Os dados refletem uma conjuntura “dramática”, agravada por dois fatores centrais: a crise econômica e o aumento da insegurança.
Por Redação, com Página12 – de Buenos Aires
A rejeição ao presidente argentino Javier Milei atingiu níveis alarmantes, com 58% da população declarando-se contra as medidas adotadas por seu governo, segundo levantamento da consultora Zuban Córdoba antecipado ao canal argentino de TV C5N por seu diretor, o analista político Gustavo Córdoba. O levantamento, divulgado neste domingo, evidencia o crescente desgaste da gestão anarco-capitalista em um momento de forte tensão social, marcada por episódios de repressão institucional e incerteza econômica.

— O governo, o presidente e sua gestão apresentam cerca de 58% de rejeição, com apenas 41% de aprovação — afirmou Córdoba.
Para ele, os dados refletem uma conjuntura “dramática”, agravada por dois fatores centrais: a crise econômica e o aumento da insegurança.
— A economia não melhora, o problema dos rendimentos e do poder de compra da população não se resolve — constata.
Redes sociais
Segundo o analista, a insegurança, antes secundária, agora rivaliza com a inflação como principal preocupação dos argentinos.
— É um tema sobre o qual o governo fala muito, mas se ocupa pouco. Joga a culpa nos outros, mas não adota políticas efetivas — criticou.
A repressão violenta no Congresso Nacional, ocorrida durante protestos contra a chamada ‘Lei Ómnibus’, que concentra amplos poderes nas mãos do Executivo, também alimentou o mal-estar da sociedade. O episódio, amplamente repercutido nas redes sociais e na imprensa internacional, reforçou a percepção de autoritarismo no estilo de governar de Milei.
Correção
Além da crise social, o presidente enfrenta dificuldades na frente econômica. As negociações para um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) revelam fragilidades estruturais. O economista-chefe da Fundação FIEL, Daniel Artana, alertou que, mesmo com um novo desembolso do FMI, o governo não conseguirá sustentar indefinidamente o atual modelo cambial.
— A plata do Fundo não vai permitir manter o atraso cambial por tempo indeterminado. Em algum momento, será preciso corrigir isso. Com o acordo, será possível fazer de forma mais ordenada, mas a correção será inevitável — afirmou Artana.
O economista classificou a recente valorização do dólar no mercado paralelo como um ‘chispazo’ — um estopim — que pode se repetir, dada a fragilidade cambial.
— É natural que o Banco Central perca reservas no mercado oficial. Quando a diferença entre os câmbios se amplia, as pessoas tentam limitar perdas, o que gera um efeito em cadeia e amplia a pressão sobre as reservas e a necessidade de intervenção nos mercados alternativos — concluiu.