“Demarcações e divisões entre partidos de oposição a (Jair) Bolsonaro (PSL) de nada servem ao Brasil”, afirmou Manuela D’Ávila.
Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro
O apoio à candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à reeleição, na Câmara dos Deputados, tem gerado uma avalanche de opiniões nas redes sociais, com reações das mais diversas. Fustigado por uma derrota nas urnas, em outubro do ano passado, nas eleições presidenciais, o conjunto de partidos de esquerda, até agora, não se coordenou.
Divididos entre permanecer, ou não, ao lado do Partido dos Trabalhadores (PT), as demais siglas se fragmentaram no apoio à continuidade de Maia no posto e na formação da resistência ao governo de extrema direita, ora instalado. Candidata a vice-presidente na chapa do petista Fernando Haddad (PT), derrotada no segundo turno, a ex-deputada comunista Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) critica a falta de unidade no campo progressista.
“Como todos sabem, defendo desde antes da eleição a unidade de todo nosso campo político, razão que resultou, inclusive, na retirada de minha pré-candidatura à Presidência da República. Para mim, demarcações e divisões entre partidos de oposição a (Jair) Bolsonaro (PSL) de nada servem ao Brasil e às duras batalhas que teremos pela frente. Não estamos numa batalha contra ou a favor de nenhum partido de esquerda, mas em defesa da permanência da democracia”, afirmou D’Ávila, em nota divulgada nesta quarta-feira
Espaço institucional
Uma das principais líderes nacionais do PCdoB e única deputada federal da legenda, eleita no Estado do Rio, a médica Jandira Feghali está entre os parlamentares que defendem o apoio à candidatura de Rodrigo Maia. Em nota, distribuída nesta tarde, Feghali afirma que, “na democracia, o debate é salutar é bem vindo, mas é fundamental sempre considerar quem está do outro lado da polêmica”.
“O PCdoB tem muita história de luta por direitos do povo e, principalmente, por democracia e liberdade. É neste cenário de crescimento da extrema direita, de risco a estes pilares da cidadania que se insere a discussão da Presidência da Câmara. A esquerda não tem a menor chance de ganhar a eleição neste espaço institucional, na atual correlação de forças”, afirmou.
Ainda na nota, a deputada concorda que “sequer existe polarização entre uma candidatura de esquerda X outras. Respeitar a democracia interna, impedir a asfixia regimental e garantir instrumentos institucionais para fortalecer a resistência e a luta, é o que está em jogo nesta disputa”.
Guimarães Rosa
“Olhando as alternativas postas e viáveis, O PCdoB, não aceitará fazer bloco parlamentar com o PSL. Vai buscar juntar os partidos do nosso campo para atuação política e ocupação de espaços. Entendeu que o atual presidente da Câmara, que hoje mantém bom diálogo com a esquerda, e forte candidato à reeleição, pode ser a opção para preservar a ação parlamentar ampla e plural”, acrescentou.
Feghali complementa ao afirmar que “isto nada tem a ver com as posições programáticas do partido que serão agudas e fortes na luta, no Congresso, nas redes e nas ruas”. Ela seguiu na linha do deputado paulista Orlando Silva, um dos líderes da legenda, que iniciou um artigo, publicado na véspera Ele afirma ser “preciso ouvir Guimarães Rosa”.
“As eleições para as mesas da Câmara e do Senado sempre ensejam muita intriga política, disputas por protagonismo e por objetivos das forças políticas que compõem o Parlamento, sejam elas governistas ou de oposição. Muitas vezes, para galvanizar prestígio na opinião pública ‘engajada’ e deslegitimar movimentos de outras forças, argumentos enviesados são apresentados, como se as eleições internas do parlamento seguissem as mesmas regras ou fossem um terceiro turno das eleições gerais”, afirma Silva.
Relatorias
Segundo o deputado do PCdoB paulista, “a verdade, no entanto, é que são eleições em quase tudo distintas. Nas eleições gerais são debatidos – ou ao menos deveriam ser – projetos para o país, objetivos a perseguir na economia, em políticas públicas para as diversas áreas, como saúde e educação, que, ao fim, são submetidos a escolha popular através do voto em candidatos que sustentem tais programas.
“No caso das eleições para o comando das casas legislativas, os debates giram entorno da reafirmação da autonomia do poder e não submissão ao Executivo, dos compromissos com a manutenção da democracia interna da Casa, do respeito ao regimento e à proporcionalidade para distribuição dos espaços na mesa diretora, em comissões, relatorias”, pondera.
Silva afirma, ainda, que “a ação dos comunistas no Parlamento sempre esteve acompanhada de polêmica. É natural, trata-se de uma instituição que ganhou formas mais precisas com a democracia liberal e se constituiu em mecanismo funcional para o domínio institucional das classes dominantes. Por outro lado, pode ser uma caixa de ressonância das demandas dos trabalhadores e, a depender da correlação de forças, até um espaço de conquistas para o povo”.
Extravagante
“Guimarães Rosa já nos ensinou que “o sapo não pula por boniteza, mas por precisão”. É o caso. Rodrigo Maia, nas atuais condições políticas, é o nome que reúne melhores condições para presidir a Câmara dos Deputados e garantir o seu funcionamento democrático e autonomia diante dos outros poderes. O PCdoB indicou sua posição. E busca construir com PSB e PDT um caminho comum”, afirma Orlando Silva.
Embora seja decisão tomada, a aliança com Maia não foi totalmente digerida junto a outros setores da legenda. Em artigo publicado antes mesmo que a decisão de votar em Maia para que permaneça na condução de parcela do Legislativo, o jornalista José Reinaldo Carvalho, editor de Resistência e membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB, chamou o acordo de “extravagante”.
“O combinado não sai caro, diz a sabedoria popular. Quando se iniciaram as movimentações e conversas, lá pelo fim do ano, sobre a conduta da esquerda acerca da eleição para a mesa da Câmara dos Deputados, uma condição foi proposta e tacitamente aceita: a candidatura a ser apoiada, independentemente da legenda a que pertença, não pode estar alinhada com o governo Bolsonaro”, afirma Carvalho.
Esdrúxulo
Ainda segundo o articulista, “agora, desfazendo o trato e desconhecendo que Maia está com Bolsonaro e Bolsonaro com Maia, aparecem entre setores progressistas defendendo ardorosamente a candidatura à reeleição do atual presidente da Câmara. Em nome de quê?”, questiona.
“Será extravagante a formação de um bloco de forças que tenha por vértice no parlamento um presidente da Câmara comprometido com a estabilidade e o êxito do governo de extrema-direita. Os autores e atores de tal enredo sabem que o deputado pelo DEM fluminense é um defensor de primeira hora da agenda entreguista e antipopular do governo recém-empossado e já foi ungido como candidato do partido chefiado por Bolsonaro”, acrescenta.
“Para além de extravagante, a aliança da esquerda com Maia se baseia em falsos pressupostos e argumentos esdrúxulos”, conclui.