Só em 2018, mais de 50 policiais se mataram. Sob pressão, oficiais fazem campanha contra a deterioração das condições de trabalho.
Por Redação, com DW - de Paris
Maggy Biskupski é o último nome em uma lista de mais de 50 policiais que se mataram neste ano. Seu suicídio foi uma surpresa para muitos. A policial de 36 anos era exatamente um ícone na luta contra os suicídios na corporação.
Marcha em homenagem à policial francesa Maggy Biskupski
– Ela sempre foi alegre, nunca ficava sem palavras. Podia-se confiar 100% nela – disse seu colega e bom amigo Guillaume Lebeau em uma recente passeata em Paris. Na ocasião, centenas de pessoas se reuniram carregando rosas brancas, algumas vestindo camisetas com uma foto impressa de Biskupski.
– Perdi minha parceira, fiquei com um vazio. Maggy, nós sentimos sua falta, nós amamos você! – disse Lebeau em um discurso emocionado, enxugando as lágrimas. A plateia aplaudiu. Em seguida, foi tocada a Marselhesa, o hino nacional da França.
Lebeau e Biskupski eram inseparáveis. Ela até mandou uma mensagem para ele dizendo adeus. "Quando vi a mensagem, eu me recusei a acreditar. Pensei: Não, não a Maggy", relembra. Ele chegou a enviar uma ambulância para a casa dela, mas a ajuda veio tarde demais.
À agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW)estava em contato com Biskupski. Ela ia levar nossa equipe de câmeras para o subúrbio onde trabalhava. Porém, alguns dias antes do encontro marcado, ela tirou a própria vida. Por telefone, ela havia contado sobre suas difíceis condições de trabalho.
– É catastrófico. Subúrbios como este são áreas sem lei. Alguns dos habitantes odeiam a polícia e continuam nos atacando. Não podemos viver onde trabalhamos; seria muito perigoso para nós e nossa família – disse ela.
Depois do suicídio de Biskupski, Lebeau concordou em nos levar para aquele subúrbio - fez isso por ela. Ele havia dito "não" a todos os outros pedidos de jornalistas que recebeu após o episódio.
Juntos, eles fizeram campanha contra a deterioração das condições de trabalho da polícia. Lebeau acredita que isso foi uma das principais razões para o suicídio de Biskupski.
– Algumas de nossas viaturas têm centenas de milhares de quilômetros rodados. Em uma perseguição, não podemos acompanhar os carros rápidos. Além disso, nossos rádios muitas vezes não funcionam. É assim que temos que operar em áreas onde as pessoas atiram pedras e cospem na gente. Isso realmente nos desanima – explicou Lebeau enquanto dirigia pelo subúrbio.
Lebeau disse ainda que, devido à ameaça terrorista atual, os policiais dificilmente podem tirar uma folga.
Subúrbio
Naquele subúrbio, sair do carro com a câmera teria sido muito perigoso - mesmo de manhã, antes do tráfico de drogas começar. Lebeau contou que Biskupski achava que seus chefes tornavam o trabalho ainda mais difícil.
– Eles exigem resultados concretos. Maggy tinha que prender 30 pessoas por mês - não importava por quê. Nós dois sentíamos que ser policial era nossa vocação. Mas como que os dirigentes podem introduzir regras que fazem as pessoas nos odiarem ainda mais? – pergunta.
O governo, contudo, alega que os suicídios policiais não estão necessariamente ligados às condições de trabalho. Um pedido da DW para se juntar a uma patrulha policial com uma câmera para ter uma melhor ideia de tal ambiente de trabalho foi recusado.
A polícia, no entanto, aumentou o número de psicólogos para combater e prevenir os suicídios, de 50 para 89, voltados para o atendimento de 120 mil policiais.
Gerard Clerissi, chefe de recursos humanos da polícia, disse à DW que a proporção é melhor do que em outros países.
Ao mesmo tempo, negou que a polícia apresentasse problemas de ordem basal.
– É completamente normal dar metas concretas aos nossos policiais. Precisamos justificar nossas despesas com o dinheiro do contribuinte – argumentou.
Ele acrescentou que agora há menos pressão sobre a polícia e que a força policial será reforçada por mais 7,5 mil policiais nos próximos quatro anos.
No entanto, para Lebeau, tal resposta não é boa o suficiente.
Ele acha que a polícia precisa ser completamente reformada. "Se o governo tomasse conta do povo, não precisaríamos lutar por melhores condições de trabalho. E Maggy ainda estaria aqui", disse.
Lebeau pretende continuar a luta de Biskupski a fim de garantir que seu sacrifício não tenha sido em vão.