Horas após a transmissão, o TSE divulgou resposta para esclarecer que o acesso indevido aos sistemas da Corte não representou qualquer risco à integridade das eleições de 2018. Isso porque, explicou o Tribunal, o código-fonte dos programas utilizados passa por sucessivas verificações e testes.
Por Redação - de Brasília
O presidente Jair Bolsonaro foi intimado pela Polícia Federal, na manhã desta terça-feira, a prestar depoimento no inquérito sobre o vazamento de dados de uma investigação sobre um ataque hacker aos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2018. Bolsonaro utilizou o conteúdo do inquérito em uma entrevista em 4 de agosto para atacar, sem provas, a segurança das urnas eletrônicas e do sistema eleitoral brasileiro.
A apuração foi solicitada pelo TSE ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que entendeu que o caso se relacionava com o inquérito das fake news (notícias falsas, em inglês) e determinou investigação. Após ouvir o delegado responsável pelo inquérito, afastado por decisão de Moraes, e o deputado Filipe Barros (PSL-PR), que teve acesso ao material, a delegada Denisse Ribeiro decidiu intimar o presidente a prestar depoimento.
As informações da apuração teriam sido distorcidas pelo mandatário e o deputado aliado, sendo tratadas como definitivas, mesmo sem a conclusão do inquérito pela polícia. Em seguida, Bolsonaro publicou em rede social a íntegra do inquérito, que até então estava protegido pela Justiça.
'Useiro e vezeiro'
Horas após a transmissão, o TSE divulgou resposta para esclarecer que o acesso indevido aos sistemas da Corte não representou qualquer risco à integridade das eleições de 2018. Isso porque, explicou o Tribunal, o código-fonte dos programas utilizados passa por sucessivas verificações e testes, aptos a identificar qualquer alteração ou manipulação e que nada de anormal ocorreu.
Trata-se da segunda vez que Bolsonaro é chamado pela PF, o que torna o presidente useiro e vezeiro de tal expediente. A primeira foi no inquérito que apura a suspeita de interferência no órgão, acusação feita pelo ex-ministro Sergio Moro. Além da responsabilidade pela divulgação dos documentos, a PF apura como o deputado soube da existência do caso sigiloso em andamento na superintendência do Distrito Federal.
Em depoimento à PF, Barros afirmou que soube da apuração por meio de uma denúncia que chegou à comissão do voto impresso, cujo projeto debatido era relatado pelo parlamentar. O deputado também disse que a investigação divulgada por ele e por Bolsonaro não estava sob sigilo.
Tensão
A entrevista em que Bolsonaro e Barros divulgaram as informações sigilosas ocorreu cinco dias depois da live de 29 de julho em que ele havia levantado suspeitas sobre a segurança das urnas. Assim como a transmissão ao vivo, a entrevista entrou na mira do TSE, que pediu a abertura de inquérito a Moraes e deu início a um dos momentos mais tensos da relação entre o Palácio do Planalto e o STF.
A tensão teve como auge a manifestação de 7 de setembro em que Bolsonaro atacou diretamente Moraes. Dias depois, o ex-presidente Michel Temer intermediou uma conversa entre Moraes e o presidente e as coisas ficaram mais calmas a partir dali.
A trégua se mantinha até agora, mas nas últimas semanas Bolsonaro voltou a fazer críticas ao STF, em um claro sinal de mobilização para seus seguidores mais radicais.