Equipamento desatualizado e impróprio para uso, treinamento inadequado e reação descoordenada são alguns dos pontos identificados na avaliação interna da Polícia do Capitólio em relação ao ataque de apoiadores de Trump.
Por Redação, com DW - de Washington
Um relatório interno da Polícia do Capitólio dos EUA identificou uma série de deficiências na preparação e na resposta das forças de segurança em conexão com a invasão do edifício do Congresso norte-americano.
Em 6 de janeiro, uma turba de apoiadores de Donald Trump, incluindo neonazistas, invadiu o Capitólio durante a sessão conjunta do Congresso que certificaria a vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais, forçando a saída abrupta de parlamentares e a interrupção da cerimônia.
O relatório concluído no mês passado foi divulgado nesta quarta-feira pela imprensa norte-americana, um dia antes de ser debatido numa audiência no Congresso. O documento acrescentou detalhes agravantes às previamente notórias falhas amplas de segurança e dos canais de inteligência, como equipamento desatualizado, armamento expirado que não pôde ser usado, treinamento inadequado e reação descoordenada.
O documento de 104 páginas assinado pelo inspetor geral da Polícia do Capitólio, Michael Bolton, concluiu que as forças de segurança não se prepararam adequadamente, embora tenham recebido relatórios de inteligência três dias antes sobre uma ameaça de invasão.
A avaliação do serviço de inteligência apontava que o alvo dos partidários de Trump "não era uma manifestação adversária, mas o próprio Congresso" e que isso poderia resultar numa "situação perigosa para os policiais e também para a esfera pública". No entanto, o planos das forças policiais do Capitólio para o dia do motim não previa "nenhuma ameaça particular conhecida relacionada com a sessão conjunta do Congresso".
Em um cronograma extenso e detalhado do dia da invasão, o relatório descreveu conversas entre oficiais enquanto eles discordavam sobre se as forças da Guarda Nacional eram necessárias para apoiar o reduzido grupamento da força policial do Capitólio. O relatório cita um oficial do Exército dizendo ao então chefe da Polícia do Capitólio Steven Sund que "não gostamos da ótica da Guarda Nacional formando uma barreira no Capitólio" depois que os insurgentes há haviam invadido.
O Pentágono acabou por aprovar a presença da Guarda Nacional horas depois. Neste ínterim, Sund também uma conversa via teleconferência com o então vice-presidente Mike Pence, conforme aponta o cronograma do relatório. Pence estava num local seguro no Capitólio porque havia supervisionado a contagem dos votos do Colégio Eleitoral, e alguns manifestantes pediram seu enforcamento por ter indicado que não tentaria impugnar a vitória eleitoral do atual presidente dos EUA, Joe Biden.
As deficiências da Polícia do Capitólio
A avaliação de Bolton constatou que as deficiências da Polícia do Capitólio eram generalizadas. O equipamento estava velho, escudos estilhaçaram em impactos e armamento expirado em até 20 anos, e mal armazenado, a chefia não cumpriu as recomendações prévias para aprimorar a divisão de inteligência e havia uma extensa falta de políticas ou procedimentos para a Unidade de Perturbação Civil, uma divisão que existia para garantir que as funções legislativas do Congresso não fossem interrompidas por agitações civis, exatamente o que ocorreu em 6 de janeiro, quando apoiadores de Trump tentaram derrubar a sessão na qual estavam sendo contados os votos.
O relatório foi divulgado num momento em que a força policial do Capitólio enfrenta moral baixo e se encontra numa iminente crise. Muitos oficiais trabalham em turnos extras e são compelidos a horas extras para proteger o Capitólio após a invasão. A chefe interina Yogananda Pittmann recebeu um voto de confiança do sindicato em fevereiro, em meio a desconfiança generalizada entre as bases policiais.
A força policial do Capitólio também enfrenta os desdobramentos de um luto interno devido a morte de dois colegas, Brian Sicknick, que desmaiou e morreu após entrar em confronto com manifestantes em 6 de janeiro, e William Evans, que foi morto em 2 de abril quando foi atingido por um carro que foi lançado contra uma barricada montada do lado de fora do Senado.