Rio de Janeiro, 13 de Abril de 2025

Milei tenta explicar participação em golpe com criptomoeda argentina

A suspeita de envolvimento de funcionários do governo federal, incluindo o próprio presidente, em supostas irregularidades na criação da $Libra, uma criptomoeda.

Terça, 18 de Fevereiro de 2025 às 13:53, por: CdB

A suspeita de envolvimento de funcionários do governo federal, incluindo o próprio presidente, em supostas irregularidades na criação da $Libra, uma criptomoeda.

Por Redação, com ABr – de Buenos Aires

Alvo de uma série de denúncias por ter promovido o lançamento de criptomoeda por uma empresa privada, o presidente da Argentina, Javier Milei, rompeu o silêncio na segunda-feira. Em meio à mais ruidosa crise de seus 14 meses à frente do Poder Executivo, o mandatário argentino concedeu, na segunda-feira à noite, uma entrevista ao canal TN (Todo Notícias).

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Presidente da Argentina, Javier Milei

Sabatinado pelo jornalista Jonatan Viale, Milei tentou minimizar o impacto do episódio que parte da imprensa argentina batizou como o “criptogate”, a suspeita de envolvimento de funcionários do governo federal, incluindo o próprio presidente, em supostas irregularidades na criação da $Libra, uma criptomoeda que, conforme Milei anunciou em seu perfil no X (antigo Twitter), ajudaria a financiar pequenas empresas e empreendimentos argentinos.

– Não tenho nada que ocultar, portanto posso falar tranquilamente – disse Milei no início da entrevista de pouco mais de uma hora de duração, na qual tentou explicar que não agiu de forma a promover a $Libra e o projeto Viva La Libertad, do qual o lançamento da criptomoeda faz parte. “Eu não a promovi. Eu a difundi”, afirmou Milei ao explicar o que o motivou a publicar, na noite da última sexta-feira, um texto no qual divulgava o projeto privado, associando-o ao crescente liberalismo da economia argentina.

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– Não tenho nada que ocultar. Não fiz nada de mal. Sou um superentusiasta da tecnologia. E diante da possibilidade de uma ferramenta para [supostamente] financiar projetos de empreendedores [argentinos], eu decidi difundi-la – argumentou Milei, reconhecendo que a repercussão que se seguiu a seu tuíte o levou a “correr”, apagando a postagem.

Valor do ativo digital

Tão logo o presidente argentino tornou público seu apoio à iniciativa, o valor do ativo digital disparou, valorizando-se exponencialmente. Os poucos detentores da criptomoeda começaram a vendê-la, com lucros altíssimos. Especialistas e oposicionistas a Milei começaram então a apontar o risco de fraude no empreendimento e, consequentemente, o valor da $Libra voltou a cair, com prejuízos para um número ainda incerto de investidores.

– São pessoas hiperespecializadas nesse tipo de instrumento. E que entraram nisso voluntariamente, sabendo muito bem o que estavam fazendo. São operadores de volatilidade que operam com o risco – afirmou Milei, minimizando o alcance do episódio. “É falsa a [informação de] que 44 mil pessoas tenham sido prejudicadas. Havia, entre elas, muitos robôs [bots] e, no melhor dos casos, se trata de nada mais que 5 mil pessoas. E, com isso, eu, seguramente, diria que a chance de haver argentinos entre eles é muito remota. A maioria [dos que perderam dinheiro com o investimento] é estadunidense e chinesa”, comentou o presidente argentino, classificando o ocorrido como “um problema entre privados [particulares]”.

– O Estado argentino não perdeu nada com isso […] E se alguém que conhece o risco vai a um cassino e perde dinheiro, não pode reclamar, pois sabia das características do jogo – comentou Milei, lembrando que, no último sábado, o governo anunciou duas medidas: que o Gabinete Anticorrupção da Presidência da República apure se algum membro do governo, incluindo o próprio Milei, agiu de forma imprópria, e a criação, no âmbito da própria presidência, de uma força-tarefa composta por representantes de vários órgãos e organizações para avaliar o projeto Viva La Libertad, a $Libra e todas as empresas ou pessoas envolvidas com a iniciativa.

– Agi de boa fé. Olhando agora para as repercussões políticas, admito que tenho algo a aprender [com o ocorrido]. […] Tenho que ter filtros […] Conversei com minha irmã [a secretária-geral da Presidência, Karina Milei] e concluímos que não podemos viver como antes, permitindo que todo mundo possa chegar até nós. Lamentavelmente, precisaremos levantar muros, buscar uma forma para que, quando as coisas [projetos] chegarem em mim [já tenham sido devidamente analisadas] […] Porque, por querer dar uma mão a alguns [empreendedores] argentinos, tomei como que um tapa na cara – finalizou o presidente, dizendo aguardar pelas conclusões da Justiça para saber se algum funcionário do governo obteve benefícios pessoais para promover a $Libra. 

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