"Quando a gente voltou aqui para Porto Velho, que veio a preocupação de fato. Fui no mercado com meu marido, a gente foi a pé, a gente não tem carro, tinha uma pessoa, um carro seguindo a gente, acompanhando a gente bem devagarzinho. Eu tive aquela impressão: “Acho que tem alguém seguindo a gente, será que é uma impressão minha?”, lembrou Suruí.
Por Redação - de São Paulo
Quando subiu no púlpito da Conferência do Clima de Glasgow, na Escócia, em outubro do ano passado, Txai Suruí já sabia de uma profecia feita por seu pai e seu avô, que enxergaram desde a infância que aquela jovem indígena exerceria um papel de liderança para seu povo e para a luta dos povos originários.
Ser uma “labiway esagah”, como são chamados os líderes da etnia Paiter Suruí, não só a levou ao protagonismo do principal espaço de debates sobre o clima no mundo, mas também a coordenar a entidade Kanindé, organização fundada em 1992 para dar assistência ao povo indígena Uru-eu-wau-wau de Rondônia.
— É uma grande responsabilidade, não só de estar representando a minha voz, mas a voz do meu povo, dos povos indígenas, a voz dos jovens. Mas também é uma alegria poder estar representando aquilo que eu acredito, poder estar defendendo os direitos do meu povo — explicou Txai Suruí.
Jovem ativista
Em entrevista ao site de notícias Brasil de Fato (BdF) a jovem ativista ambiental relata que tem recebido uma séria de mensagens de ódio nas redes sociais e ameaças da ultradireita.
— As pessoas acham que a internet é terra sem lei e às vezes parece mesmo. Eu não estava acostumada com essas coisas. Depois do discurso na COP, as minhas redes sociais cresceram bastante e também chegaram esses haters, várias mensagens de ódio, machistas, racistas. Eu confesso que em alguns dias isso me abalou um pouco, mas depois eu entendi que aquilo, nenhuma daquelas mensagens eram para contradizer o meu discurso — disse.
Mas, segundo Suruí, “essas pessoas estão me dando engajamento, estão fazendo as minhas redes crescerem ainda mais e, consequentemente, que mais pessoas me escutem”.
— E aí quando a gente voltou aqui para Porto Velho, que veio a preocupação de fato. Fui no mercado com meu marido, a gente foi a pé, a gente não tem carro, tinha uma pessoa, um carro seguindo a gente, acompanhando a gente bem devagarzinho. Eu tive aquela impressão: “Acho que tem alguém seguindo a gente, será que é uma impressão minha?”. Esse carro pegou, deu ré e foi para o outro lado da rua e continuou acompanhando a gente bem devagarzinho, tinha vidro fumê, então eu não conseguia ver quem era, mas foi claramente uma intimidação. Então aquilo sim, me assustou um pouco — concluiu.