Rio de Janeiro, 04 de Dezembro de 2024

Professora é vítima de intolerância religiosa por alunos de escola na Bahia

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Quinta, 28 de Novembro de 2024 às 13:28, por: CdB

O caso aconteceu na Escola Municipal Rural Boa União, em Camaçari; a polícia investiga a denúncia de lesão corporal e injúria.

Por Redação, com CartaCapital – de São Paulo

Um professora da rede municipal de Camaçari, a 50 quilômetros de Salvador, na Bahia, registrou um boletim de ocorrência e encaminhou uma denúncia ao Ministério Público após ser vítima de intolerância religiosa na escola em que trabalha.

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A situação se tornou insustentável depois que ela foi apedrejada pelos estudantes

Sueli Santana, que é adepta do candomblé, conta que, desde o início do ano vem sendo hostilizada por três estudantes novos, que ingressaram na Escola Municipal Rural Boa União, e são de uma mesma família de evangélicos.

O caso começou com agressões verbais, mas escalou ao ponto de a professora ser apedrejada pelos alunos.”Essas crianças se incomodaram ao me verem em uma sexta-feira com minhas vestes tradicionais do Candomblé. Eu sou professora da rede municipal, mas também sou makota do Terreiro de Lembarocy, em Salvador. Makota é um título candomblecista, e eu sempre assumi minha religiosidade. Vou de branco toda sexta-feira à escola e, quando estou em rituais, além de vestir branco, cubro minha cabeça”, relatou ao site Farol da Bahia.

Ainda de acordo com a professora, embora os pais dos estudantes tenham sido chamados algumas vezes pela direção da escola, as agressões verbais não cessaram, e ela seguiu sendo chamada de “bruxa”, “demônia”, “macumbeira”, “satanás” e “feiticeira”.

Ainda de acordo com o seu relato, a situação se tornou insustentável depois que ela foi apedrejada pelos estudantes, em outubro e novembro.

– Passei a sofrer não apenas agressões verbais, mas também físicas. Eu fui apedrejada por esses três alunos. Em vários momentos em que eu chegava na sala de aula, havia versículos bíblicos escritos no quadro e uma Bíblia sobre a minha mesa. Quando eu pedia para que o dono retirasse, essas meninas diziam que a Bíblia estava ali para que Jesus salvasse a minha alma – detalhou a professora.

No episódio mais recente de violência em sala de aula, a professora disse ter ouvido de uma das alunas autoras das agressões que ‘a única coisa que os negros trouxeram para o Brasil foi a macumba e a maconha’. Além das atitudes discriminatórias contra si, a docente também passou a ser questionada pelos familiares das alunas, bem como por outras famílias, pelo uso do livro ‘o ABC Afro Brasileiro’, em sala de aula.

A obra, da autora Carolina Cunha, apresenta a influência de diversas nações africanas na formação do povo brasileiro, como na culinária, na música, na relação com a natureza e na religiosidade. Sueli afirma que chegou a ser proibida pela secretaria de educação de trabalhar com a obra até que alguém da pasta fosse à escola conversar com os pais.

– Como se fosse necessário a lei ser autorizada, né – questionou a professora, em menção à Lei 10.639 de 2003, que determina o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas.

Secretaria municipal de educação de Camaçari

Em nota, a secretaria municipal de educação de Camaçari afirmou que, ao tomar conhecimento da denúncia, no último dia 21, procedeu com acolhimento à docente, inclusive realizando, no dia seguinte, um diálogo presencial com a educadora no gabinete da pasta, onde foi recepcionada pela secretária Neurilene Martins.

A pasta acrescentou que, paralelamente, instituiu uma sindicância para ouvir os demais envolvidos, a fim de buscar a completa compreensão da situação e, por conseguinte, tomar as providências cabíveis com responsabilidade e lisura.}

“A pasta reafirma seu compromisso com a valorização da diversidade e do respeito às diferenças, ressaltando as diversas ações pedagógicas pautadas na Educação Antirracista que foram implementadas na rede visando, justamente, combater a discriminação, seja relacionada a crenças, gênero ou cor”, registrou.

Já a Polícia Civil afirmou, em nota, que investiga o caso como lesão corporal e injúria via Delegacia Especial de Atendimento à Mulher. A corporação acrescentou que oitivas e diligências estão em andamento e são apuradas pela unidade especializada.

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