O empresário relata que ouviu de Flávio Bolsonaro informações quanto a um delegado federal, que não teve o nome citado na entrevista, antecipou a ele que o assessor, à época, na Assembleia Legislativa no Rio de Janeiro (Alerj) Fabrício Queiroz, amigo do hoje presidente Bolsonaro, seria alvo de uma operação da PF.
Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro
A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu à Polícia Federal (PF), nesta segunda-feira, que interrogue o empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), após ele afirmar que o parlamentar, filho primogênito do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), teve acesso a uma investigação sobre uma pessoa próxima ao então candidato à Presidência. Marinho garantiu a interlocutores que teria provas concretas para sustentar as denúncias.
O pedido para que Marinho, que revelou a informação em entrevista ao diário conservador paulistano Folha de S.Paulo, na véspera, seja ouvido no âmbito de um inquérito relatado pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi feito à PF por meio de um ofício da PGR.
O empresário relata que ouviu de Flávio Bolsonaro informações quanto a um delegado federal, que não teve o nome citado na entrevista, antecipou a ele que o assessor, à época, na Assembleia Legislativa no Rio de Janeiro (Alerj) Fabrício Queiroz, amigo do hoje presidente Bolsonaro, seria alvo de uma operação da PF.
Furna da Onça
Segundo relato de Marinho, o delegado que teria vazado a informação — e estaria lotado na Superintendência da PF, no Rio de Janeiro — tinha avisado ao primogênito sobre a operação envolvendo Fabrício Queiroz, entre o primeiro e segundo turnos da eleição presidencial de 2018.
A operação Furna da Onça, um dos desdobramentos da Lava Jato, no Rio, e que investiga um esquema de lavagem de dinheiro e desvio de verba de gabinetes da Alerj, foi deflagrada no dia 8 de novembro de 2018 e teve Queiroz como um dos principais alvos. Flávio Bolsonaro afirmou, em nota neste domingo, que as “estórias” relatadas por Marinho “não passam de invenção de alguém desesperado e sem votos”.
“Preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão. Trocou a família Bolsonaro por Doria e Witzel, parece ter sido tomado pela ambição. É fácil entender esse tipo de ataque ao lembrar que ele, Paulo Marinho, tem interesse em me prejudicar, já que seria meu substituto no Senado”, disse, fazendo referência aos governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e Wilson Witzel (PSC), que são adversários do presidente.
Decisão correta
“Ele sabe que jamais teria condições de ganhar nas urnas e tenta no tapetão. E por que somente agora inventa isso, às vésperas das eleições municipais em que ele se coloca como pré-candidato do PSDB à Prefeitura do Rio, e não à época em que ele diz terem acontecido os fatos, dois anos atrás?”, questionou.
A denúncia remete, diretamente, à suposta tentativa de interferência do presidente nos trabalhos da PF está no centro das acusações feitas pelo ex-ministro Moro a Bolsonaro, caso esse sob investigação em inquérito no Supremo.
Em nota, também no domingo, o desembargador Abel Gomes, relator da Furna da Onça no Tribunal Regional Federal da Segunda Região (TRF-II), disse que a operação foi deflagrada no momento “mais oportuno”, pois vários envolvidos buscavam a reeleição no pleito de 2018. Acrescentou que o adiamento foi uma decisão “correta” tomada em conjunto pela Justiça, Polícia Federal e Ministério Público Federal (MPF).
Vazamento
“A operação Furna da Onça não foi adiada, mas sim deflagrada no momento que se concluiu mais oportuno, conforme entendimento conjunto entre o MPF, a PF e o Judiciário”, afirma o desembargador.
“O fundamento foi que uma operação dirigida a ocupantes de cargos eletivos, deputados em vias de reeleição inclusive, como foi a Furna da Onça, não deveria ser deflagrada em período eleitoral, visto que poderia suscitar a ideia de uso político de uma situação que era exclusivamente jurídico-criminal”, acrescenta. Sobre as acusações de que a operação foi vazada para Flavio Bolsonaro, o desembargador defende na nota que essa alegação seja investigada.
Quanto à denúncia de Marinho, a PF afirmou, também em nota“Todas as notícias de eventual desvio de conduta devem ser apuradas e, nesse sentido, foi determinada, na data de hoje, a instauração de novo procedimento específico para a apuração dos fatos apontados”, disse a PF, em nota, após as acusações feitas por Marinho.
Proteção
Marinho alega ter sido ameaçado de morte ao longo das últimas horas, nas redes sociais, por milícias digitais do bolsonarismo e, nesta manhã, pediu proteção da Polícia Militar (PM) do Estado do Rio.
Ainda na tarde de domingo, após divulgadas as denúncias, grupos bolsonaristas dispararam ataques ao ex-colaborador da campanha do presidente. Alguns, em linguagem cifrada, deixavam a entender que ele a partir de agora correria sérios riscos.
Como presidente do PSDB do Rio, Marinho enviou carta ao governador Wilson Witzel solicitando proteção. Uma viatura da PM encontrava-se estacionada, nesta tarde, em frente à residência do empresário, no Jardim Botânico.