alinhados com os interesses da indústria bélica dos EUA, tentam, pela primeira vez na história moderna, tornar um país insolvente e inviável. As sanções, que antes eram tratadas como “armas políticas”, agora se transformaram em “armas de guerra” e seu “poder de fogo” podem destruir um país, não com a mesma velocidade de um míssil hipersônico russo, mas com um poder mais devastador e cruel, pois vai asfixiando a economia do país e matando sua população. Mas a Rússia merece isso, pois é um país “mauzão”. Né isso?Estados Unidos
O que os EUA fizeram com Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, Síria, Irã e, em menor grau, com a própria China, é agora colocado como uma poderosa peça de guerra. Os EUA estão usando, de forma absolutamente descarada, a Ucrânia como “bucha-de-canhão” e a União Europeia como seu “ajudante de ordens”, para tentar manter sua hegemonia econômica, financeira e militar no mundo, neutralizando a “ameaça russa”, já que o governo moscovita está questionando o “império estadunidense”. A hegemonia econômica dos EUA está sob risco, já que a China está, a passos largos, ultrapassando sua economia; já a hegemonia financeira pode estar com os seus dias contados, já que muitos países começam a ver o dólar como uma moeda que pode, a qualquer momento, ser usada como arma estratégica. Putin, que durante algum tempo foi visto como um “aliado difícil”, agora passou a ser um monstro fanático, parecido com o próprio Hitler, de acordo com os delírios de Biden, que tem assustado líderes dos países mais fortes da União Europeia, encalacrados nessa situação. Para a nossa mídia, a Rússia é Rússia. E pronto. É má, e pronto. Não teve nenhuma razão para invadir a Ucrânia. Não! Mas se havia a possibilidade do governo pró-nazista de Zelensky, antes um servo medíocre dos EUA, e agora um Churchill repaginado, colocar mísseis a dois minutos de Moscou, o que a Rússia deveria fazer? De acordo com esses patéticos analistas, nada, pois a “soberania” da Ucrânia a protegia. De repente os EUA, que estão fazendo a mesmíssima coisa que fizeram no Kosovo, Iraque, Síria e Líbia, se tornaram “cavaleiros da democracia” e o singelo fato de terem interferido explicitamente na Ucrânia em 2014, como aliás fizeram em Pindorama, não tem mais relevância. Aliás a relevância se ancora no poder estadunidense, e só! O mundo não será mais o mesmo.Wellington Duarte, é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Gande do Norte - UFRN, doutor em Ciência Política e presidente do Sindicato dos Professores da UFRN (ADURN-sindicato).
As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil