Os números indicam que a queda ocorreu em todo o país. Até no Nordeste — reduto petista — houve um aumento na desaprovação de 37% para 46%. A rejeição subiu também entre os jovens, mulheres e eleitores de baixa renda, em 64%.
Por Redação – de Brasília
O cerco sofisticado que a mídia conservadora e o Parlamento dominado pelas forças neofascistas vêm promovendo contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde a posse, há mais de dois anos, explica o grau de dificuldade para a retomada os níveis de aprovação pessoal do líder petista.

A última edição da pesquisa realizada pela Genial/Quaest presume que a desaprovação ao governo Lula aumentou sete pontos, no patamar inédito de 56%. A aprovação caiu para 41%, um aumento de 13 pontos percentuais (pp) negativos, desde julho do ano passado. Trata-se da quarta queda seguida para o prestígio do presidente.
Os números indicam que a queda ocorreu em todo o país. Até no Nordeste — reduto petista — houve um aumento na desaprovação de 37% para 46%. A rejeição subiu também entre os jovens, mulheres e eleitores de baixa renda, em 64%.
Campanha
Entre as razões para tamanha rejeição, a pesquisa aponta o desgaste com o cenário econômico e o sentimento de decepção com o retorno de Lula ao Planalto. Para 71% dos pesquisados, o presidente não tem conseguido cumprir suas promessas de campanha.
O aumento no custo de vida também pesa na opinião dos eleitores. O estudo revela que 88 % dos entrevistados sentiram no bolso o aumento no preço dos alimentos, 65% sublinharam a alta nas contas de água e luz; 70% o aumento dos combustíveis e 81% disseram conseguir comprar menos com o dinheiro que têm atualmente do que há um ano.
A consulta deixa clara a queda continuada das taxas de aprovação ao governo. Uma pesquisa do mesmo instituto, no entanto, divulgada na véspera, diz que Lula ganharia de todos os demais candidatos na próxima eleição.
Imposto
Uma análise mais detalhada, em artigo publicado nesta sexta-feira pelo ex-deputado Aldo Arantes (PCdoB-SP), coordenador nacional da Associação de Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania (ADJC), no site de notícias ‘Vermelho’, considera de pronto o fato de que uma das causas da queda na popularidade de Lula reside no aumento de preços.
Todavia, o governo tem adotado medidas para combater essa alta. Zerou o imposto de importação de itens como carne, café, açúcar, milho, azeite de oliva e sardinha; o Plano Safra terá como foco a cesta básica e os financiamentos do programa de estímulo à agricultura devem priorizar a produção de itens que compõem a cesta básica, com mais impulso a produtores rurais que abastecem o mercado interno.
Se é verdade que tem havido um aumento no custo de vida, é verdade também que o PIB cresceu duas vezes mais do que a média registrada entre 2019 e 2022, indo para 3,2% em 2023 e 3,4% em 2024. E no ano passado, o Brasil registrou a menor taxa de desemprego nos últimos 12 anos, 6,6%. Desde 2023, mais de 3,2 milhões de empregos formais foram gerados.
Comunicação
O salário mínimo voltou a ter crescimento acima da inflação. O programa ‘Pé-de-Meia’, criado para garantir a permanência de estudantes de ensino médio em sala de aula, chega a 4 milhões de jovens. O Novo PAC prevê mais de 20 mil obras e ações com investimentos que superam R$ 1,8 trilhão.
O governo isentou do Imposto de Renda 10 milhões de pessoas com renda até dois salários mínimos. E foi enviado ao Congresso um projeto para isentar os que ganham até R$ 5 mil a partir de 2026; além de uma série de outras medidas.
Tais fatos, no entanto, simplesmente não repercutem entre os entrevistados da pesquisa. Nesse ponto, pesa a influência da força da ideológica da ultradireita junto a milhões de brasileiros, trabalhada com esmero nos diversos meios conservadores de comunicação. Tanto assim é que, entre os pesquisados, 43% manifestaram a opinião de que o governo Bolsonaro foi melhor do que o governo Lula e 39% achavam que o governo Lula é melhor.
Fator midiático
Outro ponto decisivo é exatamente a aliança entre a mídia conservadora e as redes sociais da extrema direita no combate a Lula, particularmente em relação à política econômica. “É a união dos defensores da política neoliberal que negam os direitos sociais e absolutizam a questão inflacionária, ao menosprezar o desenvolvimento do país”, escreve Arantes. Na análise do articulista, fica evidente que isso impacta na opinião pública.
A pesquisa também destaca as dificuldades do governo Lula de colocar o seu projeto em prática. E é nesse momento que entra na equação o conservadorismo extremado, no Congresso. Líder bolsonarista, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), em um recente encontro com investidores, destacou o papel atual do Legislativo como fator de contenção do governo até 2026. Tanto a Câmara quanto o Senado funcionam como um freio de mão, para atrasar ao máximo os avanços propostos pelo Planalto. Um evidente boicote ao governo e seu projeto de desenvolvimento do país.
O ‘tarifaço’ imposto na véspera a todos os países com os quais os EUA têm negócios, no entanto, altera a realidade no Congresso com a união do governo e oposição para aprovar medidas de resposta à política do governo norte-americano. E Bolsonaro, ao manifestar apoio à política norte-americana, colocado-se contra os interesses do país, expõe a verdadeira face de seus interesses, entre os quais a Pátria fica em segundo plano.
Cultura
“Tenho lido e ouvido opiniões segundo as quais a causa principal da queda nas pesquisas diz respeito à comunicação. Penso que é muito mais do que isso”, acrescenta Arantes. Há, segundo o ex-parlamentar, uma série de razões para explicar o que ocorre, “entre elas o abandono do processo de politização da sociedade, o crescimento do neofascismo e a subestimação da luta de ideias. A extrema direita ‘politizou’ com ideias negacionistas de ódio e violência, formando uma corrente neofascista. Valorizou as redes sociais e investiu pesadamente na luta de ideias”.
“Tenho a opinião de que a questão mais importante para explicar a queda na aprovação do governo Lula diz respeito à guerra cultural. Ela conquistou as mentes das pessoas para uma visão de mundo reacionária e negacionista, que manipula a fé dos fiéis. Através da guerra cultural, a extrema direita, usando os algoritmos, conseguiu fidelizar milhões de pessoas. Essa situação se torna mais grave com eleição de Trump e o papel exercido por Elon Musk. Esse declarou que as eleições mais importantes do mundo, em 2026, serão as presidenciais do Brasil e que ele tudo fará para derrotar Lula”, acrescentou.
Hegemonia
No tempo que resta, até as urnas em 2026, na análise de Arantes, cabe ao governo, aos partidos políticos e aos movimentos sociais desenvolverem uma intensa luta ideológica democrática em torno de um programa que, com base nos fatos, demonstre o negacionismo da extrema direita e suas mentiras, visando reconquistar a hegemonia das ideias democráticas e progressistas na sociedade.
“Além disso, é necessário o governo dar respostas mais audaciosas como a cobrança de impostos aos mais ricos, a criação de uma alternativa de redução das horas de trabalho, entre outras medidas. Outra questão importante, que envolve os partidos políticos e os movimentos sociais, é a necessidade da retomada do trabalho de base, nas periferias, nas fábricas e nas escolas. Há uma série de razões que explicam esse distanciamento. Não cabe aqui analisar essas causas, mas constatar o problema e adotar providências”, observa.
“A vitória nas próximas eleições é decisiva para assegurar o aprofundamento do processo de democratização da sociedade brasileira e derrotar o neofascismo”, conclui.